quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Vida loka

Eu fui uma jovem selvagem. Tá, nem tanto. Mas fiz minhas besteiras bem besteirudas, daquelas que, hoje em dia, mãe, penso e me arrepio da cabeça aos pés. Que Arthur não faça essas besteiras, oh, céus!
Então que eu cresci, casei, engravidei e pari. Achei que, então, minha vida loka tinha se acabado, que nunca mais eu faria coisas ousadas e temerárias, que minha vida seria um recanto bucólico parnasiano: eu maternando na torre de marfim.

Guarde essa informação.

Você, querida leitora (ou leitor) que usa maquiagem (por motivos profissionais ou pessoais, não importa), lembra-se de quanto foi difícil começar a passar rímel e lápis de olho? No começo, tudo borrava, você piscava bem na hora em que estava com as cerdas do aplicador na última parte dos cílios, e passava num piscar de olhos, literalmente, de femme fatale a ursa panda. É ou não é? Bom, aí você foi lá, insistiu, assistiu a tutoriais, viu a tia se maquiar, conversou com a amiga, assistiu programas na tevê, treinou, treinou, gastou cinco vidros de demaquilante, aprendeu a usar rímel lavável em vez de usar o à prova d'água, e depois de quinze anos consegue se maquiar até em ônibus em movimento?
Amiga, amigo, experimenta se maquiar com o filho escanchado no quadril! Isso é ousadia, isso é selvageria, isso é perigo real e imediato de cegueira ou sufocamento porque o pimpolho engoliu a tampa do lápis de olho!
Bom, mas a ousadia que resgatou em mim os tempos de molecagem marota e inconsequente não parou por aí, não. Não pensem que me dei por satisfeita só por passar make-up com o pequeno a tiracolo! Nem que sagazmente passar perfume sem atingi-lo (embora ele ainda estivesse no meu colo!) foi um feito louco e delirante. Não, queridas e queridos! A insanidade real, que me faz ficar arrepiada da cabeça aos pés só de relembrar o momento foi usar minha caríssima blusa de caxemira BRANCA fazendo tudo isso e, depois, levando o filhote, fã de morangos e blueberries (no colo, claro!), a um JANTAR, com frutinhas, verdurinhas, friturinhas e tudo mais que poderia manchar e destruir para sempre o pouco de dignidade glamorosa que ainda me resta.
Mas, como diria Júlio César (o general romano, não o goleiro): vim, vi e venci! Voltamos, eu, Arthur e a blusa branca de caxemira incólumes para casa.
Quero dizer... Arthur nem tão incólume, já que resolveu mamar na festa, e puxou a blusa, e está até agora parecendo um mini-Gandalf de tanto pelo branco.

E eu achando que meus dias de selvageria tinham-se findado.
Dáblui, dábliu, dábliu, vidaloka ponto com.

