segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Alguns fato aleatórios sobre Ghent

Moro em um bairro de imigrantes. Aqui, quase todo mundo veio de fora, e, salvo um ou outro belga, a língua que se escuta nas ruas não é o holandês. Digo isso porque talvez minha percepção de Ghent esteja um pouco (ou muito, sei lá) condicionada a esse fato.
Pois bem, tem umas coisas aqui que são tão curiosas que preciso partilhar com vocês!

1) Não tem Uber.
Eu já estava mal acostumada com o Uber e, ao chegar aqui, fiquei surpresa porque realmente não esperava por essa. Mas ok, vida que segue com muita bicicleta e tram.

2) Tudo fecha cedo e quase nada abre aos fins de semana.
Já falei disso aqui, eu sei, mas acho tão curioso isso que resolvi repetir.

3) As pessoas colocam a roupa para secar na calçada, do lado de fora de suas casas.
Fiquei chocada quando vi isso pela primeira vez. Nunca iria imaginar que as pessoas colocariam os varais no meio da rua! E, eu diria mais: as pessoas aqui ocupam bastante as ruas. Usam as ruas e frequentam as ruas.

Na quebrada da soleira...


4) Se você precisar ir a algum lugar, o caminho mais rápido, provavelmente, será o percorrido de bicicleta. Às vezes, a diferença de tempo é enorme, mas...

5) Ir de bike pode significar tomar chuva, chuvisco e toró na cabeça durante o trajeto todo. É que aqui, o tempo é bem ruinzinho. Tem até um postal que traz um desenho de um guarda-chuva e muitas gotas e a frase "Greetings from Begium" ("Saudações da Bélgica").

6) Os belgas sabem viver! Ao menos os daqui. Além de várias opções maravilhosas de esportes e áreas para praticar tais esportes, tal como o lago Blaarmeerseen (clica aqui para conhecer o site oficial), eles ainda têm as melhores cervejas, os melhores chocolates, os melhores waffles e inventaram a batata frita! Como se não bastasse tudo isso, trabalham o que precisam trabalhar, andam de bicicleta para tudo quanto é lado e têm uma relação absolutamente saudável com o próprio corpo, nada de neuras de pelancas e nem de necessidade de ostentar um físico perfeito.

7) Por falar em corpo, é bastante comum que o banheiro masculino seja sem divisórias. Isso significa que todo mundo pode ver os homens fazendo xixi nos banheiros: os homens lá dentro e, em alguns casos, onde o banheiro masculino fica perto do feminino, as mulheres desavisadas que olharem na direção errada na hora errada. E eu já comentei sobre o nojento "mictório" que vemos nas ruas, né? Vou poupar vocês, leitorxs, da retomada do assunto.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Ainda da chegada

Chegamos na casa onde estamos daquele jeito que eu contei, né? Exaustos por causa da gincana da mudança e com o fuso deixando tudo mutcho loco nas nossas vidas.
Nas primeiras tardes/noites que passamos aqui, estava quente. Bem quente. Acho que beirava os trinta graus e foi até mesmo emitido um alerta para altas temperaturas.
[Pausa para gargalhadas histéricas. Trinta graus e houve um alerta emitido por conta da temperatura extremamente alta! ahahahahahah]
Bom, mas o que fizemos logo no primeiro dia, assim que chegamos no calor? O que todo mundo faria: abrimos as janelas.
Pior decisão ever!
Já disse que Arthur é ultramegasuper alérgico a picada de mosquitos? Pois é, ele é. Simplesmente a pessoa com a alergia a mosquito mais bizarra que eu já vi. E olha que eu já fui parar no hospital e tomei 10 dias de antialérgico por conta de mordidas de mosquito!
Bom, acho que vocês já sacaram tudo: em Ghent tem mosquito a rodo no verão e Arthur acordou tooooodo mordido. Sorte é que dentro das malas, no mexe e remexe do vai-ou-fica, fiz questão de trazer não só os remédios da alergia (óbvio!), mas também um frasco de repelente que, acreditava eu, usaríamos em Angola.
Fica, então, a dica: se vierem para estas bandas no verão, não se esqueçam do repelente!

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Ghent: em que século estou?

