domingo, 16 de dezembro de 2018

Dez dias de vida nova

Hoje completamos dez dias de vida nova para todos da família: eu, mãe de dois, marido, pai de dois, Arthur irmão mais velho e Gael vivendo nesse mundão louco.
O coto umbilical do Gael caiu com 6 dias de vida (dia 11/12, portanto) e aqui eles mandam dar banho só depois que o coto cai. Demos banho hoje. Gael já tinha tomado uma esfregada no hospital, e hoje demos um banho caseiro. Ele detestou, chorou e brigou, mas depois ficou beeeem calminho e dormiu no colo do pai.
Hoje também tentamos dar uma volta aqui perto. Íamos tomar um café na esquina de casa porque está "calor" (5 graus Celsius). Agasalhei o pequeno, coloquei ele no ergo e fomos. Fomos até a esquina com Gael chorando e lá descobrimos que o café na tinha fechado. Eu voltei para casa e marido e Arthur seguiram até outro café mais adiante.
Nesses dez dias precisei reaprender um monte de coisas, porque já tinha esquecido desde o nascimento do Arthur, e também vi meu amor crescer vertiginosamente! Meu baby blues dessa vez foi quase inexistente, três dias de choro, cinco dias de ultra ansiedade e pronto. Também achei a transição geral mais suave. Com Arthur eu tomei um coice, caí no meio de um furacão e levei uns meses (um ano, talvez) para me levantar e lamber as feridas. Dessa vez, tomei a porrada do parto, mas saí caminhando depois de uns dias. Sei que é cedo ainda, muita água vai rolar debaixo dessa ponte, mas só de ter, até agora, conseguido dormir mais horas do que vinha dormindo no fim da gestação já é uma vitória sem tamanho.
Espero que o primeiro mês se feche leve e ocupado, como tem sido viver a 4 nos últimos dez dias.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Já deu ruim

É, pessoal, a zica da amamentação está de volta.
Começou tudo ok, dor, ferida, mas a consultora de amamentação do hospital e a enfermeira da ala da maternidade deram nota dez para a pega. Me animei e tal.
Cheguei em casa e consegui amamentar deitada, dormir com Gael no peito, estava um luxo só!
Aí, ontem (12/12), por volta de seis da tarde comecei a sentir uma puta dor de cabeça. Tomei remédio, vida que segue. A dor foi aumentando, foi ganhando como companheiras dor num quadrante do peito, dor pelo corpo como se um caminhão cegonha tivesse passado por cima de mim e ela, a estrela da noite, a febre de 38/38,5 graus.
Mastite de novo.
Agora são 4 da manhã e estou esperando a farmácia abrir para pegar o antibiótico. Na minha cidade maravilhosa não tem uma porcaria de farmácia 24h perto de mim.

Enfim, vamos que vamos, já que não tem outro jeito, né ?

domingo, 9 de dezembro de 2018

Nasceu!

E no dia 5/12, às 12h02, pari meu segundo filho, Gael.
Ele nasceu com incríveis 3,820kg e 54,5cm em um parto hospitalar natural intenso e bastante dolorido.
Já estamos em casa, passamos muito bem e estamos vivendo as alegrias e angústias do puerpério. Pelo menos dessa vez estou tendo menos problemas com a amamentação. Lá se vão três dias e até agora ainda tenho o mamilo completo, com duas feridas enormes, é verdade, mas o bebê ainda não arrancou nenhum pedaço.
Que tudo siga assim.
Aos poucos venho contar do parto e da interação entre irmãos. Por enquanto, porém, vou chorar, colocar compressa gelada nas peitas e babar nas minhas crias.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Susto na reta final

Reta final que se preze precisa ter um sustinho, né?  Bom, o meu só poderia ter acontecido aqui, nesta terra gelada e longínqua do Norte.
Eu estava na minha milésima consulta pré Natal, porque, como vocês sabem, eu sou um elefante que sabe escrever, então minha segunda gestação, é óbvio, está durando mais que 40 semanas de novo. Bom, eu estava na consulta — que agora já acontece DUAS vezes na semana! — e comecei a me sentir mal. Eu tô com uma coisa super legal: hipoglicemia de rebote. É ótimo comer algo, o açúcar subir e logo depois despencar, deixando você miserável e hipoglicêmica. Delícia! Então, eu fiz um exame na clínica, e para o bebê colaborar precisei comer um chocolate. Glicose subiu, glicose desceu, e na hora de ir embora eu já estava zoada nível 5 da dança do créu. Pedi um carro pelo aplicativo e, quando entrei, o motorista que puxar papo, disse que tinha vindo de sei lá onde, que estava começando a pegar passageiros naquela hora. Eu vendo tudo rodar, pensando se precisaria ou não ligar para marido, não consegui interagir muito bem com o moço tão simpático. Nem com nada. Eu estava concentrada na minha mazela, usando a última energia do meu corpo para avaliar se eu desmaiaria, vomitaria ou apenas ficaria me sentindo à beira de um ataque até chegar em casa. Enchi a boca de bala (não façam isso em casa, crianças) porque pelo menos assim eu conseguiria subir meu açúcar até chegar em casa, e respirei fundo.
De repente, uma sensação morna começou a se espalhar pelo banco onde eu estava sentada. Meu deus! Minha bolsa estourou! Justo agora, comigo hipoglicêmica? No carro do homem?! Porra, Murphy, valeu, hein?!
Devagar, coloquei a mão no banco para avaliar o estrago e... Surpresa! Era só o aquecedor de bunda do carro! Como o rapaz tinha acabado de começar, quando eu entrei no carro o aquecedor ainda não estava ligado. Eu, zoada, não notei o frio. Aliás, não notei nada!
Respirei fundo outra vez e consegui chegar em casa. Bolsa intacta. E, pelo visto, eternamente grávida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A sofrência da reta final

(Chutei o balde da cronologia dos posts.)

Esta gravidez não está sendo de fritar bolinho.
Se por um lado não tenho problemas graves, felizmente, por outro, os desconfortos gravídicos me abalaram bastante.
Acho tem muito a ver com o fato de estaremos em um país estrangeiro, sozinhos, e também com a situação calamitosa do mundo como um todo — muita gente pesada e medíocre ganhando destaque por aí, valores distorcidos, falta de empatia e amor ao próximo, essas coisas.
Estamos aqui em tempo real com 35+4 e anteontem foi um dos dias mais difíceis desta gravidez.
Passei a madrugada de terça para quarta com muita, muita, muita falta de ar! Nenhuma posição trazia conforto ou alívio. Tentei andar, tentei sentar, deitar, ficar reclinada, empilhar travesseiros e deitar só a cabeça... Nada! Não dormi. E tive uma crise de ansiedade por conta disso, porque achei que estivesse morrendo, que meu coração estivesse entrando em colapso, que meu corpo fosse sucumbir ao desgaste que é crescer, nutrir e gerar uma criança a partir de duas míseras células. Quase fui ao hospital. Passei muito mal mesmo! E, por isso, é óbvio, quarta-feira não foi um dia fácil para mim também. Passei o tempo todo ofegante, sentindo que o ar não chegava, com tonturas e, no fim do dia, tive uma crise de hipoglicemia porque não sinto fome, já que meu estômago praticamente inexiste (minha altura uterina mandou beijo para todos e já não existe mais na medida média da tabela, só na medida máxima da semana 42), e quando como tenho azia e muito incômodo com o esvaziamento gástrico tão devagar.
Aí, bateu um pânico horrível. Junto com o medo de morrer, de ter algo errado comigo, veio o medo de ficar nesse estado de miserabilidade até 41 semanas, como foi com Arthur!  Imaginei passar mais seis semanas sem comer e sem dormir, ansiosa, com medo, me sentindo mal, sem sair da cama, e mesmo assim exausta e esgotada.
Aí, ontem (quinta), bebê 2 encaixou. Liberou espaço. Chegaram minhas vitaminas com ferro. E hoje tive um dia cheio de cólicas, dores perto do osso púbico, peso e desconforto ao sul do Equador, mas muito menos falta de ar. Espero que este menino continue assim, encaixado, me dando espaço, me ajudando a ter ânimo para chegar aonde quer que ele queira chegar.
Até lá, sigo respirando, tentando encontrar espaços numa vida que está pesada e cheia de demandas externas e angústias internas, sigo fazendo duas terapias por semana (uma individual e outra individual), sigo também com acompanhamento de cardiologista e consultas semanais com as midwives. Só espero que bebê 2 venha um pouco antes de 41 semanas, porque está cansativo demais, e eu estou pronta para nunca mais ser uma grávida.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

