quarta-feira, 29 de junho de 2016

Quase um cachorro

Poizé, povo.
Nem só de desmaios vive esta pessoa aqui.
Também vivo de limpar gaiola pelo menos três vezes por dia. Também vivo de dar alface, feno e ração e também de soltar a pobre bichinha pela casa (e depois sair limpando xixis e cocôs infinitos).
Coelho é um bicho muito fofo, mas que faz tanto cocô quanto um RN em livre demanda. Só que sem fralda. Faz EC com ela, Ártemis, dirão as pessoas mais fanfarronas. Rá rá rá. A verdade é que coelhos são fofos e lindos, mas, sinceramente, prefiro cachorro. Cachorro abana rabo quando você chega, obriga você a passear e ver o mundo todos os dias, dorme enroscado com você sem fazer xixi e cocô na cama e ainda atende quando você chama. Porque Jessie não atende. Já tentei os mais variados sons e gestos, até mesmo um suborno com suculentas folhas de alface, sem efeito. Agora, fiquei muito surpresa com outras duas coisas (além do cocô abundante e onipresente): coelhos fazem barulho e coelhos lambem você!
Jessie, especialmente, é muito carinhosa e outro dia veio ficar no meu pé enquanto eu embalava Arthur no colo. Uma fofura! Sempre que eu a solto, ela me procura e tenta ficar perto. Não é raro ela se deitar rente a meu pé ou perna e ficar ali. Aceita carinho e é infinitamente menos arredia que Lola, a porquinha-da-índia que hospedamos ano passado.
Ontem estava limpando a gaiola (pela terceira vez no dia), meio de saco cheio, confesso, pensando que puta saco é isso de ficar limpando bolinhas de fezes e jornal xixizado, espargindo grama seca e enchendo potinho de ração quando me lembrei de uma coisa que mudou a maneira como passei a encarar tudo isso. Na escola do Arthur, cada sala tem bichinhos diferentes. Na dele são Jessie, Blue (um beta) e a tartaruga (esqueci o nome). Mas na sala da amiguinha dele, tem um sapo. Um sapo! Que com certeza está na casa de um voluntário, sendo alimentado e cuidado sabe-se lá como. Um sapo que fez Jessie parecer ainda mais fofa e interativa. Quase um cachorro.
Acho que estamos indo bem, portanto.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Emoção, de novo

O microfone anunciou: a biblioteca vai fechar dentro de quinze minutos.
Quem primeiro ouviu isso, ao que parece, foi meu estômago, não o ouvido. Isso porque, ato contínuo, comecei a sentir a barriga roncar. E quando minha barriga ronca, na mesma hora, meus dedos dos pés e das mãos ficam gelados e eu sei que dentro de poucos minutos (dois, três?) eu irei desmaiar.
Então, saí correndo. Passa cartão, passa livros no scanner, enfia tudo dentro do carrinho, vamos embora! Lá fora, sol intenso e trinta e três graus.

Chego ao caixa. Não me lembro bem de como atravessei a rua, entrei no supermercado, verifiquei as opções de comida e escolhi o que queria. Todas as minhas energias estão voltadas para três coisas: Arthur, não desmaiar e grunhir coisas minimamente inteligíveis para a moça que está me perguntando alguma coisa pela segunda vez.
Oi?
Ela, incrédula, tenta de novo: "Isso é SOPA?"
Aqui reverbera dentro de mim: SOPA, SOPa, SOpa, Sopa, sopa.
É. É, sim. Sopa.

E foi assim que tomei uma sopa bem quentinha no verão estadunidense e, mais uma vez, evitei um desmaio, mas não o vexame.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

4 anos

Há quatro anos que este é o dia mais maravilhoso do ano!
Que haja sempre saúde, respeito, paz e harmonia para comemorarmos muitas e muitas vezes esta felicidade!

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Jessie is in the house!*

Eu tenho um conselho, amigxs: se forem ler e-mails, não bebam.
Se alguém tivesse me dado essa maravilhosa obra de arte em forma de advertência, provavelmente, eu ainda conservaria uma parte de minha sanidade.
Tudo começou quando marido e eu resolvemos abrir um vinho ANTES do jantar. Dia difícil, sabem? A gente bebeu feito adolescentes e, quando foi comer, já estávamos bêbados. Nada demais, é verdade. Não caímos, não embolamos a língua, mas estávamos indiscutivelmente bêbados.
Então marido comentou:
- Você viu o último e-mail das professoras do Arthur?
Eu não tinha visto e fui com ele até o computador. Lemos. E decidimos:
- Claaaaro! Responde aí pra elas que a gente pode ficar, sim, com a Jessie.
Porra. PORRA, vinho!
Jessie é a coelha anã que mora na sala de aula do meu filho. Durante o verão, quando a escola entra em recesso, os bichinhos das salas são despachados para diversos lares de otários, digo, voluntários. Ano passado nós, sóbrios mesmo, ficamos com a porquinha-da-índia doente (não sabíamos, óbvio, que ela estava doente). E este ano, o quê? O quê? O quê? Resolvemos beber e responder e-mails e ficamos com um coelho na sala.
Sabem aquela piada do rapaz que está desesperado com a vida que leva e, ao se consultar com um sábio, é aconselhado a colocar um bode na sala? Tudo questão de perspectiva, carxs. Tudo perspectiva.
Agora estamos aqui, nós três e o coelho. Preciso de mais vinho.