Às vezes é difícil dizer em que século estou, aqui em Ghent. Não tem nada a ver com o castelo de quase mil anos, não. É que existem coisas aqui que me deixam intrigada, porque é tudo tão moderno de um lado, mas tão démodé do outro que decidi listas 5 coisas que parecem ser de séculos passados e 5 coisas que parecem ser de séculos vindouros.

5 coisas de séculos passados

1. Muita gente fuma muito;
2. E toda essa gente joga as guimbas todas no chão, que fica um nojo de sujeira;
3. Eles não usam capacete, embora vivam sobre bicicletas;
4. Os parquinhos têm cheiro de xixi e são bem sujos e eles usam isto aqui embaixo para que os homens façam xixi na rua. Eca!
5. Se você ficar doente e precisar de um remédio de noite, tem de entrar em contato com a polícia para que o farmacêutico seja acordado, pois não existe farmácia 24h na cidade.

Esta foto é de um "mictório" de Amsterdã, mas os daqui são iguazinhos! Eca!


5 coisas de séculos futuros

1. O lixo doméstico minuciosamente separado, lavado e coletado;
2. Bicicletas para todos e para tudo;
3. O expediente termina e as pessoas vão embora, porque viver parece ser tão importante quanto ganhar dinheiro para os belgas;
4. As crianças têm bastante liberdade e é bem comum ver meninos e meninas bem novos indo sozinhos para a escola;
5. Vira e mexe eles não têm governo!

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Outubro rosa

Apaguei. A história não era minha, e quando pensei em deixar o anonimato, converti para rascunho histórias com nome e sobrenome entre os que me conhecem. As minhas histórias ficam. As dos outros não podem, não devem. Só se eu for anônima, porque assim as histórias dos outros seguem protegidas. Optei por continuar anônima, mas apaguei aquela história de cinco anos atrás.
Publiquei no dia - vejam que coincidência - que exatamente um ano depois eu daria luz ao meu filho. E hoje - será que um ano antes de eu dar à luz de novo? será que um ano antes de algo grandioso acontecer de novo? -, mesmo sem vocês terem como acessar o começo, venho contar o desfecho.
Foi vencida pelo câncer de mama uma amiga querida.
Câncer é caminhão, e atropela os sonhos e os planos. E ela estava no caminho, indo em frente como todos nós, seguindo a vida do jeito que a vida deixava. E veio o câncer. E vieram muitas outras coisas depois dele. Coisas de que não vou falar, porque a história, mesmo eu sendo anônima, não é minha. E minha amiga fez o que fez a vida toda: enfrentou, seguiu a vida, buscando vida onde os outros enxergavam a morte. Foi viva, minha amiga, até o fim. Catou os planos e sonhos do caminhão, salvou o que não tinha se partido por inteiro e trilhou a estrada, com coragem. Cinco anos depois, ontem, minha amiga morreu. Deixou em mim saudade e sua história, marcada por coragem e busca incansável. Deixou um vazio no mundo, mas, em mim, também deixou algumas lições. Não vou partilhar todas, mas uma, faço questão.
Por uma infeliz coincidência, em outubro se concentram as campanhas de conscientização sobre o câncer de mama. É o outubro rosa. Por isso, peço licença a vocês, que vêm aqui me ler, para interromper a minha jornada e lembrar da jornada da minha amiga, lembrar às minhas leitoras que câncer de mama é o câncer mais comum entre as mulheres no mundo (no Brasil, ele ocupa a segunda colocação) e é relativamente raro antes dos 35. Minha amiga tinha 32 quando descobriu o câncer. Raro não significa impossível, significa menos comum. Amamentar reduz os riscos de câncer de mama, mas conheço mães que amamentaram e, ainda assim, tiveram câncer de mama. Riscos reduzidos não significa imunidade.
Por isso, façam o autoexame, mas gastem um tempinho para ler esta página, do INCA, que explica por que o autoexame, isoladamente, não é considerado uma ferramenta eficiente de redução das mortes por câncer de mama graças à deteção precoce.
Fiquem atentas a seus corpos, conheçam seus corpos, seus sinais, cuidem-se: vão a médicos, clínicas, façam exames, perguntem quando não tiverem certeza e não tenham medo de pedir segundas, terceiras, muitas opiniões se ainda resta alguma dúvida.
Minha querida amiga nos trouxe esta lição. Sejamos todas humildes e espertas para aceitar e aprender.
Fica a lição, mas fica também a saudade.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O lixo