sábado, 21 de setembro de 2013

Nossos filhos, esses estranhos

Eu me lembro até hoje: veio na agenda da creche "Arthur disse a palavra 'bola' diversas vezes hoje." E foi assim que eu fiquei sabendo da primeira palavra do meu bebê. Muito triste, achei.
Essa coisa de deixar em creche sempre me deixou deprimida. Ainda grávida, sofria antecipadamente ao pensar que chegaria o dia em que deixaria meu filhotinho, gestado e parido com tanto amor, acalentado com tantas mamadas e atenções, na creche, aos cuidados de pessoas estranhas, que certamente não teriam o mesmo amor que eu tenho por ele. Sofria. Sofri. Muito.
Daí, tive a oportunidade de ouro de largar carreira, dinheiro e canudo, e ir cuidar do meu molecote, sozinha, no conforto do meu lar, 24h por dia, sete dias na semana, inclusive sábados, domingos, feriados e dias de doença e convalescença. Oportunidade de ouro, eu sei, tenho consciência dela a cada diazinho que acordo e não preciso me arrumar para ir ao trabalho, só ao parquinho; a cada tarde que curto meu bebezinho grudado a mim, aprendendo as coisas do mundo, da vida e sobre mim bem diante dos meus olhos. Eu sei. Mas não é porque eu sei da minha sorte que eu não sinta cansaço, que eu não fique estressada e até mesmo frustrada de vez em quando. Quem cuida de um bebê em tempo integral sabe do que estou falando, e é óbvio que essa foi minha escolha consciente, livre e deliberada: aceitei seus bônus e seus ônus, e acho que, sim, fiz muito bem a mim, a ele, à família.
Então, hoje, quero falar um pouco sobre o cansaço e a frustração de ser mãe integral, sobretudo depois de ter sido mãe proletária com CLT.
Quando eu trabalhava nove horas num escritório, sentada numa mesa toda minha, com prazos e projetos que dependiam de mim e somente de mim para irem adiante, eu me sentia frustrada e estressada. Cansei de sonhar acordada no meio do expediente, pensando no programa de fim de semana que iria fazer, antecipando o momento em que meu filho deitaria os olhos em mim, jogaria os bracinhos para o alto e viria diretamente ser acarinhado em meu seio. No mundo cor-de-rosa dos que estão infelizes com a realidade em que vivem (eu amava meu trabalho, claro, mas havia uma confluência de fatores intra e extra-empresariais que me despertavam outras ambições), mudar a realidade significa viver em um paraíso cristão: sem dores, sem sofrimento, com alguma culpa. Acontece, minha gente, que aqui na Terra, ao menos até onde me conste, tal paraíso não existe, e é por isso que o nosso livre-arbítrio é tão fundamental para sermos felizes. Não vou me alongar muito nesse quesito porque todo mundo sabe disso e eu não estou aqui para escrever um post de auto-ajuda alheia (auto-ajuda própria, sim, certamente!). Vamos então só passar adiante, e eu conto para vocês que, mesmo sabendo que eu estava idealizando a maternagem em tempo integral, eu achava que não haveria frustrações e estresses do mesmo nível de intensidade que eu vivia na panela de pressão social chamada "dupla jornada feminina": mãe-e-proletária-CLT.
Mais uma cuspidela para o alto, né? O que me faz questionar o gênero de Murphy: será mesmo um homem? Porque está com cara mesmo é de mulher, que entende do babado de se lascar na vida, então, por isso, cumpre seu papel com maestria.
Digressei, eu sei. Volto.
Bom, então, estava eu, com meu filho que dizia "bola", agora vivendo o Eldorado das attached mommies, em casa em tempo integral, levando ao parquinho, à biblioteca, ao ginásio de atividades, vendo de perto ele enfiar mãos cheias de areia nojenta na boca, assistindo ele descer às gargalhadas o escorrega, ficando apavorada quando ele se estabacava de cara no concreto (abriu o lábio duas vezes, o safado!), quase até adivinhando qual brinquedinho babado que ele enfiara na boca havia causado a gripe que ele pegou, quando eu me dei conta de uma coisa muito, mas muito, muito, muito importante. Meu filho, naquele momento, era quase um estranho para mim.