33 corpinho de 38

Peço licença para interromper a sequência cronológica que vinha seguindo até então para escrever este post no meio da madrugada deste frio outubro.
Estou rolando na cama há mais de duas horas, tentando encontrar uma posição confortável para: meu bebê, minha cabeça, minha azia, meu refluxo e minha barriga de 33 semanas, mas que está do tamanho padrão de uma barriga de 38. Sim, você não leu errado: minha altura uterina corresponde à altura uterina média (percentil 50) de alguém que está grávida de 38 semanas.
A midwife não me pareceu preocupada ou assustada com essa medida, mas acho que tem a ver com o fato de que este bebê não vai sair pela vagina dela.
Ela disse que o bebê não está gigante, então voltei para casa me perguntando o que seria um bebê gigante para ela. Cinco quilos? Cinco e meio?
Acabei fazendo uma terceira ultra na última consulta. O motivo foi absolutamente fútil. Na ultra morfológica, aquela que fiz lá longe, em Chicago, a técnica e o médico disseram que meu bebê era um menino, me deram quatro fotos e tchau, beijo.
Quando mudei de clínica, eles pediram meus exames prévios, inclusive a ultra, e fui rever as fotos que ganhei, por mera curiosidade.
Bem, nas fotos não vi a obviedade masculina que relatei aqui há algumas semanas. E como minha memória anda ótima, não me lembrava de ter visto durante o exame as partes íntimas de um menino.
Postei a foto que tinha aqui em um fórum de mães, achando que iria receber respostas como "miga, sua louca, tá na cara que é um menino! Olha aqui...", mas o tópico foi super polêmico e metade das mães juravam que era um menino, metade, que era uma menina. Fiquei na dúvida.
Aí, na última consulta pedi para a enfermeira dar uma olhada na morfológica, só por precaução, e então ela sugeriu que eu fizesse uma nova ultra. Acabei aceitando e foi ótimo: confirmei que é mesmo e sem dúvida alguma um menino e vi os cabelinhos flutuando (❤), o que explica essa azia louca que venho sentindo.
O bebê está mesmo grande, mas a médica que fez a ultra também não ficou preocupada com isso. Novamente, acho que tem a ver com a vagina em vias de parir não ser a dela.
Enfim, agora estou aqui, duas e meia da manhã, caindo de sono, escrevendo um texto meio desconexo, rolando de um lado para o outro em busca de uma posição que me permita dormir, respirar, não morrer de azia e acomodar a barriga ao mesmo tempo.
Enquanto não acho este lugar, vou pensando coisas desconexas, inclusive este post, que serve de desabafo e de registro ao mesmo tempo.
Queria conseguir dormir sentada. 😔

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

26 semanas


E mais uma vez falhei retumbantemente em registrar mais amiúde esta minha última gestação. Mas eu me perdoo, pois a vida durante as férias escolares foram intensas e com rotina pesada.
Em junho minha mãe chegou por essas bandas e marido viajou por um mês. Se por um lado eu tinha ajuda, por outro também queria que minha mãe aproveitasse a viagem e conhecesse lugares bacanas. Fiz alguns passeios legais com ela e acabei tendo um tempo curto para muitas outras coisas.
Quando marido voltou de viagem, precisamos resolver diversas burocracias e nos preparar para a vida MUITO louca que nos aguarda até o fim deste ano: muitas metas, muitas obrigações, muitas coisas a serem resolvidas e que precisam de cuidado intenso e imediato. Arrisco dizer que estamos numa daquelas encruzilhadas que definem os anos vindouros, e se falharmos agora, muitos arrependimentos podem surgir em nossas vidas.
Mas e a gravidez de 26 semanas, Ártemis? Foco!
Ah, é. Tô assim meio avoada de novo. Os hormônios me fazem esquecer detalhes e coisas pouco importantes (só duas vezes esqueci coisas realmente importantes, mas faz parte, né?).
Os enjoos persistem. Agora mais suaves e concentrados à noite, sobretudo se como doces. Já não tomo remédios tem um bom tempo (desde a semana 20, por aí) e sigo engordando bem.
Pressão ok, glicose ok (86, medida ótima) – fiz pela primeira vez aquele teste com a bebida que parece um Sprite sem gás e foi tudo bem. Morria de medo porque a galera fala que vomita, que tem queda de pressão, que é uma experiência traumática. Bem, eu fui pronta para o apocalipse zumbi e saí de lá normal, até sem fome. Hehehe
Por falar em fome, parece que tem um buraco no meu estômago! Como muitas vezes, muitas coisas. Às vezes preciso comer várias porções porque dá azia, refluxo e mal estar, mas o apetite sempre existe. Algumas vezes eu cheguei a ir de madrugada assaltar a geladeira porque não dava para aguentar esperar o dia chegar para comer alguma coisa.
Minha barriga está ENORME. Hoje o pai de um amiguinho do Arthur perguntou para quando era o bebê e levou um susto quando disse a data prevista. Ela achou que ia nascer em poucas semanas. Eu também estou muito espantada com essa pança gigante, e na última consulta (a do teste de glicose) perguntei na cara de pau se a enfermeira tinha certeza absoluta de que era só um bebê mesmo. Ela disse que sim, que depois de ter feito a morfológica ela garantia que era só um mesmo. Mas sigo desconfiada. Este bebê, que é outro menino, como eu já vinha desconfiando, se mexe muitíssimo! O tempo todo e é comum sentir o movimento em dois, três lugares diferentes. Não registrei isso com Arthur, mas não tenho a memória de isso ter acontecido com ele. Minha lembrança é de muitos movimentos lentos, suaves, como se Arthur passasse o dia todo se espreguiçando ou soluçando na minha barriga. Este bebê também soluça bastante, mas ele se estica, enfia pezinho ou cotovelo numa parte da minha barriga que me faz ver estrelinhas e que provoca contrações de BH, o que acaba gerando mais dor e incômodo, porque a barriga contrai, o bebê cutuca e eu sinto como se tivesse enfiado a barriga numa quina bem pontuda. Por falar em cutucadas, outra diferença significativa desta para a gravidez do Arthur deve-se ao fato de que este segundo filho chuta/aperta/cutuca minha bexiga e meu intestino. Arthur não fazia isso com certeza! As sensações de chutes lá na bexiga são inteiramente novas e surpreendentes para mim. Aliás, a bexiga, nesta gravidez, tem sido bastante comprimida, e eu levanto de madrugada para fazer xixi, uma coisa que não me lembro de ter acontecido no segundo trimestre com Arthur.
Por falar em Arthur, ele tem sido muito carinhoso com o bebê (aka minha barriga), mas tem se mostrado bastante sensível a respeito da chegada do irmão. O comportamento varia de agressivo a dependente e ele tem direcionado a raiva que sente por perder o posto de filho único principalmente a mim. Melhoramos muito com a retirada da TV (assunto para outro post, prometo), mas ainda estamos trilhando um caminho de muita paciência e meditação da minha parte, e muito aprendizado da parte dele. Comprei também uns livros bacanas para este momento, porque acredito demais no poder da literatura para trabalhar emoções represadas (assunto para outro post também. Vamos listando!).
Sobre o atendimento à gestante aqui nos EUA, tenho umas observações.
Por conta de burocracias e comodidade (a clínica fica a 5 minutos da minha casa, bem ou mal eu já conheço a equipe), acabei me consultando até agora no mesmo lugar onde comecei o pré-natal, mesmo sabendo que trocaria de equipe em breve.
A minha última consulta, com 24+4, foi melhor em termos de conversa com a enfermeira. Eu levei uma lista de queixas e perguntas e ela foi atenciosa, respondeu a tudo e até mesmo pediu exames específicos para investigar melhor duas queixas (cansaço – que poderia ser anemia, mas felizmente não é – e queda de cabelo – que poderia ser devido a um problema na tireoide, o que, de novo, felizmente não é). Apesar de ser considerada uma grávida idosa (palavras do meu prontuário médico!), tenho me mostrado uma grávida bastante saudável, sem qualquer intercorrência séria. Os enjoos estão chatos, é verdade, e no começo foram até desesperadores, mas eles não afetaram minha saúde e, pelo que temos acompanhado nas duas US que fiz e nas auscutas que fazemos a cada consulta, nem a do bebê.
Mas voltando ao atendimento, vou fazer um post só sobre a ultra morfológica (e devo postar antes deste texto aqui, só para fins narrativos), porque esse tipo de exame tem sido completamente diferente das ultras que fiz no Brasil.
A consulta padrão daqui funciona assim: sou chamada pela técnica de enfermagem, que faz a triagem inicial – afere pressão, mede temperatura, anota peso e batimentos cardíacos no meu cartão da gestante – e depois sai, para que a médica ou a enfermeira obstetriz venham conversar comigo. A médica ou obstetriz chegam e perguntam como tenho me sentido, se houve sangramento, perda de líquido e se tenho sentido o bebê mexer. Nessa hora eu desfio meu rosário de dúvidas e queixas e elas respondem o que conseguem/podem. Perguntas sobre parto são, nesta clínica, geralmente respondidas de maneira bastante esquisita, com frases tipo “podemos fazer um parto sem intervenções, se você quiser”, “mais para a frente conversamos sobre isso”, “não se preocupe com isso agora”, por isso que decidi trocar de equipe (além disso, conheci duas pessoas que tiveram cesáreas com desculpas superestranhas com esta equipe: uma desculpa eu não me lembro, mas acho que era falta de dilatação, a outra foi porque “ficou sem líquido” e o “parto seco” estava doendo demais). Pois bem, depois das dúvidas e queixas, eu me deito na cama de exames e escutamos o coraçãozinho do bebê (). Se eu precisar de encaminhamento para outro profissional de saúde, de prescrição de medicamento ou de pedido de exame específico (ultra, teste de glicose etc.), então a médica ou obstetriz sai da sala para preencher a papelada e pede para que eu espere ali dentro um pouquinho. Caso contrário, estou liberada.
A parte emocional é irrelevante nessas consultas. Elas estão preocupadas em rastrear casos de depressão em gestantes, mas as ansiedades, medos, angústias e aflições não têm espaço ali. Acho isso lamentável. Um atendimento humano de verdade passa necessariamente pelo aspecto emocional da gravidez, para além do bem-estar físico. Por exemplo, quando reclamei das espinhas, que ainda estão por aqui, cada vez mais frequentes, maiores e mais doloridas, recebi uma receita de sabonete líquido, mas nem uma palavra ou pergunta sobre como isso poderia estar impactando minha auto-estima ou meu conforto emocional. No caso, as espinhas têm sido, sim, algo difícil para mim, porque elas doem bastante, sobretudo as das costas, e isso afeta a maneira como encaro a gravidez, meu corpo, as mudanças que venho observando... Mas para o corpo médico desta clínica, não é um problema porque eu não estou deprimida por conta das espinhas e nem tendo contrações, sangramentos ou perda de líquido.
Espero que a próxima clínica seja melhor e me dê mais respaldo emocional. Vamos ver. Agendei minha primeira consulta para daqui a uma semana, quarta-feira que vem. E não poderia deixar de registrar que meu plano cobre transporte! Então, vou pegar uma carona até a clínica (que fica na cidade vizinha), depois eles me trazem de volta.
Até lá, sigo com este bebê superativo pulando na minha barriga e que já conquistou o coração de todos aqui em casa.
(escrito no fim de agosto)