Se existe uma coisa diferente, bem diferente, ultra diferente na Bélgica é o lixo.
Nada de caçambas ultra-modernas ou inovações nas latas, mas coleta seletiva aqui é uma coisa levada a sério. Muito a sério.
Antes de continuar, peço licença para uma digressão autobiográfica.
Fui criada nos anos 80/90 e coleta seletiva era uma curiosidade na aula de ciências. Lá em casa, lixo era lixo. Coleta seletiva de fato, só quando alguém recolhia um parafuso no meio da rua para guardar "em caso de necessidade" ou quando a escola pedia sucata para fazer algum tipo de projeto de arte.
Nos EUA existe coleta seletiva, e foi lá - confesso com algum eco-constrangimento retroativo - que comecei a separar o que recicla do que não recicla. Minha melhor amiga vive em um esquema alternativo de habitação nos EUA e separa o reciclável, o não reciclável e o orgânico, que vai para a composteira virar adubo. Eu ainda não cheguei a esse nível. Admiro, entendo a preocupação, mas - confesso de novo - morro de nojo daqueles restos de comida fedorentos morando embaixo da pia.
Bom, aí eu vim morar na Bélgica.
[pausa dramática]
Se você está vindo morar aqui, meu conselho é: aprenda sobre o lixo. Que aprender holandês! Que se preparar para o frio, para uma realidade diferente! Que procurar saber sobre a cultura local! O que você precisa aprender agora, já, imediatamente é a separar o lixo certinho. Ah, e é claro, as siglas para os nomes (em holandês) dos grupos de materiais recicláveis.
São nada mais, nada menos que CINCO latas de lixo, fora a coleta seletiva de materiais especiais, como pilhas e baterias e outras quinquilharias. Dentro do nosso imenso quarto-e-sala temos que arrumar lugar para CINCO latinhas de lixo, que depois descem para as latonas de lixo do prédio, que depois são deixadas (só as sacolas, sem as latas) em frente à portaria do prédio nos dias certos da semana. Felizmente, temos quem cuida disso aqui no prédio e não precisei aprender os dias das coletas, mas dentro de casa eu preciso separar e lavar tudo direitinho. Temos um lixo para materiais orgânicos compostáveis, um para plástico e tetrapak, um para papel, um para vidro e um para lixo não reciclável. Perto daqui, mas já em outra cidade, tem uma sexta lixeira, para metais, que aqui vão dentro do lixo comum, segundo a vizinha, nativa, que me explicou pacientemente essa complexa realidade lixesca. É que cada cidade tem suas regras de coleta, dias de coleta e pontos de coleta. Reza a lenda que em Bruxelas as pessoas ganham uma advertência se entregam o lixo na data errada, e que já teve gente em outra cidade aqui perto que recebeu o lixo de volta porque não estava separado de maneira correta. Também ouvi uma história, que não consegui confirmar ainda, de que na mesma Bruxelas da advertência, o lixo é pesado e você tem uma cota mensal, que não pode ser ultrapassada sob pena de multa.
Confesso que depois do susto inicial, agora as coisas já não são mais tão misteriosas assim e fora uma ou outra coisa, eu nem preciso mais ler a embalagem para descobrir em qual latinha jogar meu lixo.
Então, fica a dica: se vier para a Bélgica, dá uma pesquisada de leve sobre coleta seletiva de lixo, porque aprender sobre isso sob a influência do fuso e os humores ébrios não é nada fácil.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Precisamos falar sobre Rozebroeken