* Jessie está no pedaço!

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Vamos falar sobre amamentação?

Eu estava grávida, sentada no banco de carona de um carro, quando a irmã de um amigo meu, irmã que eu mal conhecia, que tinha visto de relance umas duas vezes na vida, veio correndo do outro lado do estacionamento e gritou, segurando o cachorro pela coleira:
- Olha, amamentar dói! Mas ó: não desiste, não.
Outro dia, Arthur recém-desmamado, encontrei com ela. Comentei o quanto aquela frase foi importante para mim, agradeci e segui caminho.
Realmente, amamentar pode doer no começo. Para mim, doeu muito. Doeu até Arthur ter mais de 1 ano. Doeu constantemente. Doeu de eu precisar ir ao IFF, me consultar com uma fono especializada em amamentação, de eu tomar analgésico de 8 em 8 horas. Eu, que pari sem anestesia, amamentei na base da sedação, porque eu chorava de dor.
Tem gente que não sente nada? Amiga, se tem gente que vota no Bolsonaro, por que raios não teria gente que amamenta sem dor? Tem gente que gosta de coentro. Tem gente que dá à luz sem nem sentir contração. Tem gente que não gosta de chocolate. Claro que tem gente que amamenta sem sentir nada, que dorme junto do recém-nascido enquanto ele mama, que acerta de primeira todo o processo e pronto. O mundo tá cheio de gente de todo o tipo.
Eu costumo falar isso para as grávidas que me perguntam da amamentação: que amamentar pode doer, que é melhor se informar, se preparar, que eu vou torcer para ela não sentir nada, nada, mas que se sentir, toma aqui o telefone do IFF, também pode procurar outro hospital com banco de leite, anota aí o site e o telefone da fono que me salvou, não esquece de ler este relato e o livro que vou indicar. Boa sorte, vai lá, tudo de bom, boa hora!
Nas reuniões que participei do grupo Amigas do Peito, falava-se em apojadura (descida do leite), pega correta, adaptação do terceiro mês e vida que segue depois que tudo entra nos eixos. As consultoras da La Leche League comentaram comigo sobre monília (cândida/fungo no seio) e ordenha para estocar leite quando voltando ao trabalho. O IFF me ensinou ordenha manual, pega, como lidar com um cisto doloridíssimo que tenho, como observar ganho de peso e se está havendo a ingestão correta de leite. O pediatra do meu filho me instruiu sobre a dieta que eu deveria fazer para ele parar de vomitar em jatos. E foi assim que, depois de tantas consultas e profissionais envolvidos, eu achei que aos seis meses eu estaria expert em amamentação, fazendo tudo com os pés nas costas e que, ai, mal posso esperar para amamentar enternecida de amor e achando aquilo a coisa mais divina e maravilhosa do universo inteirinho!
Acontece que havia dois erros neste raciocínio. O primeiro é totalmente imprevisível. Eu poderia ser das pessoas que não gostam de chocolate e não sentem dor para amamentar, mas sou das chocólatras e fui das que sofri MUITO para amamentar. Dores, dores, dores e mais dores. De todos os tipos, intensidades e origens. O segundo erro é sobre o que eu realmente quero falar neste post.
As pessoas costumam achar que amamentação pressupõe um desenvolvimento linear e progressivo da técnica e do prazer ligado ao ato. A grosso modo, talvez seja assim, sim. E, novamente, quem sabe para aquela sua prima do interior que não curte sorvete isso tenha sido exatamente desse jeito.
Mas o que vejo acontecer com muita frequência são mães que estão amamentando prolongadamente (acima dos seis meses) e que começam a desejar ardentemente o desmame. Ninguém fala para a gente que amamentar também enche o ovário! Que amamentar um ser que tem dentes pode ser um desafio (como ensinar para um bebê de sete meses que aquele barulho engraçadíssimo que ele provoca é, na verdade, o grito esganiçado da mãe que acabou de perder um pedaço do mamilo?). Amamentar pode ser tedioso, pode ser penoso, pode ser desgastante e até mesmo angustiante. O ato de amamentar não é um gráfico em linha reta que, conforme vão passando os meses vão aumentando o prazer e a alegria de amamentar. Não! Amamentar pode exigir que você volte ao banco de leite ou que ligue para a consultora de lactação aos nove meses do pimpolho, porque nem você, nem ele sabem o que fazer com tanto dente naquela boquinha. Amamentar pode ser tão desconfortável à noite ou quando você gostaria de estar fazendo qualquer outra coisa durante o dia que você quer desmamar agora, 1, 2, 3 e já! Amamentar pode ser desafiador e trazer doencinhas ou incômodos realmente importantes. Pode fazer você desenvolver tendinite, travar coluna, dar dor de cabeça por tensionamento dos músculos das costas e pescoço, pode levar a uma condição clínica de falta de vitaminas ou minerais. Amamentar é difícil para caraleo! E pode estar tudo bem no mês 3 e, de repente, no mês 8 dar uma vontade horrível de desmamar logo. Aí você aguenta mais um pouco porque a OMS recomenda amamentar até pelo menos 2 anos e no mês 10 tudo volta a ser delicioso. Até que entra o mês 14 e você tem vontade de jogar a toalhar de novo. E assim vamos, nessa montanha-russa de sensações, emoções, vontades e habilidades.
Mas ó: não desiste, não! Quando você achar que já chega, basta, respira fundo, pensa se é isso mesmo que você quer ou se só está cansada, frustrada e desestimulada. Se for para desmamar, que seja pelos motivos certos. E esses, você sempre sabe quais são. Caso contrário, pensa que eu sou a irmã do amigo com o cachorro na coleira: não desiste, não!
;)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Go, Cubs!