sábado, 29 de setembro de 2018

Ultrassonografias nos EUA - minha experiência

Assim como na gravidez do Arthur, decidi, com base nas pesquisas que fiz e nas evidências científicas, que faria a menor quantidade possível de ultrassonografias.
Logo no começo da gravidez, na primeira consulta, a enfermeira obstétrica que me atendeu ficou na dúvida se faríamos uma ultra ou não. Disse que preferia fazer somente se ela achasse que havia uma necessidade clínica/médica para tal. Então, ela desistiu.
Na consulta seguinte (ou na terceira, não me lembro bem porque era a fase dos enjoos bizarros) fiz a ultra para ver se o bebê estava bem posicionado e para confirmar a data estimada para as 40 semanas. A ultra não pôde ser filmada ou fotografada, foi feita na cama de exames mesmo, com um aparelho de ultrassom portátil e tinha uma definição sofrível. Durou pouco mais de um minuto e recebi uma foto impressa de um amendoim ().
Depois dessa ultra, iria fazer somente a morfológica, mas acabei fazendo uma “ultra de emergência” (vamos chamar assim) porque a médica quase me infartou ao não localizar o batimento cardíaco do feto. Então, ela trouxe o mesmo aparelho portátil usado na primeira vez e levou exatos 5 segundos para localizar o batimento fetal e dizer “tudo perfeito”, desligando a máquina a seguir. Se eu tivesse piscado, teria perdido a imagem do feto.
Por volta das 18 semanas fui fazer a morfológica de segundo trimestre. Achei cedo, mas quem designou esta data foram as médicas da clínica e da clínica de ultrassom, então fui dançando conforme a música porque descobri que aqui nos EUA às vezes eles antecipam esta ultra mesmo.
A morfológica foi feita numa clínica em Chicago. Peguei o trem e chacoalhei ali dentro, enjoada e incômoda, por 1h25 até chegar na rua do hospital onde faria o exame. Era um hospital, mas na ala de exames e laboratórios. Fui informada de que crianças menores de 13 anos não eram aceitas nas salas de exame, por isso precisei deixar Arthur na cafeteria com minha mãe enquanto fazia a ultra. Como marido estava viajando, fiz tudo sozinha.
De novo não pude filmar ou tirar foto (perguntei e recebi um lindo “não”).
O exame começou com cinco minutos de atraso e quem realizou o procedimento foi uma técnica. Ela perguntou se eu queria saber o sexo e, mais uma vez, antes mesmo de ela avisar, eu já vi que era outro menino. Ela mediu o que precisava medir, visualizamos dedinhos, pés, coluna, perfil, órgãos... Ela explicou algumas coisas (bem superficialmente, tipo “olha aqui o pezinho” ou “olha o perfil do seu bebê”) e quando eu falei que minha família tem casos de polidactilia (seis dedos na mão), ela voltou na mãozinha para contarmos juntas os cinco dedinhos. Mas ela não foi narrando o exame e nem explicou muito o que estava medindo ou verificando. Perguntei se estava tudo perfeito e ela disse que parecia que sim, que o exame tinha terminado e que era para eu esperar a liberação do médico, que assina o laudo.
Fiquei lá na sala babando nas míseras quatro fotinhas que ela me deu de souvenir e aproveitei para mandar mensagem para o marido, falando que era outro menino. ()
Nisso chegou o médico na sala de exame. Ele falou “então, preciso rever umas coisas”. Quase morri ali mesmo! Como assim? Deu ruim? Apareceu alguma coisa que não deveria ter aparecido? Ou deram falta de algo? O médico explicou que não, que estava tudo bem, mas que ele queria ter certeza de que a técnica não tinha deixado passar nada, afinal ele estava assinando o laudo e tal. Mas quem disse que eu fiquei tranquila com essa resposta?! Que mãe não pensaria bobagens nessas circunstâncias?
Bom, quando ele terminou, repetiu que era um bebê aparentemente saudável e dentro dos padrões esperados. E reforçou apenas o que já sabia: que ele não poderia dar certeza de ser um bebê 100% saudável e dentro dos padrões porque o ultrassom tem margem de erro e que certeza absoluta mesmo a gente só tem quando o bebê nasce.
Desci para contar a novidade do irmãozinho para Arthur, que ficou radiante, porque preferia, claro, um menino, mas sempre com a pulguinha atrás da orelha. Essa pulguinha só pulou de lá quando me consultei na clínica do pré-natal e confirmei com a médica de que estava tudo dentro do esperado, sim, e que o fato de o médico passar lá para repetir as medições era comum. A médica até comentou que eles fazem isso para poder cobrar mais do plano de saúde, afinal a hora do médico custa mais que a hora da técnica.
Agora estou com 26 semanas e não tenho nenhum ultrassom marcado. Na clínica nova até me sugeriram de fazer, mas educamente recusei, e fui respeitada. Vamos ver como vai ser daqui em diante. Com Arthur fiz 4 ultras: a primeira para ver se estava tudo bem e datar a gravidez, a segunda foi a translucência nucal (que aqui foi substituída pelo NIPT, exame de sangue que cumpre a mesma função da TN), a terceira foi a morfológica do segundo tri e a última foi pertinho de parir, porque tinha passado das 40 semanas e precisava monitorar a vitalidade para ter certeza de que tudo estava caminhando conforme deveria.
Se alguém ainda me lê, quantas ultras você fez?


(post do fim de agosto. Ainda faltam algumas semanas para o fim da gravidez. Vai dar tempo!)

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Metade do caminho

Tinha um enjoo no meio do caminho. Um enjoo diário e constante, persistente e um pouco menos incapacitante, mas ainda assim irritante e inconveniente.
As últimas semnas foram de muitas emoções: marido viajou por 42 dias e eu fiquei sozinha tomando conta da casa, do Arthur, do bebê e da minha mãe, que veio visitar, mas está doente.
A morfológica do segundo semestre foi feita comigo sozinha na sala, e eu fiquei triste de meu marido não ter estado por perto para partilhar esse momento. Também foi difícil saber que o bebê já chuta com força suficiente para outras pessoas sentirem os movimentos e não ter marido por perto para se emocionar.

No mais, tudo caminhando conforme deve ser: barriga crescendo (tenho a sensação de estar muito maior do que na gravidez do Arthur), bebê se mexendo (ele chuta muito mais a parte de trás do meu corpo do que Arthur fazia, acho que tem a ver com a posição da placenta, que está anterior desta vez), enjoos persistindo (ainda tomo remédios, embora não mais diariamente, e menos ainda de 6 em 6 horas), muito cansaço, alguma azia e, comparado com a gravidez anterior, pouco ganho de peso (até a última consulta tinha ganhado meros 5kg, sendo que na gravidez do Arthur engordei no total 13kg. Ou seja, se continuar nesse ritmo, vou chegar ao fim da gestação com cerca de 10kg de ganho de peso).

Ainda não temos nome. Está difícil de escolher. E Arthur está lidando muito bem com a ideia de ter um irmãozinho, mas muito mal com a ideia de perder a atenção integral de mamãe e papai. Vejamos como vamos caminhar.

(Como este post foi escrito no fim de julho, já podemos rir bem alto da história do peso! hahahaha Óbvio que já ganhei um moooonte de quilos de lá para cá, especialmente com minha tara por chocolate.)