Precisamos falar sobre Rozebroeken. Quer dizer, eu preciso falar sobre Rozebroeken, seja lá o que isso signifique em holandês. Mas, Ártemis, como é que você vai falar de uma coisa que não sabe o que é? Ah, eu posso não falar holandês, mas além de ter o google translator a meu lado, eu sei o que Rozebroeken significa em português, e ousaria até dizer em todas as línguas do mundo: o paraíso das águas cloradas!
Rozebroeken é, simplesmente, um complexo indoor de piscinas de águas deliciosamente aquecidas e brinquedos, e tobogãs, e escorregas, e uma piscina de ondas, e spa, e área com hidromassagem, e restaurante onde toda a família pode ir se divertir.
Fica a uma hora de caminhada daqui de casa (15 minutos de bike, se um dia eu perder o medo de me estabacar debaixo de um trole ou de beijar os paralelepípedos históricos) e foi a melhor coisa que fizemos aqui.
Dirão os eruditos: mas e o castelo de 1080? e os passeios de barco pelos canais? e a história, os monumentos e prédios históricos, a cultura flamenga?
Bróder, eruditos podem até ter filhos, mas eles com certeza não tem a voltagem do meu pequeno! Arthur passou uma semana falando do raio do castelo, levamos ele lá para dentro e o menino percebeu que era um museu, onde não poderia correr, gritar, pular, lamber o vidro e nem comer pedra (sim, ele tentou fazer tudo isso). Então passamos da etapa 1 para a etapa 14 da visitação, que por sinal era a última e terminava no pátio de areia entre o muro e o castelo, e ali ficamos até sermos expulsos pelo velhinho rabugento que tomava conta da portaria.
Dito isso, reafirmo: que mané essas coisinhas turísticas e históricas. Bom mesmo foi o Rozebroeken e seus milhares de litros cúbicos de água. Bom mesmo foi ir no tobogã com Arthur e ter um micro-enfarto quando ele, por três longos segundos, escapoliu do meu colo e tomou um senhor caldo no meio da correnteza. Bom mesmo foi levar um apitaço dos guarda-vidas porque Arthur estava ESCALANDO as estatuetas cuspidoras de água e gritando "olha, mamãe! tô aqui no alto!", e marido, míope em um grau ensurdecedor - quem é míope ou convive com um sabe que ocorre um fenômeno sinestésico e assim que umx míope tira os óculos, elx fica automaticamente surdx - gritando do outro lado "vai lá você, Ártemis!", embora ele estivesse a poucos passos do lugar  enquanto eu, tentando não desmaiar de fome, esperava com o dinheiro do troco na mão pelo sanduíche que pedi no restaurante. Bom mesmo foi entrar correndo, então, na piscininha infantil e levar aquele estabaco patético, em que só um lado da cara mergulha, bagunçando o cabelo parcialmente, mas arrasando por completo com a dignidade, só porque você fez um malabarismo inacreditável e salvou os cinco euros que estavam em sua mão. Vejam bem: entre a minha dignidade e cinco euros eu ando escolhendo a bufunfa!
Bom foi Arthur chegar em casa, pedir para comer, comer, pedir sobremesa, comer a sobremesa, pedir para escovar os dentes e passar fio dental (!!!) e, finalmente, colocar o pijama e dizer "mamãe, eu te amo e quero dormir". Como não amar Rozebroeken, esse lugar que acabei de conhecer, mas que já considero pacaraleo? Como não amar seu tobogã onde um gringo (local, na verdade) pinguço me canta? Como não amar seus guarda-vidas se escangalhando de rir do meu tombo?
Olha, se alguém que está lendo meu blog vier passear nestas bandas daqui, com ou sem criança, recomendo muito que vá visitar Rozebroeken e suas águas maravilhosas. Como é indoor, é programa também para inverno, viu?
E para completar minha paixão o lugar tem: 1) cercadinho/bercinho ao lado do restaurante para colocar o bebê molhado enquanto você come, sem precisar sair correndo atrás do engatinhante ou caminhante kamikase; 2) chuveirão coletivo e escaldante (ótimo para relaxar os pequenos depois da piscinada); 3) atividades para todas as idades (tem uma piscina IMENSA com estrutura para diversos esportes aquáticos e, pelo que entendi, eles têm aulas de hidro, natação e cia.); 4) passe familiar; 5) gente disposta a ajudar você com o braceletes high-tech que eles nos dão na entrada e que servem para acionar de um tudo ali dentro, inclusive as travas dos armários no vestiário).


Site oficial aqui.


Tobogã ou "rio selvagem".

Piscinhinha da perda da dignidade. No meio dá para ver a lagarta que Arthur escalou.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Por que perdi a lista de blogs que acompanho???

O que houve? Não consigo me lembrar de todos os blogs que eu acompanhava! Socorro!
Alguém tem uma luz, uma dica, uma palavra de apoio?

Não sei nem como (re)começar a lista!