Uma das coisas de que mais gosto por morar fora é conhecer uma maneira diferente de ver e viver o mundo. São coisas que no turismo muitas vezes nos escapam, mas que no dia a dia também podem ser difíceis de entender ou até mesmo vivenciar.
Recentemente, fomos a um jogo de beisebol. Tipo do programa que não costuma fazer parte do roteiro turístico, a não ser que a pessoa seja umx grande fã de esportes ou, mais especificamente, beisebol. Até mesmo aqui nos EUA, a fama do esporte é de "devagar" e nem todos morrem de amores.
Fomos convidados por um casal de amigos nascidos e criados aqui, o que facilitou muito as coisas para nós, pois era como ter uma Wikipedia do beisebol ali ao lado, bastando perguntar as coisas mais estapafúrdias que queríamos (que o digam as pessoas na fileira da frente, sempre morrendo de rir das minhas sem-noçãozices).
Antes de irmos ao estádio, fomos almoçar com nossos amigos. O restaurante era, digamos, sui generis. Uma cantina italiana no estacionamento de um mini centro comercial. Parecia, por fora, uma daquelas portinhas que vendem fatias de pizza no Brasil, ou uma filial minúscula do Subway, com cadeiras de plástico do lado de fora e uma linda vista para uma lavanderia e um salão de depilação. Do lado de dentro, porém, o menu era tão grande e variado, que tivemos dificuldade de escolher: de pizza a chicken wings, de salada a hambúrguer, era um excelente restaurante ítalo-americano. Comi um macarrão que saciaria a fome de 5 leões de jejum, e estava delicioso!
Do restaurante, seguimos para o jogo.
O estádio fica no meio da cidade, cercado por ruas estreitas (duas ou três pistas). Sempre passo por ali de metrô e vejo a movimentação e o símbolo do time. Hoje, as ruas ao redor do estádio estavam cercadas e com um esquema de trânsito, pois parece que os Cubs estão em uma boa temporada (pelo que fiquei sabendo, faz muito, muito tempo que eles não ganham nada). Passamos nos detetores de metal, mostramos os pertences em nossas bolsas e mochilas (tive que jogar fora minha garrafa de água, mas pude entrar com o sanduíche, fica a dica para quem se interessar de fazer o programa na próxima viagem) e apresentamos os ingressos. Não existe portal ou nada muito suntuoso na entrada, então você dá dois passos depois de validar o ingresso (o que é feito por pessoas em pé no vão de entrada do prédio, não em guichês ou catracas) e já está no meio da confusão de azuis, vermelhos e brancos portando copos de cerveja, amendoins e cachorros-quentes. Do lado de fora, ainda a caminho do jogo, ouvimos a partida começar e a multidão comemorar. Do lado de dentro, os primeiros sons eram passos, vozes e muitas risadas, pessoas, claro, consumindo: comidas, muitos souvenirs, produtos oficiais e tal. A primeira loja é uma que vende camisas, bonés, ursinhos (cubs são filhotes de alguns mamíferos, neste caso, de urso, que é o símbolo oficial do time) e outras quinquilharias carérrimas. Há uma série de "restaurantes" lá dentro e foi muito interessante notar a cultura alimentar relacionada ao esporte: pizza (a tradicional de Chicago, chamada Deep Dish Pizza, que parece, na verdade, uma quiche de pizza, porque é suuuuuuuper recheada), cachorro-quente, amendoim (!), sorvete tipo casquinha do McDonald's, pipoca pré-ensacada, batata frita "frisée" e, claro, cerveja e refrigerante. Tudo lá dentro é muito, muito, muito caro. Comprei uma água, um sorvete e uma pipoca e paguei quase 20 dólares! Socorro! As filas também são imensas e onipresentes: banheiros, caixa eletrônico, compra de comidas e bebidas, até mesmo para ir para o lugar onde você está sentado tem uma "fila", ou um tráfego intenso.