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Começo do segundo trimestre

Semana passada, pela primeira vez, minha gravidez foi notada sem que eu precisasse contar. Fui levar Arthur para o espaço infantil do clube que frequentamos e a moça que o recebeu logo notou minha barriga e perguntou "tem novidade aí, é?". E eu, toda orgulhosa, mostrei a mini pança, contei da data prevista para o parto, dos enjoos e tudo mais.
Hoje estou completando 19 semanas e depois de amanhã faço a ultra morfológica do segundo trimestre. Descobriremos, se o bebê cooperar, se vem outro menino (o que acho que sim) ou uma menina.
Os enjoos não foram embora. Sobretudo a partir do fim da tarde me sinto bastante enjoada, com um mal estar que mistura arrotos constantes, enjoo, sensação de estômago cheio seguida logo a seguir por aquele enjoo característico de estômago vazio. Sinto bastantes fisgadas no pé da barriga e tem uns 3 ou 4 dias que eu tive contrações doloridas (mas foi depois de segurar o xixi enquanto o banheiro estava ocupado). Além do mais, comecei tem uns 2 ou 3 dias com uma novidade nada legal: dores no lado esquerdo do corpo, sobretudo ombro e punho. Suspeito que isso esteja acontecendo por causa dos hormônios da gravidez, mas também porque comecei a sentir falta de ar e, geralmente, só consigo dormir deitada sobre o lado esquerdo.
O bebê hoje teve soluços. A coisa mais lindinha do mundo! <3
E ele ou ela se mexe muito, muito, muito de noite.
No sábado, comecei a frequentar um grupo sobre administração do estresse durante a gravidez. É interessante e estou adorando praticar o espanhol. O grupo é em espanhol. Eu entendo absolutamente tudo que elas falam, mas ainda sofro para falar. Na minha cabeça se misturam o inglês, o espanhol e o francês, e tem horas que eu solto umas frases bem loucas, com todas essas línguas misturadas.
Tenho me sentido muito cansada também. E a rotina aqui em casa está puxada.
Marido viajou e, embora minha mãe esteja aqui, tudo da casa e do Arthur sobra para mim. Minha mãe está doente, então além de cuidar dela, me vejo sem grande ajuda efetiva, já que sua contribuição tem sido brincar com Arthur (isso é realmente ótimo para mim) e lavar a louça. Mas nem posso reclamar. Sem ela, estaria tudo muito mais difícil, porque quando preciso ir ao mercado ou outro lugar, deixo Arthur com ela e resolvo tudo rapidinho na rua.
Ansiosa pela ultra. Animada com esse bebê pulante.
Que as próximas semanas venham suaves e saudáveis.

(esse foi de julho. vamos conseguir sincronizar!)

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

17 semanas

A ideia era fazer um diário detalhado, contando tintim por tintim desta que será minha última gestação.
Mas aí eu passei 3 semanas e pouco de cama, naquele inferno nauseabundo que já descrevi, com direito a segunda consulta com muita emoção.
(Fui levar Arthur na escola e marido encontraria comigo lá, para irmos ao médico juntos. Entreguei a criança e me sentei no banco da recepção. Dali, me rastejei até o banco do parquinho. E de lá não queria sair, porque sabia que não aguentaria mais nenhum esforço. Não me lembro muito bem como cheguei ao uber, nem como consegui entrar na clínica. Uma vez lá dentro, marido foi cuidar da burocracia e eu fiquei deitada nos bancos da recepção, todo mundo me olhando. Quando a assistente de enfermagem me chamou, logo perguntou "você está bem?", ao que respondi "não, acho que vou desmaiar". Fiquei deitada a consulta toda, comendo micro pedacinhos de biscoito de água e sal. Só no fim consegui ficar de pé para me pesar! A médica me passou mais dois remédios além do que já havia prescrito e marcou a consulta de retorno para dali a duas semanas, em vez de quatro.)
Depois que consegui sair da cama, continuei miseravelmente enjoada por muito tempo. E tomando um arsenal de remédios, passava o dia exausta, dormindo, sem conseguir trabalhar. Com isso, tudo meu atrasou. Com isso, minha vida entrou numa loucura sem fim, com marido sobrecarregado no trabalho, em casa e numa casinha de sapê. E eu miserável. E eu sobrevivendo. E eu querendo pedir divórcio todas as manhãs, por causa do cheiro insuportável de café que marido insiste em tomar.
Com isso, se passaram várias semanas e eu não tive tempo ou energia para registrar as coisinhas todas. E cá estou, já com 17 semanas, sentindo chutinhos sobretudo na parte de baixo da barriga (bebê parece que gosta muito do lado direito. Arthur passou a gravidez toda com as costas para o lado esquerdo, mas não me lembro onde eu sentia os chutinhos no começo.), ainda enjoando muuuuuuuito, com uns peitos gigantes, pesados, quentes, já produzindo colostro, com uma barriga inegavelmente grávida e com muitas micro espinhas na cara (todo dia ou a cada 2 dias aparece uma nova).
Já comecei a passar cremes na pança, embora sem muita esperança de milagres (porque por aqui, só milagre mesmo) e ainda não pensei em absolutamente nada do enxoval!
Devo entrar na hidroginástica em breve (se tudo der certo) e no dia 11/7 descubro o sexo do ser que me habita. Já temos quase certo o nome de menina, mas o de menino está uma luta! Queríamos Bernardo, mas na gringa não vai funcionar muito bem. Ainda temos algumas semanas para decidir, então o desespero não é tão grande.
Arthur ainda está curtindo a gravidez, mas acho que agora a coisa tá ganhando forma (no caso, redonda: minha barriga) e ele está vendo que ter um irmão ou uma irmã tem um lado meio chato (por enquanto sou eu, sempre enjoada, cansada, com dores ao caminhar, sem poder correr ou fazer brincadeiras muito brutas). Por isso, às vezes ele parece não estar muito animado, não. A gente vai levando, explicando, mostrando as coisas boas, preparando o que dá para preparar, porque a verdade é que vai ser tudo novo e um tanto imprevisível, já que não conhecemos ainda este bebezinho e vamos precisar de um tempo para nos adaptarmos a ele.
Eu acho que é outro menino e sonho direto com bebês do sexo masculino, mas tem horas que tenho a sensação de que é uma menina.
As diferenças dessa gravidez para a outra não são tão gritantes assim: tive MUITO mais enjoo, minha pele ficou pior e sofri no começo com um intestino preguiçoso, mas fora isso, não tenho notado grandes diferenças, não. Já comecei a sentir as faltas de ar que senti com Arthur e isso é bem desagradável. Elas parecem mais suaves, mas as minhas memórias mais intensas (dois apagões que tive e uma falta de ar que fez a professora de um curso que eu assistia perguntar se eu precisava ir para o hospital no meio da aula) foram mais para a frente, tipo perto das 30 semanas. Vamos ver.
Essa semana troquei de equipe médica porque achei que essa não me atenderia do jeito que eu quero: sem intervenções desnecessárias, mas cuidando de perto das minhas queixas ou demandas. Tomara que a próxima equipe seja boa (eu ainda não fui lá, mas peguei muitas boas referências e estou esperançosa). O bebê nasce aqui, quando estiver pronto ou pronta e vai chegar numa casa mutcho loca, mas cheia de amor. <3

(post escrito em junho, calma que a gente acerta o passo com a gravidez!)