Quando ele saiu de dentro de mim, berrando, escorregadio, macio e quente, ele era um estranho completo. Não reconheci nele nada: suas feições eram novas, seu choro nunca fora ouvido, suas expressões, manias ou seus trejeitos eram todos inéditos. Até mesmo espirros e bocejos eram surpreendentemente ímpares. Quem pariu sabe (e quem teve o bebê por cirurgia ou adotou, também, é claro!). É uma delícia ir descobrindo e conhecendo nosso bebê, e talvez porque você está ali, num processo íntimo, delicado e sensível, de mútuo conhecimento (no caso do bebê, muita coisa de reconhecimento acontece), é que irritem tantos os pitacos: mexe com a nossa insegurança normal de mães recém-nascidas, que não sabe NADA sobre o próprio filho. E não sabe nada, mesmo que tenha feito mil cursos, quinze ultras 4D por mês, mesmo que tenha dezenove filhos mais velhos. Esse bebê que acabou de sair da sua barriga é inteiramente novo e uma incógnita absoluta.
Bom, daí você fica no chamego ocitocínico dos primeiros dias, depois se apaixona por cada pedacinho daquela pessoinha nova (até pedacinhos fedorentinhos), curte, ama, se doa, se dói, se entrega e, enfim, depois de uns três meses, você finalmente está apta a dizer que conhece seu filhote. Se chora assim, é sono; se come a mão assado, é fome; cocô mole, dente; risada de banda, fez xixi; agitou as mãozinhas, chega de balanço; os pezinhos não param, está ansioso. E por aí vai. O processo às vezes vai mais rápido, às vezes, mais devagar, mas, geralmente, quando terminam os três primeiros meses a mulher que nasceu mãe já sabe alguma coisa do bebê que nasceu...bem, bebê.
Porém, no injusto mundo das mãe-proletárias-CLT, é logo depois desse período e desse processo tão importantes e complexos que elas são obrigadas a delegarem os cuidados dos pequenos seres a pessoas que, tendo laços de sangue, de amizade ou monetários, passarão a anotar ou informar sobre o que acontece com seus pequenos durante o período em que mãe e filho(s) estão afastados. É cruel. Há quem não ache e goste de voltar ao mercado de trabalho, quem sinta até certo alívio por ter interações sociais que não versem sobre filhos e maternidade. Essas mulheres estão felizes com sua escolha. Mas eu não estava, lembram? Então esse post vai um pouco enviesado: sob o ângulo da frustração de um dia, em casa, ao abrir a agenda da creche, ler que meu filho falou "bola". (E frustração enorme, para mim: ele chegava em casa dormindo já, então nem dava para pedir que ele repetisse a gracinha!)
Frustrada, criei um mundo idealmente maravilhoso, em que eu acordava, dava bom dia para marido, filho e flores do jardim, ia preparar café da manhã, comia, brincava com o pequeno, dava até logo para marido, passeava pela cidade, comprava morangos frescos, sentia a brisa bater nos cabelos, ensinava para filhote os nomes de todas as coisas do mundo, sorria, vivia leve como uma pluma. Claro que eu precisaria fazer xixi com ele no colo, comer rapidinho, de repente interromper um programa bacana porque Arthur não estaria muito contente naquele momento, com sono, fome ou algum outro incômodo. E com essa visão foi que eu me demiti.
E foi com essa mesma visão que, ao chegar aqui, nos EUA, eu notei uma coisa muito importante: Arthur, depois de tanto tempo na creche, era um estranho para mim. De novo. Eu não sabia suas músicas favoritas, não conseguia criar uma rotina para nós, não sabia muito bem o que ele comia, o que não comia, o que gostava de fazer, como ele brincava. E isso foi um baque, porque com um bebê de 1 ano você acha que já sabe alguma coisa, né?
Pois é, mas eu tinha muitas coisas para reaprender: horários, ritmos, sinais, hábitos, choros e necessidades.
E eu sofri. Fiquei estressada, com um bebê super-ativo em casa, que tinha energia para dar e vender, energia essa que eu não sabia para onde canalizar. Também tinha um bebê com gostos e paladares que eu precisava descobrir e perceber. E, muitas vezes, ele me fazia gestos que não compreendi: devia ser alguma coisa da creche que vinha à tona e que lá ele se fazia entender. Precisei lidar com essa frustração de ter um pequeno estranho em meus braços, que muitas vezes se frustrava em mim, com minha ignorância sobre sua vida, rotina e preferências. (E olha que, modéstia a parte, eu era uma mãe interessada e dedicada quando não estava no trabalho.)