Uma das logos do Cubs.

Minha primeira impressão/emoção ao subir e ver o campo foi parecida com a primeira vez que botei os pés no Maracanã. Com um pouco menos de referência e de fantasia, claro, porque não tenho TV em casa e nem cultivo o hábito de acompanhar beisebol. 
É muito emocionante e empolgante ver um estádio lotado!

Estádio lotado. Torcedores do Cubs e do Phillies sentam-se lado a lado.

Chegamos à arquibancada pelo lugar que é considerado o melhor setor, que se localiza, claro, perto de onde o rebatedor fica. De lá, seguimos para a esquerda. Estávamos longe do campo, nunca pegaríamos, por exemplo, uma bola perdida, mas achei uma boa localização, porque ficamos na sombra o tempo todo (existe uma parte da arquibancada que não tem telhado e o pessoal fica, sim, tomando sol ou chuva na cabeça) e tínhamos uma boa visão/perspectiva do jogo. Assim que chegamos o Cubs marcou um Home Run, que é o objetivo do jogo. Outro já tinha sido marcado antes de chegarmos e foi muito bacana comemorar junto com a torcida!

Visão que tivemos do jogo.

Não sei se assistiria uma partida de beisebol pela TV, porque realmente deve ser bem pacato, mas no estádio eu adorei! Como disse uma das pessoas que estava nos recebendo, trata-se de um jogo bastante social, com longas pausas e muita conversa entre as jogadas. Cada jogador tem uma música para quando vai rebater e isso é bem divertido, não só pela música em si, mas porque dá para notar as preferências musicais de cada um. 
Em determinado momento do jogo (no meio do sétimo "inning") há um intervalo e as pessoas ficam de pé e cantam uma música muito famosa para os norte-americanos (tipo um "Garota de Ipanema" dos esportes): Take Me Out to the Ball Game. Todo mundo sabe a letra e tem uma hora que eles contam até três, em um alvoroço, em um êxtase tão grande que foi bem emocionante estar lá no meio.
Saímos antes de o jogo acabar. Assim como acontece no Maracanã, a estação de metrô e o entorno do estádio fica uma muvuca imensa, e queríamos evitar o ápice da multidão. Os Cubs, à aquela altura, estava ganhando por 7 X 1 (jogavam contra o time da Filadélfia).
Depois, ficamos sabendo que os Cubs ganharam por 7 X 2.

Algumas curiosidades:
  • As torcidas ficam misturadas na arquibancada e também fora do estádio; embora o clima seja beeeem pacífico, os perdedores recebem uma zoadinha marota bem amiúde.
  • Os jogadores perdem muitas bolas ao longo do jogo e os espectadores podem pegar essas bolas e levar para casa.
  • No entanto, se a bola que cai na plateia for uma que, arremessada e rebatida, deu origem a um Home Run do adversário, é tradição dos torcedores dos Cubs jogar a bola de volta ao campo. As pessoas que estão perto da que pegou a bola se põem de pé e começam a gritar, instigando que ela "devolva" a bola. E comemoram depois que isso acontece.
  • Quando o câmera passa pelos corredores para filmar o público (que vai aparecer nos telões), as pessoas ficam loucas, gritam, pulam, fazem coisas para chamar a atenção da câmera.
  • Um dos jogadores foi substituído pelo técnico porque errou várias jogadas em sequência, e saiu ao som de "Hit the Road, Jack", o que foi muito engraçado (embora eu tenha ficado com um pouco de pena do rapaz).
  • Quando alguns jogadores são anunciados, os torcedores vibram muito.
  • Antes do último arremesso do time adversário, ficam tocando musiquinhas, para "dar um clima" à jogada.
  • Tive ímpetos de me levantar e dançar quando começaram a tocar nossa velha musica de torcida "Uh, tererê", também conhecida por "Whoomp, There It Is".
Recomendo muito a experiência e Go, Cubs!