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Diário de um inferno

São seis da manhã. Acordei por força do hábito, mas não quero me levantar. Nesse então momento, tudo é perfeitamente estável e eu não quero estragar a sensação do nada, de não sentir nada, apenas meu coração batendo.
Mas minha boca está seca, porque o aquecedor funcionou a noite inteira, por isso me levanto, bem devagar, tentando me mexer o mínimo possível, e vou até o banheiro encher meu copo com água bem gelada. Bebo. Encho o copo outra vez, mas sei que, apesar de ainda estar com sede, não posso beber mais. Preciso esperar a água ser absorvida, se não dói meu estômago.
Volto para o quarto e o líquido na barriga já pesa no estômago e o gosto em minha boca me deixa enjoada. Coloco debaixo da língua o comprimido anti enjoo. Ele se dissolve em um gosto tenebroso e vou bebericando a água para não enjoar do remédio que me ajudará a não enjoar tanto. Deito na cama. Vem uma vontade grande de arrotar. O arroto tem gosto do remédio e do meu estômago vazio, e tudo isso me deixa enjoada.
Sei que se não comer alguma coisa imediatamente vou piorar a ponto de não conseguir sair da cama. Por isso, me levanto, vou até a cozinha de nariz tapado e pego uma fruta ou um queijo e volto correndo para o quarto.
Como devagar, sentindo cada pedaço pesar três quilos no estômago. Arroto mil vezes. Bebo água porque o gosto da fruta ou do queijo deixa um amargar esquisito na minha boca, e esse amargor me enjoa. A água pesa. A água me enjoa. Nesse momento me dou conta de que tenho nariz e de que o ar entrando pelas narinas faz minha mucosa arder, e isso me deixa enjoada.
Me deito de novo. Arroto. Estou de lado, sobre o lado esquerdo, mas tudo dói, porque devo ter passado a madrugada assim, então me viro, e tudo que está no meu estômago se vira junto comigo. Dói. E também me enjoa sentir esse movimento.  Fico quieta, mas minha barriga não. Ela dói, incomoda, produz muitos gases e gostos. Levanto, bebo água, deito de novo.
Arthur acorda. Sinto cheiro do café sendo feito lá na cozinha e isso me embrulha o estômago de tal modo que eu preciso respirar fundo, me concentrar. Mas respirar fundo faz a mucosa do meu nariz arder, e eu continuo enjoada.
Marido se levanta. Arthur se levanta. Eles fecham a porta e eu tento dormir, porque quando eu durmo não fico enjoada. Pego no sono, apesar da barriga cheia e incômoda. Arthur abre a porta. Quer brincar. O cheiro do café se juntou ao do pão, da panqueca, do iogurte e eu quero morrer. Arthur sai, fecha a porta. Durmo outra vez. Acordo com Arthur me pedindo para ajudá-lo com a roupa. Marido já fez o almoço do pequeno e a casa está gelada, porque todas as janelas foram abertas, todos os ventiladores estão ligados, a porta dos fundos está escancarada, o exaustor está a toda, mas ainda assim o cheiro de comida me golpeia e eu tenho a primeira ânsia do dia. Me concentro. Pego a roupa, ajudo Arthur a se vestir, aproveito para pegar outra coisa para tentar comer. Ultimamente, só me apetecem panqueca, queijo e iogurte. E frutas. Mas não posso só comer fruta, se não me dá azia. E enjoo. Alguém me traz o que eu pedi, porque não consigo chegar na cozinha com seus mil cheiros, aromas e fedores. Como muito devagar. Sinto cada grama de comida cair feito uma tonelada no estômago. Continuo muito enjoada. Geralmente não consigo terminar a panqueca, ou o queijo, ou o iogurte.
Marido leva Arthur para a escola. Eu estou enjoada até mesmo para andar, mas me arrasto até a cama, deito e tento achar um caminho para o sono entre arrotos, dores e enjoos.
O despertador toca às onze. Sim, eu acordo às onze da manhã, porque a noite anterior só terminou na alta madrugada, poucas horas antes das seis da manhã onde começou este post.
Eu estou ciente de que são onze da manhã e estou praticamente de jejum há quase 15 horas. Preciso comer algo. Me levanto, pego uns biscoitos salgados, mastigo sem vontade (detesto cream cracker), engulo com água. Vou até a cozinha já decidida e pego com muito custo a fruta, o queijo ou o que quer que tenha me apetecido. Com muito custo significa: de olhos semicerrados porque ver comidas e lixo me enjoa, de nariz tapado porque são muitos cheiros, correndo, para poder me sentar logo, porque estou fraca, tremendo.
Me sento à mesa, sozinha, cansada, enjoada, sem apetite. Mas preciso comer. Às vezes funciona e eu como o que me propus. Às vezes não dá, fico nauseada no meio do processo e paro, largando a comida na mesa mesmo, porque entrar na cozinha de novo não dá. Não agora, pelo menos.
Se comi, bebo um golinho de água e me sento no escritório, ligo o computador. Se não comi, volto para a cama e tento apagar da lembrança a náusea que a comida me causou. Às vezes durmo de novo, outras vezes fico só deitada, enjoada, sozinha, olhando para a parede.
Cerca de vinte minutos depois que comi sou acometida por uma náusea fortíssima, seguida de um estufamento que me causa muitos arrotos e dores. Costumo ter ânsias. Ficar sentada nessa hora não é uma opção. Volto para a cama, desistindo de trabalhar naquela hora. Ainda faltam duas ou três horas para poder tomar o remédio do enjoo outra vez. Eu estou muito enjoada. E com dor. E desconfortável, sem posição que me traga qualquer alívio. Fico me remexendo e começo a avaliar se vou conseguir ir buscar Arthur. Se não for conseguir, preciso avisar marido a tempo.
Esse desconforto do estufamento piora meu enjoo em 80%. Se eu fosse uma pessoa normal, vomitaria. Mas eu não sou normal, então fico só inutilizada, miserável, até falar causa ânsias.
Se vou buscar Arthur, vou e volto desesperada, com medo de vomitar na rua, com medo de desmaiar na rua. Se não vou buscar, estou tão mal que não consigo me mexer e fico na cama, às vezes consigo chegar no sofá.
Bebo água de novo. Não estou desidratada, mas faço uns três xixis por dia. E olhe lá!
Arthur chega com o pai. Ou eu chego com Arthur. Meu menino está feliz. Está com fome. Está cheio de coisas para contar e mostrar. Ele está querendo brincar, com saudade de casa e da mãe. Junto meus caquinhos, pego algo para ele comer, tem dias que consigo me deitar no chão para brincar de lego ou do que for, tem dias que eu coloco ele na cama comigo, para assistir a um milhão de vídeos.
São quatro da tarde e, apesar do remédio de enjoo, não consegui comer mais que uma panqueca, meio potinho de iogurte e dois pedaços de queijo. Dois copos de água. A essa altura, estou fraca, hipoglicêmica, enjoada e inapetente. Tudo em que penso me dá ânsias. Muitas.
Sobrevivo não sei como até marido chegar ou parar de trabalhar no escritório. Eu também precisava trabalhar, mas hoje não deu. De novo. Eu mal tenho forças para fazer xixi, e no banheiro, fico enjoada com os cheiros dos produtos, com meu cheiro corporal. Mas não consigo ficar de pé o tempo necessário para lavar meu cabelo. Não dá para lavar cabelo em banho de banheira. Adio o banho. Lembro que de manhã eu tentei escovar os dentes, mas a pasta de dentes me deixou tão enojada que nem consegui colocar a escova na boca. Ela ainda está ali na pia, como eu deixei há horas. Pego a escova. Tiro a pasta. O cheiro do sabonete da pia me dá ânsia. Me concentro. Coloco a escova na boca, mas as cerdas e o movimento de vaivém me dão ânsia. Paro. Desisto. É hora do jantar e eu preciso me trancar no quarto outra vez, porque marido vai cozinhar e eu vou morrer com o cheiro. Me fecho. Arthur entra às vezes, e com ele, o cheiro da comida, embora tudo esteja aberto e ligado lá fora do quarto.
Estou enjoada. A coisa vem em ondas. Quando tenho uma trégua peço um biscoito a alguém. Ou um queijo. Como feito uma lesma. Ainda enjoada. Em vinte minutos sei que vai doer o estômago. Mas uma dor diferente, porque aí me dou conta de que passei a tarde com o estômago ardendo por estar vazio. Bebo água. Microgoles.
Está na hora de escovar os dentes do Arthur. Tem dias que consigo. Tem dias que não. Hoje não consegui. Marido escova para mim. Vou ler os livrinhos. Mas para isso, preciso ficar de barriga para cima. Tudo dói. Tudo se movimenta dentro de mim. Fico enjoada demais. Me sento na cama umas cinco vezes para poder arrotar. Arthur finalmente dorme.
Saio da cama dele, me arrasto até a sala. Sento. Tento comer alguma coisa. Nada me apetece, estou com náuseas de fome. Forço. Como. Me sinto melhor, troco três palavras com marido (uma delas é sempre obrigada). Como uma fruta. Estou bem melhor. Deito na cama, pensando em aproveitar esse momento de bem estar para tentar dormir antes que tudo volte com força, porque vai voltar. Me aconchego. Fecho os olhos. Um arroto. Sento. Deito. Outro arroto. Sento. Deito. Uma ânsia. O estômago dilatou. Dói, estufado, e causa um enjoo vertiginoso. Me levanto, tento achar posição confortável. Nenhuma funciona. Ando até a sala. Volto para o quarto. Minha casa me aprisiona. Dá angústia. Passo cerca de quarenta minutos assim, sem conseguir me mexer, mas sem achar uma posição confortável. De repente melhoram as dores, mas volta o enjoo com tudo! Água. Enjoo. Já tomei o remédio, não posso fazer mais nada. Biscoito. Ou queijo. Ou fruta. Às vezes, pensar no que quero comer me provoca ânsia, náusea. Belisco. Tento escovar os dentes, mas não dá de novo. Deito. Levanto. Arroto. Deito. Sento. Enjoo. Já passa de meia-noite. Todo mundo dormiu. Menos eu. Levanto, pego mais um biscoito. Como sem vontade. Tem sorvete, arroz, feijão, verduras, chocolate, cogumelos, até um prato que marido trouxe do restaurante chinês. Mas eu só consigo pensar em biscoito, água e sal, aquele mais bobo, mais insosso. Como. Bebo água. Faço xixi. Deito. Sento. Arroto. Deito. Me viro. As coisas no estômago se reviram, eu enjoo. Tenho ânsia. Levanto, deito, arroto, bebo água. Viro, reviro, enjoo. Olho para o relógio pela última vez às quatro da manhã. Algum milagre acontece e eu durmo, finalmente!
Às seis horas eu abro o olho. Não quero acordar ainda, mas o aquecedor funcionou a noite toda, minha garganta está seca porque só bebo pequenos golinhos de água, eu me levanto...

terça-feira, 14 de agosto de 2018

A sinestesia dos enjoos

Com essa gravidez, descobri que tenho enjoos sinestésicos.
O que é isso, Ártemis?
Ah, um nome que inventei para tentar explicar como tenho me sentido para as pessoas.

Eu sinto enjoo com gostos, cheiros, texturas, imagens e sons.

Oi?
É, isso mesmo!
Alguns gostos, como doces e hortelã (pasta de dentes, balas etc.) me deixam absurdamente enjoada. Até aí, normal. Cheiros também. Não consigo entrar na cozinha, enjoei de cheiro de café e refogados de novo, passo mal com perfumes, bafos, cecês, cheiro de fritura, de carne, de comidas, desodorante, xampu, sabonete, até o cheiro da parte de dentro do meu nariz me enjoa, o que é um problema bem grande, já que não posso simplesmente tirar o nariz, né? Mas apesar da bizarrice, também não é tão anormal assim grávidas enjoarem com cheiros. Mas aí começa a esquisitice nível master. Eu enjoo com texturas. Comer banana é sofrível, porque se tem uma parte mais madurinha, eeeeeca! Escovar os dentes é martírio, porque as cerdas dentro da minha boca causam ânsias terríveis. Fora cabelo que voa e entra na boca. Quase morro! Também não consigo olhar para determinadas comidas, ou coisas, porque a simples visão me causa asco profundo. É o caso da minha geladeira e toda e qualquer carne. Só de escrever já sinto o estômago revirar. Por fim, o que me confere o prêmio esquisitice total para enjoos gravídicos é ficar enjoada com sons. Para isso acontecer eu já preciso estar enjoada antes de o som começar. E aí, o som amplifica o mal estar de tal maneira que eu preciso fugir correndo de onde estou, protegendo orelhas e nariz, numa vã tentativa de melhorar dessa náusea constante e insuportável.

