terça-feira, 19 de agosto de 2014

Volver

Estou no Brasil.
É estranho.
Voltar sempre trouxe desafios. O olhar estranha prédios novos e velhas histórias, as coisas parecem fora de lugar mesmo quando são exatamente iguais, os lugares parecem sempre estáticos, o que nos faz extáticos.
Essa volta, temporária e necessária, veio bem a calhar. Veio fora de hora. Veio, enfim, assim, contraditória e confusa, me engolfando nas diferenças entre a vida que deixei e a vida que ficou.
Arthur abraçou a língua portuguesa como se fosse o último de seus afetos. Ama as palavras e repete "no, no, no" se puxo papo em inglês. Arthur desatou a língua, que, solta, conta histórias e mais histórias, protesta, diverte, comunica num tagarelar impressionante. Meu filho conjuga verbos - até os irregulares - numa prodigiosa parlação cheio de idas e vindas do passado e ao futuro.
Menino esperto, esse meu. Sabe ir e voltar, partir e regressar, trazer e levar: eu fui, farei, amo e tantos outros tempos e verbos.
E a mãe dele aqui, perplexa na estranheza de estar outra, mesmo que há mais de trinta anos eu esteja outra e outra e outra.