PS: Como vocês já sabem, mas não custa lembrar, tem post novo toda segunda, quarta e sexta, e as postagens estão sendo programadas porque escrevo quando dá tempo, e geralmente não tenho tido tempo. Então, tardarei, mas não falharei em respostas e visitas, tá? <3

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O drama das malas (e outras histórias) - parte 2

[Clica aqui para ver a parte 1]
Chegamos ao aeroporto com cinco malas: duas grandes, uma imensa (lembra que compramos uma mala? Pois é, escolhemos a maior da loja!) e duas malas de mão. E mochilinha do Arthur e carrinho, claro.
Sair do táxi foi uma prévia do que viria pela frente, mas resolvi viver um minuto de cada vez, caso contrário eu surtaria ali mesmo, no embarque.
Bom, chegamos com algum esforço e muito suor ao balcão de atendimento da companhia aérea. Ali, havia duas balanças, onde pesamos todas as nossas malas (e também nosso filho, já que não consegui marcar consulta com a pediatra antes de virmos embora) e constatamos, não sem um desespero profundo e intenso se apossar de nós, que havia sobrepeso.
Sobrepeso é um nome bem bonito para taxa extra, né? Para um "estão fodidos e vão ficar ainda mais duros antes de embarcar".
Abrimos as malas no aeroporto (por favor, visualizem a cena) e ponderamos como poderíamos passar uns quilos para as malas de mão. Bichinhos de pelúcia foram realocados, cogitamos jogar fora o tapete de brincadeiras do Arthur (também conhecido como Arthurópolis), retiramos um casacão pesadão do maridão e... tchanã! Todas as malas dentro do peso ideal, menos a gigante recém-comprada, que continuava com sobrepeso. Não tinha jeito, não iríamos conseguir redistribuir mais de dez quilos de tralha, então decidimos ficar dentro da primeira faixa de excesso de peso da bagagem. Paciência (tô aceitando frila, viu? se alguém do meu círculo profissional estiver lendo isto, por favor, mande mensagem e trabalho). Aí, fomos fazer o check-in e gerar os bilhetes de embarque. O que poderia acontecer de errado? Nada, certo? O mais difícil tinha passado.
ahahaha (riam comigo)
(mais um pouco)
Já falei aqui que Arthur tem um nome bem comprido e que isso, nos EUA, é uma coisa tipo bizarramente louca e esquisita. Pois bem: a máquina digitalizadora não conseguia ler os sobrenomes do menino e ficamos muuuuuuuuitos minutos tentando gerar os bilhetes. No fim, não conseguimos, e fomos advertidos pelo moço da companhia que poderíamos ter problemas no embarque por conta da fiscalização, que o atendente que fizesse a checagem dos bilhetes precisaria ser compreensivo, já que o nome do Arthur saiu errado/cortado. Ok. Tem outro jeito? Então vamos.
Vocês escolheram uma fila com um atendente paciente e compreensivo? Nem a gente. Precisamos chamar o rapaz da companhia aérea, que veio explicar por que o nome estava diferente do passaporte e tal e, finalmente, passamos.
Ufa! Sem mala, com check-in feito, de posse dos bilhetes de embarque... já sonhava com os sonhos lindos que teria dentro da aeronave. Com as horas que passaria relaxando, sentada, sem carregar mala, sem correr. Com as horas que passaria...
Ah, sim, onde eu estava? Estava, enfim, embarcando. Mas não sem antes ter um filho que se enturmou com duas crianças no saguão do aeroporto e tocou o terror, correndo e passando por baixo das fitas que formavam o serpear das filas de embarque em frente aos guichês. Passageiros sorriam, passageiros faziam caras de reprovação, passageiros eram empurrados e atropelados por aquelas crianças desgovernadas, mas eu deixei. E deixei conscientemente. Porque, pensei eu, é muito melhor que ele queira correr FORA do avião do que DENTRO. E bem melhor que ele gaste energia, que se canse e extravaze para que façamos uma viagem com uma criança cansada. E vocês sabem: criança cansada é criança feliz.