Passei três dias seguidos sem conseguir sair da cama, porque ficar sentada ou de pé me enjoava. Estou há duas semanas sem interagir com minha cozinha (quando fico sozinha em casa e preciso abrir a geladeira, primeiro me concentro, respiro fundo, tampo o nariz e aperto bem os olhos, para ver o mínimo, porque só assim consigo resgatar alguma coisa ali dentro). Não cozinho. Não lavo louça. Não tomo banho todos os dias (só me julguem depois de experimentarem enjoos nesse nível). Aliás, entrar no banheiro é desafiador, porque são tantos cheiros ali dentro!
Ontem fui à padaria e quis morrer. Pior ideia do mundo! Tudo ali dentro cheirava ao mesmo tempo, com muitas fragrâncias diferentes e nem sempre combinando, equilibradas.
Ontem também aconteceu algo engraçado. Arthur chegou na porta do quarto com a boca cheia e me perguntou "mamãe, adivinha o que eu estou comendo?". Não só acertei, deitada na cama (cerca de 1,50m de distância da porta), como ainda emendei um "vai comer isso na sala porque o cheiro está me enjoaaaando!".

Aliás, Arthur acha que eu estou com uma virose, tadinho. Já perguntou se essa coisa pega e se vou vomitar (quando vomitei ele não estava em casa, tinha ido ver um filme na casa de uma amiguinha). Mas na verdade eu acho que ele tá é sacando tudo, porque a brincadeira da vez aqui em casa é com bebês e irmãos. É um tal de "meu irmão" pra cá, "os bebês" para lá. Tá pescando, esse menino. Mas só contaremos depois do exame que substitui a TN.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O dia em que vomitei

Os enjoos me pegaram de jeito nessa gravidez.
Com Arthur, eu fiquei enjoada, mas além de ter começado a me sentir mal com mais tempo de gestação (5 semanas), a intensidade dos enjoos era menor. Tanto que eu conseguia trabalhar, conseguia viver, consegui até mesmo esconder a gestação até os 3 meses.
Dessa vez eu fui atropelada pelos enjoos de tal maneira que durante dias não sobrou nada de mim!
Hoje acordei um pouco melhor (enjoo normal, tipo os que eu tinha na gravidez do Arthur) e resolvi vir aqui registrar.

Tudo começou exatamente no dia em que completei 5 semanas. Veio de mansinho, um mal estar que me fez primeiro ser seletiva com comidas. No dia seguinte já tive repulsa pela carne que estava no prato do Arthur. Depois disso foi ladeira abaixo e tudo culminou no dia 6 de abril, quando eu vomitei.
Tinha passado o dia praticamente em jejum e depois de comer umas batatinhas cozidas (única coisa que me apeteceu), tomei a vitamina pré-natal. No dia anterior eu também tinha me sentido miserável depois de tomar a tal vitamina, mas não liguei uma coisa na outra. Até porque eu estava vivendo momentos de enjoo extremo e momentos de enjoo moderado. Então, para mim, fazia parte do quadro geral. Mas a verdade é que não estava me dando bem com a tal vitamina e, no dia 6, depois de engolir o comprimido, deitei para assistir a um filme e relaxar. O enjoo foi crescendo, crescendo, crescendo, até que não aguentei e fui ao banheiro. Foi horrível! Fiquei bastante nervosa e estressada, e depois meu pescoço doía todo. Mas pelo menos o mal estar melhorou e eu consegui beber água e terminar o filme.

Os enjoos estão tão fortes dessa vez que já fui obrigada a contar da gravidez para muitas pessoas, porque simplesmente não consigo viver a vida normalmente. Passo o dia deitada, prostrada, seja enjoada, seja me sentindo fraca porque não comi nada. Não consigo ir a lugares com cheiros (padarias, minha cozinha, meu banheiro) e buscar Arthur na escola tem sido um desafio diário. Fui contar os dias do enjoo. A sensação é que estou sofrendo há semanas, mas a verdade é que acabei de completar uma semana nesse estado. Espero imensamente que eu melhore logo, porque tá puxado.

(texto escrito em 10/4/18)

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Enjoada

Eu acreditei que teria uma gravidez sem enjoos. Não sei por que cismei com isso. Mas parece que os enjoos gostam mesmo de mim.
Tudo começou na quinta semana. Na hora do almoço comi e fiquei enjoada logo a seguir. Com Arthur, os enjoos começaram por volta da mesma época, e também na hora do almoço. Lembro muito bem que uma das primeiras vezes que enjoei estava sentada sozinha no restaurante onde costumava almoçar, ao lado do trabalho. Comi uma garfada da salada e enjoei. Mal conseguia continuar a refeição. Depois disso, foi ladeira abaixo, com muito enjoo diário e constante até cerca de 15 semanas.
Então, nesta gravidez, comecei com os enjoos. Fui jantar em uma pizzaria e assim que entrei no lugar quase tive um treco com aquele cheiro de molho e queijo. Na Páscoa fomos para a casa de uns amigos, celebrar em grande estilo. Dentro do uber comecei a me sentir ultra-mega-super enjoada. Tinha comido antes de sair, para garantir que não me sentiria mal no caminho e nem chegaria desesperada de fome. Na verdade, quando vi a pizza do dia anterior na geladeira, e depois quando senti seu cheiro, fiquei de estômago embrulhado. Depois, não consegui olhar para o pedaço de porco, carne que aprendi a gostar aqui, que estava no prato do Arthur. Marido precisou cortar a carne e servir ao Arthur. Na hora do almoço, marido precisou esquentar o porco depois que eu já tinha feito o prato. E agora, enquanto escrevo isto, fico enjoada só de pensar em todas essas comidas. BLERGH!
Já notei que enjoo com mais força se como doce. Então, meu melhor amigo tem sido o pão de massa azeda da padaria aqui do lado. Delícia salgada e amarga que não me deixa enjoada e me supre com carboidratos.
Vamos ver como a coisa progride. Queria muitíssimo que só ficasse nesse enjoo suave, mas se for como na gravidez do Arthur, está apenas começando.

(como vocês devem ter notado, tô atrasada nas postagens. mas a gente chega lá, tá?)

