quarta-feira, 12 de março de 2014

Hiato

Eu mirava a minha imagem refletida quando notei que o que eu estava usando não caía muito bem. Faltava um pouco ali, sobrava um tanto acolá. E então, vendo além do meu próprio rosto, fitando o cursor piscando ritmadamente na tela, entendi que era hora de parar.
Não caibo mais aqui. Sobra e falta ao mesmo tempo uma porção de coisas que deveriam estar na medida.
Volto? Muito provavelmente. Mas por ora a decisão é pela pausa. Necessária e fundamental para ajustar medidas.
Continuarei lendo (muito) e comentando (pouco). Respirando sempre.
Obrigada pelas trocas feitas aqui.

sábado, 8 de março de 2014

Dia das mulheres

Arthur dorme. Junto dele, um bichinho de pelúcia. Cor-de-rosa. Quando ganhamos o brinquedo, ainda durante a gravidez, foi com a promessa de que receberíamos um outro porquinho azul (temos uma história familiar com porquinhos. Piada interna). Não comentei nada porque já sou a chata da família, mas pensei "qual o problema de ter um porquinho cor-de-rosa?". Além de porquinhos serem cor-de-rosa na natureza, cores são cores, para todos, para todas, sem preconceito. E porquinhos também.
Arthur nasceu, ganhou um porquinho azul, e hoje em dia só dorme com Zé Porqueira, o porquinho cor-de-rosa. O outro, azul, nem nome tem, porque ele não curte muito. Pega, acha graça, mas só por um minuto. Já Zé Porqueira é sensação! Ajuda a fazer tarefas chatas, ganha abraços e beijinhos espontâneos, dorme agarradinho, é requisitado amiúde e com muito afeto.
Eu estimulo. O afeto, as cores múltiplas em brinquedos, a construção de um ambiente livre para experimentações, como a infância deve ser. Brincar, testar, experimentar: cores, bichos, roupas, fantasias, papéis sociais. Arthur varre, brinca de carrinho, faz comidinha, abraça o Zé Porqueira, chuta a bola de futebol, arremessa a bola de basquete e lê os livrinhos que escolhe na biblioteca (e os que eu escolho também). Sem restrições.
E por que estou falando tudo isso? Porque hoje é dia 8 de março, e não podemos querer um mundo com mais justiça de gêneros se dentro de casa já começamos a segregação e a disseminação dos preconceitos arraigados na nossa sociedade. Despir-se de ideias retrógradas e educar seres mais conscientes das diferenças, lutas e direitos (ou falta deles) é obrigação de todas as mães. As de meninos e meninas. Para que, enfim, possamos caminhar com mais firmeza em direção a uma sociedade que trate de maneira equilibrada as diferenças entre gêneros e identidades sexuais.
Feliz dia das mulheres.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Olhe as unhas do pé

Se você está tentando engravidar, peço que olhe as unhas do pé do seu parceiro. Agora. Vai lá. Eu espero.
Olhou?
Então saiba que seu filho pode nascer com as unhas do pé dele. Aconteceu aqui em casa. E olha, vou dizer que se tivessem me dito isso antes de eu engravidar eu teria me preparado psicologicamente para a aventura que é cortar unhas tão diferentes das minhas.
Tenho quase trinta anos de prática de cortar minhas unhas, e cumpro a tarefa muito bem, obrigada. No entanto, você não percebe (ou não se lembra) de quão difícil pode ser cortar as unhas de um pé até que precise cortar unhas diferentes das que você tem.
Aliás, não sei se te contaram, mas seu bebê pode herdar uma porção de coisas diferentes de você, e aí, além de todo trabalho que um bebezinho dá, você ainda vai ter de enfrentar o desafio de realizar tarefas em anatomias nunca dantes exploradas, em personalidades totalmente diferentes da sua, diante de padrões ou comportamentos inéditos (aposto que o filho de alguém que me lê faz coisas i-gual-zi-nho a um dos avós!).
É, é duro!
E ninguém te conta isso. Ao menos, nunca me contaram.
Então, recomendo: antes de engravidar, ou antes de parir, vá lá dar uma olhada nas unhas do pé do companheiro.
Mas não olhe demais, senão é capaz de você desistir de engravidar ao pensar em todos os defeitos ou diferenças que seu filho pode herdar e perder o que há de mais especial, que para cada mãe significa um aprendizado único e intransferível no que se refere à maneira de lidar com o outro.

terça-feira, 4 de março de 2014

Luz

A noite vai quase alta, e estamos sozinhos em casa. Telefono para marido e pergunto que horas ele vem. Vai demorar ainda. Resignada, vou agitar a vida, colocar o menino para dormir, organizar o dia que virá. Tiro a calça para entrar no banho.
Toc toc toc.
Não acreditando no que ouço, paro, aguço a audição e escuto novamente.
Toc toc toc.
Marido não é. Acabou de desligar e não vinha antes das onze. Amigo não é. Não conheço quem venha sem avisar e ninguém tocou a campainha lá de fora.
Toc toc toc.
Insistente.
Toc toc toc.
Assalto? Fogo? Polícia? Quem entra no prédio sem tocar campainha/interfone? Pedinte? Senhorio? Paramédicos? Quem está no prédio? Vizinho pedindo açúcar? Parente que ficou preso do lado de fora do apartamento? Engano? Quem? Correios? Entrega? Pizza?
Visto a calça, ajeito a blusa, encaixo Arthur na anca.
Nhéééééé.
A porta se abre, misteriosa e lentamente, o ranger soando afinado com meu coração disparado, histérico, fantasiando mil histórias e desfechos. Do outro lado, no corredor, a japinha loira que mora no andar de baixo. Sorridente, lápis e papel na mão, leva embora o que restava da minha sanidade ao perguntar:
- Sua conta de luz aumentou no último mês?