Bom, não posso dizer que foi um voo perfeito, mas também não foi um desastre. Tirando o fato de que eu morro de medo de avião e qualquer balancinho me faz estremecer, tirando o fato de que não sobrou comida para o Arthur (não a que ele queria, pelo menos), tirando o fato de que nos sentamos na última poltrona da aeronave e, acima de tudo, tirando o fato de que eu não consegui pregar os olhos durante absolutamente todas as horas de voo por causa do fuso e do estresse acumulado, o voo não foi terrível.
Terrível mesmo foi a chegada. Primeiro porque não dormi. Segundo porque a companhia aérea perdeu nosso carrinho e Arthur, cansado, sonolento e, óbvio, irritadiço, não encarou isso numa boa (nem eu). Terceiro porque depois da imigração, recuperamos as malas, que eram apenas três, mas ainda assim davam muito trabalho.
Vou resumir aqui as mais de DUAS horas que gastamos entre pegar as malas e ir reclamar da perda do carrinho: foi FODA.
Minha pressão deu chilique, Arthur deu chilique, marido deu chilique, eu dei chilique. Estávamos todos exauridos, esgotados. Acho que marido era o pior de todos, embora tenha conseguido dormir, porque parte da correria final ficou nas costas dele, incluindo reclamar o carrinho, já que Arthur só queria ficar comigo e ele precisou ir sozinho.
Vocês acham que acabou, só porque chegamos em solo belga?
Nã-nã-ni-nã-não!
Chegamos em Bruxelas. Moramos em Ghent. Ou seja: precisávamos pegar um fucking trem até a cidade e, de lá, sabe-se lá o quê mais.
Amigxs, deem aqui um abraço, deem. Eu não sei o que eu fiz na encarnação passada, mas deve ter sido pesado. Porque esse karma de viagem zicada não passa! Ártemis, viajando com caos since 1982.
Descobrir como pegava o trem, arrastando duas malas grandes, uma imensa, duas de mão e uma criança mau humorada de cansaço pelo aeroporto e pela estação de trem foi uma prova de resiliência e determinação incríveis. E, enfim, quando conseguimos comprar as passagens, ir para a plataforma de embarque correta (obrigada, Bélgica, pelos elevadores na estação de trem!), sentarmo-nos em um dos bancos duros do saguão... Arthur quer fazer xixi. O trem chegava em cinco minutos, não havia tempo para ir procurar um banheiro, não havia alguém para perguntar se tinha banheiro dentro do trem, não havia mais fralda que evitasse um acidente desastroso, mas existia a minha garrafinha de água, rapidamente transformada em banheiro.
Finalmente embarcamos no trem certo rumo ao destino certo!
E ele tinha banheiro (fica a dica).
Entre cochilos e "ohhhhs" por causa da paisagem, chegamos a Ghent.
Lembram que agradeci aos elevadores em estações de trem da Bélgica? Esqueçam!
Em Ghent não tem isso. A cidade é medieval e o que tinha eram uns portugueses solidários que nos ajudaram (obrigada! obrigada! obrigada) a descer com as malas por aquelas infinitas escadas da estação.
Cereja do sundae de cocô da nossa chegada foi tentarmos sacar dinheiro no caixa eletrônico para pegarmos um táxi e irmos para a cama, digo, para a casa que (assim esperávamos) tínhamos alugado pela internet, e o cartão ser BLOQUEADO porque nos esquecemos (não sabíamos que precisava) de desbloqueá-lo para ser usado fora dos EUA.
Acho que ficamos uma boa hora na estação de Ghent, ligando para o banco dos EUA, tentando resolver a pendenga.
Resolvemos, entramos no táxi, chegamos no endereço e... era uma casa de verdade! Ufa! O senhorio era um fofo, falou várias coisas, respondi como dava, mas lá pelas tantas me desculpei e expliquei que, para mim, eram quatro da manhã e ele, enfim, nos deu a chave da cama, digo, da casa.
O fuso me castigou, vocês já sabem, mas hoje eu vejo que o que não nos mata, nos fortalece: tinha uma celulite na minha coxa direita que foi extirpada com essa maratona de sobe-desce-puxa-empurra de malas. Quero dizer, foi extirpada no primeiro dia, porque aqui tem cerveja e chocolate, e a celulite está aqui de volta, firme e forte. Mas prometo que vou chegar o ao Rio sem ela: ainda temos três malas mais duas de mão para arrastarmos de volta, todo este trajeto de novo. E depois de novo. E de novo. E de novo...