terça-feira, 10 de julho de 2018

Primeira consulta

Minha primeira consulta pré-natal foi na clínica onde levo Arthur para fazer os check-ups de rotina.
Não é uma clínica maravilhosa, mas a médica dele é fofa, sempre se lembra das nossas histórias além da ficha médica (embora não saiba onde fica o Brasil no mapa!) e, felizmente, não precisamos de nada além do normal: pesar, medir, uma queixa aqui, outra ali, uma virose aqui, outra ali. O lugar, então, atende muito bem a nossas necessidades.
Quando descobri que estava grávida de novo, já comecei a pirar no pré-natal. Aliás, há dois anos eu já vinha pirando, perguntando a todo mundo com quem tinha intimidade sobre como era o parto e a assistência à gestante aqui onde moro. Isso é assunto para outro post, prometo, mas acho que por essa antecedência na pesquisa - e sabendo que com Arthur eu comecei a pesquisar sobre parto NOVE anos antes de sequer engravidar - vocês já conseguem imaginar como esse é um assunto importante para mim.
Pois bem, quando descobri essa gravidez, pirei com força no pré-natal, principalmente porque precisaria de um plano de saúde, coisa que até então eu não tinha. Acontece que o plano que vou usar precisa de um comprovamente de gravidez, e lá fui eu na clínica de família onde levo Arthur para buscar esse tal comprovante.
Fiz meu xixizinho no potinho (aqui não tem essa de tirar sangue para comprovar a gravidez de todo mundo, não! O mais comum é xixi no palito mesmo) e em poucos minutos já tinha minha declaração de gravidez pronta.
A conselheira que me atendeu perguntou se eu já queria fazer minha primeira consulta logo naquele dia e eu pensei "já tô aqui, né? então, bora!" e fiz uma horinha até ser chamada para a primeira consulta como gestante! (meu sorriso não aparece no texto, mas vocês podem imaginar minha alegria, né?)
O centro conta com 3 obstetras (mulheres) e 2 midwives (enfermeiras obstétricas) e minha primeira consulta foi com uma das midwives.
Aqui, antes do atendimento médico ou de enfermagem, uma assistente de enfermagem vem para pesar, medir, tirar temperatura, pressão e anotar as principais informações do caso. Depois da triagem, a midwife veio conversar, falou que o meu teste voltou "bastante" positivo e começou a anotar algumas coisas sobre meu histórico familiar de doenças preocupantes (câncer, problemas cardíacos, diabetes, hipertensão, má-formações e síndromes, essas coisas) e anotou a data da última menstruação para fazer a previsão das 40 semanas. Eu contestei a data que ela me deu, porque eu SEI que não ovulei 14 dias depois do primeiro dia de menstruação porque eu tenho ciclos longos e irregulares. Mas ela insistiu na data. Achei chato e desumano isso, pois ela me colocou dentro de um protocolo logo de cara. A consulta seguiu com ela me perguntando sobre viagens, sobre zica (se eu fiquei doente quando estive no Brasil, se alguém que eu conhecia tinha ficado doente, se meu marido ou filho tinham ficado doentes lá) e disse que ainda era muito cedo para fazer uma ultrassonografia. Eu não sou grande fã de ultras, então não liguei muito. Ela explicou umas dúvidas que eu tinha sobre o pré-natal daqui e sobre o que faríamos ainda. Onde estou nos EUA (cada estado aqui é independente, então algumas coisas podem variar de um lugar para outro) não se faz mais translucência nucal às 12 semanas em mulheres acima dos 35 anos. Agora, é feito um exame de sangue na mãe (NIPT) por volta das 10 semanas para avaliar a possibilidade de o bebê ter alguma síndrome cromossômica, e a partir do resultado o casal pode escolher se quer ir se consultar com um especialista em genética, se quer abortar ou se quer seguir em frente com o pré-natal na clínica. Também através de exames de sangue da mãe já são investigadas outras condições congênitas no embrião ou feto, como espinha bífida ou fibrose cística. Quando colhi sangue para exames de HIV, gonorreia, sífilis, toxoplasmose e mais alguma coisa que estou esquecendo já coletaram material também para esses testes que mencionei. Às dez semanas vou colher mais sangue para "substituir"a famosa TN. A vantagem desse exame é que ele é mais preciso. Enquanto a TN indica com precisão de até 80% se pode haver alguma alteração cromossômica, o exame de sangue tem precisão de 98%. E, como eu disse, se o casal quiser, pode depois do resultado fazer uma consulta com geneticista e fazer exames mais invasivos, para confirmar suspeitas ou se certificar de que não caiu nos 2% de falha do exame de sangue. O exame está disponível no Brasil, mas parece que é bem caro e não são todos os planos que cobrem.
Também na consulta fiz um exame preventivo, tive um exame de mamas e um exame pélvico (esse último também me desagradou, mas permiti só porque realmente queria ter certeza de que não havia volumes ou dores que tivessem passados despercebidos por mim). Fui auscultada (coração e pulmões) e recebi uma lista de medicamentos que posso usar na gravidez, separados por categorias. Colhi urina para cultura de bactérias e recebi meu cartão-gestante.
Saí de lá com os telefones de emergência. Ao contrário do Brasil, aqui você liga para a clínica, não para uma médica ou enfermeira específica. Aí, o funcionário de plantão naquele dia retorna a ligação alguns minutos depois com a orientação necessária. No dia do parto, também será plantão. A equipe atende em dois hospitais. Se eu escolher um, mais longe de casa, a equipe de plantão será da clínica (uma das obstetras ou midwives), mas se eu escolher o outro, aqui pertinho, o plantão é do próprio hospital, e eu certamente não vou conhecer a pessoa que vai me auxiliar no parto.

Achei o atendimento ok. Não gostei do exame pélvico "obrigatório" e da insistência da midwife em dizer que eu estava com 5s1d, quando eu sabia que estava com 4s3d. Tive quase uma semana "roubada". Se considerar que Arthur nasceu de 41 semanas, isso faz MUITA diferença! Vamos ver se a data muda quando eu fizer a primeira ultra. De todo modo, estou quase certa (só esperando resolver burocracias do plano de saúde) de que vou mudar para uma casa de parto em Chicago.
Até a ultra, muita água ainda vai rolar e estou concentrada em mentalizar a seguinte frase: "eu não vou enjoar, eu não vou enjoar, eu não vou enjoar..."

Semana que vem conto se superei o marco inicial (na gravidez do Arthur comecei a enjoar com 5 semanas e fui até 14 ou 15 sofreeeeeeendo).

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Relato do segundo positivo

Oficialmente, iríamos começar as tentativas em agosto de 2018, mas eu sabia que existia a possibilidade de estar grávida.
Então fiquei atenta ao combo tentante: micro sintomas da progesterona em meu corpo, olho na temperatura basal (que pela primeira vez na vida estava sendo tirada certinho, no mesmo horário todos os dias e tal - tudo como preparação para agosto) e contando os dias do ciclo.
Aproveitei para catar umas anotações que tinha feito durante a gravidez do Arthur, com as datas de exames, da provável ovulação, com os sintomas que senti no comecinho, depois nas primeiras semanas. Enfim, dei aquela refrescada na memória porque, né, quase seis anos se passaram.

(Eu tenho a teoria do HD, que é a seguinte: nossa cabeça vai acumulando memórias e informações até um certo teto, depois ela vai abrindo espaços deletando o que já não serve e substituindo por infomações ou lembranças mais úteis naquele momento. Isso explica porque eu soube a fórmula de Baskara por tantos anos, mas hoje em dia não consigo nem me lembrar para o que serve a dita fórmula.)

Pois bem, eu já tinha liberado espaço para coisas maravilhosas da vida como: qual marca de café é a mais gostosa aqui, como preencher o IR, qual caminho é mais curto para chegar à biblioteca, qual é o telefone do marido, essas coisas. Então, reler as tudo aquilo à luz dos conhecimentos que acumulei ao longo desses anos sobre o método sintotermal de controle da fertilidade me trouxe uma série de informações curiosas e valiosas sobre meu corpo.
Com isso, fiquei atenta e sabia exatamente quando começar a testar para detectar uma possível gravidez.

Então, o aplicativo que uso para controle da fertilidade me sugeriu um dia da ovulação, e eu concordava com a data apontada. Dali, contei uma semana e decidi que começaria a testar. Seria meu 7DPO (sétimo dia pós-ovulação), o que é bastante cedo, eu sabia, mas estava ansiosa, óbvio. Admiro as pessoas que falam "vou esperar até o 12DPO para testar" e esperam! Eu não sou dessas. Então comprei 20 "internet cheapies" (baratinhos da internet, na tradução livre) e decidi que tinha 20 dias de xixi no palito pela frente.

Desde o 1DPO eu vinha sentindo coliquinhas, o que era bem esquisito, porque eu NUNCA tenho cólicas, e quando tenho é só no dia da menstruação mesmo. Fiquei atenta e comecei a marcar no aplicativo as cólicas. Meus seios também ficaram doloridos, mas embora esse sintoma seja mais comum alguns dias antes da minha menstruação, eu não achei tão fora da curva quanto as cólicas. Isso porque eu sabia que seios doloridos são uma das consequências da progesterona no corpo, e que progesterona faz parte do ciclo natural feminino, mesmo quando não ocorre gravidez ela está lá. Passei 6 dias anotando detalhadamente tudo que sentia durante o dia no aplicativo (um diário mesmo). Tintim por tintim. Tudo!
No 6DPO senti uma dor lancinante na altura do umbigo à noite. Eu estava sentada quando aconteceu e foi difícil até me mexer. Ela veio forte e depois fiquei com a sombra dela por alguns minutos mais. Decidi fazer o teste, primeiro porque para uma pessoa ansiosa tudo é pretexto, segundo porque eu estava começando a ficar preocupada, achando que eu poderia estar desenvolvendo uma infecção urinária (eu nunca tive IU, então não faço ideia dos sintomas). O teste voltou negativo, sem dúvida, e eu falei com umas amigas, que me acalmaram quanto à IU, porque eu não tinha febre e os sintomas clássicos. Fui dormir encucada, preocupada comigo.
Então, no 7DPO eu fiz xixi no palito de novo. Os sintomas que eu vinha sentindo desapareceram por completo e eu estava desesperançada. Esperei os cinco minutos determinados pelo fabricante e o teste ficou branco, só com a linha de controle.
No 8DPO, acordei e decidi testar com a primeira urina da manhã. Os outros testes eu fiz quando deu, sem muita esperança, sem muita disciplina, porque sabia que era cedo demais. Esse do 8DPO, de manhã, voltou branquinho, branquinho. Mas, porque sou teimosa, fiz outro teste à noite. Olhei para a tira e achei que estivesse vendo coisas. Olhei na luz do abajur, na luz do banheiro, com a lanterna do celular e continuei sem saber se era mesmo uma segunda linha ou não. Decidi fazer outro teste, convencida de que aquele estava defeituoso, me mostrando uma sombra, uma linha evaporação, sei lá. O segundo teste voltou com outra sombra. Chamei marido (Arthur já dormia) e falei: tô vendo uma segunda linha. Ele não viu e tentou sugerir que eu estava querendo tanto um bebê que via coisas que não existiam. Cortei logo e falei: amanhã eu provo para você que a linha existe. Porque eu via a linha, ela estava lá, duas vezes, duas sombras, dois borrões quase invisíveis. Mas eu não sabia se ela iria de fato escurecer.
No 9DPO, com a primeira urina da manhã, apareceram as duas linhas. Uma delas claríssima, mas já não dava para dizer que era impressão, defeito ou delírio. Fiz outro teste com a segunda urina da manhã (que descobri ser melhor para mim, em termos de teste) e lá estavam as duas linhas de novo. Marido continuou em negação. hahahaha
Entrei em um fórum gringo, criei uma conta e postei a foto, perguntando se as pessoas também viam a segunda linha. E elas viram! Aí, eu já não tinha mais dúvidas, mas marido continuava desconfiado, achando tão surreal engravidarmos de primeira, que eu precisei esperar até o dia seguinte para provar que eu estava, sim, grávida, muito embora eu tenha feito mais dois testes ao longo do dia, todos positivos.
Então, no 10DPO eu acordei e fiz outro teste com a primeira urina da manhã. Positivo ainda clarinho, mas inegável e mais escuro que o do dia anterior. Ou seja, havia progressão do hcg. Aproveitei que estava saindo e anunciei: vou comprar um teste de outra marca, para tirarmos a dúvida de vez. E voltei com um teste digital do supermercado daqui de perto. Testes digitais são mais direitos e objetivos, porque mostram SIM ou NÃO, sem linhas clarinhas para confundir. As instruções falavam em três minutos para o resultado, mas entre o primeiro e o segundo minuto a ampulheta parou de piscar e apareceu bem bonito na tela "PREGNANT", grávida. Era oficial!
Ao contrário da gravidez do Arthur, decidi contar para algumas pessoas próximas logo de cara. Algumas amigas queridas ficaram sabendo quase que na mesma hora que tiramos a prova dos nove. Marido contou também para os dois melhores amigos. E seguimos no plano de contar para todo mundo oficialmente só depois dos três meses iniciais.
Também contei para duas amigas daqui dos EUA, porque precisava de ajuda para entender o sistema de saúde, saber como iniciar o pré-natal, com quem, essas coisas.
E decidimos só contar para Arthur quando tivéssemos a certeza de ser uma gravidez viável e saudável. Isso porque desde que aprendeu a falar que Arthur me pede um irmão ou uma irmã, e seria absolutamente frustrante para ele viver essa montanha-russa emocional. Decidimos poupá-lo.

Para concluir, vou colocar aqui os sintomas que tive e que me fizeram ligar o alerta:

Cólicas desde o dia seguinte à ovulação; micro tonturas por dois dias não consecutivos; seios doloridos também desde o dia seguinte à ovulação; meu colo do útero de repente fechou, alguns dias após a ovulação, o que colocou uma pulga imensa atrás da minha orelha, porque desde que Arthur passou por ali que meu colo ficava fechado, pero no mucho. As cólicas se alternaram entre "sensação de atividade no baixo ventre" (como se estivesse acontecendo alguma coisa por ali); "sensação de peso", que às vezes se expandia para as pernas, como se eu estivesse perto da menstruação; pontatinhas e incômodos no lado esquerdo, primeiro perto do ovário, depois mais embaixo; pontadas agudas e bastante doloridas na altura do umbigo e como se estivessem descendo pelo colo do útero (por isso que pensei que fosse IU). Outra coisa que também estava bem fora do padrão era o muco cervical, que desapareceu, quando, geralmente fica constante até a chegada da menstruação.

domingo, 1 de abril de 2018

É só um momento miserável

Arthur estava dormindo. Eu estava na cama, já quase tomando o mesmo destino quando me sobressaltei com um berro: MÃÃÃEEEEE!
Dei um pulo e em dois segundos estava ao lado dele, que estava visivelmente chateado, mau humorado mesmo.
- O que foi, filho? Quer água?
- Não! (Ainda muito chateado.)
- Quer fazer xixi?
- Não!
- Teve um pesadelo?
- Não, I'm just having a miserable time*.

E durma-se com um vocabulário desses!!

*Tradução: "eu só tô passando por um momento miserável".

sábado, 10 de março de 2018

Porque a vida está fácil...

Marido foi viajar a trabalho. Nem foi para longe, mas foi. Com isso, na quinta, véspera da viagem, ele foi buscar o pequeno na escola (geralmente eu que busco). Chegaram em casa quarenta minutos depois, o que é normal, porque sempre rola aquela brincadeira no parquinho, aquela caminhada devagar, catando pedrinhas e gravetos. Chegaram com uma sacola e Arthur com cara de safado, falando frases tipo: "a gente não comprou nada, tá?" (e "baixinho" para o pai: "não conta pra ela!"). Entrei na brincadeira, olhando de soslaio a sacola plástica na mão do marido. "Ah, não compraram? Tudo bem."
Era a mesma sacola do restaurante japonês, então meu estômago já dava pulinhos de alegria.
Marido, então, pede: "Ártemis, olha a mochila do Arthur."
A mochila pesa mais de 2kg, o que é surreal, pois ele saiu de casa só com o tênis lá dentro.
Abro.
Em uma fração de segundos processo tudo que está ali dentro. Não é sushi. Nem sashimi. Um saco. Cheio de pedrinhas. Pedrinhas cor-de-rosa e lilás. Pedrinhas que eu conheço bem.
Porque a vida está bem fácil, comigo trabalhando com três clientes ao mesmo tempo, marido na fase mais difícil do trabalho dele, com viagens, compromissos e palestras, Arthur demandando aquela atenção que um menino esperto de 5 anos demanda, a casa, as coisas da casa, a vida no Brasil e as pessoas no Brasil, porque tudo isso estava fácil demais, marido comprou um peixe!
Agora temos um peixe no quarto do Arthur. Ele nada em um aquário de pedrinhas cor-de-rosa e lilás e em meio a uma planta de plástico cafona nas mesmas cores das pedrinhas. Ele é vermelho e se chama Pinky. A nova cor favorita do Arthur é rosa, acho que já deu para notar, né?
Arthur está encantado.
No dia que o peixe chegou, notamos que a loja esqueceu de colocar a comida no kit do aquário. Por isso, precisamos sair de novo para estrearmos a vida a quatro em grande estilo (ou seja, sem matar o peixe e traumatizar a criança para sempre). Arthur começou a chorar, sentido.
"Mamãe, o peixe vai ficar sozinho? Ele acabou de chegar aqui, não conhece a casa, não sabe quem somos, não sabe que a gente vai cuidar dele. Ele vai achar que está sozinho, abandonado!"
"Meu filho, não vai. Ele sabe que chegou aqui, ele vai ficar bem. Vamos lá antes que a loja feche."
"Não! Ele vai ficar sozinho, tadinho!"
E chorou. E chorou.
Aí chamei filhote para o colo, abracei e sugeri:
"Por que você não vai lá e explica para ele? Assim ele vai saber que a gente vai e a gente volta, vai saber que fomos só buscar comidinha para ele!"
Ele foi. E falou, contou tudo. Quando achei que, enfim, ele sairia comigo, Arthur deu meia-volta e, por sobre o ombro, explicou:
"Ele não vai entender! Eu falei em português com ele!"
E repetiu tudo, tintim por tintim, em inglês.

O peixe está aqui e, brincadeiras à parte, não dá muito trabalho, não. É só dar comida diariamente e trocar a água a cada 1 ou 2 semanas. Quero dizer. Isso e, é claro, todas as noites precisamos dar beijinhos de boa noite no vidro, todas as vezes que vamos sair temos de explicar onde vamos, quando voltamos, quanto tempo ele vai ficar sozinho... Mas pelo menos agora, ao que parece, o peixe já aprendeu o português.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A Sibéria não é fria

Chicago é uma cidade cosmopolita e, aqui, você encontra gente de tudo quanto é canto do mundo. Muitos, muitos, muitos imigrantes mesmo. Arrisco dizer que metade das pessoas que conheço são nascidas aqui, a outra metade imigrou.
Pois que nessa cidade do mundo também faz um frio dos infernos. Semana passada chegamos a -20 e tantos. Amanhã uma penca de serviços estarão fechados por conta da nevasca que está caindo enquanto escrevo este post. E assim, falar sobre o tempo para puxar papo é sempre maravilhoso, primeiro porque esse é, mundialmente, o tópico número um de quebração de gelo, um terreno bastante seguro para conversar com o cara de Kosovo ou com a moça da Turquia, com a adolescente mexicana ou com o senhorzinho sul-coreano. Segundo, porque aqui, com esse tempo doido e gélido, sempre temos assunto: é nevasca, é tufão, é calor dos infernos, é tornado, é chuva torrencial...
Então, quando entrei na sala de aula naquele dia, minha língua nem precisou se conectar ao cérebro para articular um "nossa, que frio!" em meio a norte-americanos e imigrantes. Responderam todos no mesmo tom - sim, muito frio! nossa, está demais! tomara que melhore logo - e por isso me senti segura. Continuei o papo. Alguém perguntou: ei, de onde você é? E eu: do Brasil. A pessoa: nossa, e veio parar em Chicago? E eu de novo: pois é, vim parar na Chibéria. Norte-americanos riram, uma moça da Moldávia também. Mas uma outra, não. Ela, muito séria, perguntou: é o quê, hein? E eu expliquei: é que aqui é tão frio que o pessoal brinca que é Chibéria, uma mistura de Chicago com Sibéria. E ela, muito espantada: mas a Sibéria não é fria! Todos nós: OOOOOOO (essas são as bocas abertas, depois de os queixos caírem). E ela continuou: é! Eu sou russa e na Sibéria não faz frio, na minha cidade natal chega a -50. Nós de novo: OOOOOOO.
Então, amigxs, porque você continua lendo este blog, agora já sabe que o trocadilho é engraçado, mas só funciona se não tivermos russos nos arredores, porque, afinal, não faz tanto frio assim na Sibéria, como disse a moça que foi a única a não reclamar dos -20 e tantos da semana passada.