Enfim, além de tudo isso, acho que é importantíssimo também falar de uma frustração imensa e sobre a qual não pensei muito bem quando fantasiei sobre maternagem 24h por dia: a frustração do tempo. Nos meus delírios pré-demissionais eu faria xixi com Arthur no colo e teria algumas restrições em termos temporais, claro. Mas o impacto foi muito profundo para mim. 
Quando Arthur era pequenininho, um recém-nascido, eu não tinha tempo para nada: xixi, comer, tomar banho, escovar dentes. NADA. Passava o dia em função do meu bebê e das novas funções que ele havia criado: mais roupas para lavar e arrumar, comidinhas para mim, organização da casa e do espaço habitável etc. Então, depois de quatro meses e meio de licença-maternidade, voltei a trabalhar, e passei a ter uma hora inteirinha de almoço, o que me dava espaço na agenda para atividades como bater perna no shopping, fazer unhas, depilação, ir ao supermercado, sentar-me sozinha e pensar na vida, ler um livro... As possibilidades eram muitas e eu as aproveitei bastante! Curti ter um tempinho para mim novamente. Daí, quando voltei a ser mamãe em tempo integral, afundei na falta de rotina, desesperei no infindável mundo de atividades inadiáveis, fui soterrada por 40 unhas a mais para cortar, dois pés a mais para calçar, dez dentes a mais para escovar, um estômago para alimentar, uma cabeça para lavar, entretenimento, cuidados pessoais, necessidades básicas e imediatas (fome, sono, frio, calor), tudo dele primeiro, muitas vezes tudo dele exclusivamente, porque não havia (não há) tempo para mim. Fico dias sem lavar o cabelo, horas sem escovar os dentes, durmo mal, sempre tenho algo a fazer e nunca consigo realmente relaxar ou descansar, pois Arthur está realmente encantado por ter a mamãe em tempo integral e absoluto com ele, e me quer praticamente de sol a sol. E com isso, confesso, me frustrei, porque meu tempo não é mais meu. Por isso, demorei para encontrar o prazer de ser mãe integral - admito, sem orgulho. Demorei para sorrir com a alma em paz, sem a angústia da necessária (é claro) frivolidade apertando minha garganta num sufoco de minutos contados: preciso tomar banho; estou com fome; preciso dormir; queria ficar quieta agora; puxa, que livro bacana; nossa, minha perna está cabeluda!
Demorei para chegar a conclusão de que meu estresse e minhas frustrações de mãe em tempo integral podem até ter um grau intenso, como os estresses e frustrações de mãe-proletária-CLT que fui. Mas, por serem de naturezas diferentes, essas coisas precisam ter um impacto diferente. E, sobretudo, porque eu ESCOLHI estar onde estou hoje, o lado B da maternagem intensa deve ser encarado como desafio e oportunidade, e não como castigo e pesar.
Então, agora, mesmo com perna cabeluda (outro dia, no meio da ioga, a professora veio ajeitar minha postura e quase morri de vergonha porque quase dava para fazer trancinhas nos cabelos da minha perna!), mesmo estressada quando estou sozinha em casa, querendo comer e Arthur cisma em subir na mesa ou escalar a estante, quando ele chora, se joga, quando o cocô vaza na última roupa limpa e eu preciso descer com bebê, roupa, sabão em pó, moedinhas e paciência até a lavanderia, mesmo assim eu ainda sorrio ao ver meu filho, na minha frente, aprender a imitar um cavalinho (é a coisa mais LINDA DO MUNDO!).
E aí, no meio dessa confusão intensa e louca, no meio de todos esses pensamentos, dessas novas sensações, eu fiz uma descoberta incrível, talvez o grande segredo da maternagem para mim. Por mais perto que estejamos, por mais que acompanhemos cada crescimento, cada aprendizado, por mais que estejamos presentes em cada descoberta, nossos filhos são e sempre serão aqueles estranhos que parimos, porque nossos filhos vivem e experimentam e aprendem e vivem na individualidade. São, portanto, seres únicos, que apreenderão o mundo de maneira única. E a cada vivência e novidade, mudarão, se transformarão. Nosso papel, então, é estar presente, como quisermos ou pudermos, para, com todos esses aprendizados e transformações, sermos a constância de que eles precisam para poderem voltar, sempre que quiserem, à segurança imutável do amor materno. Só a solidez do amor permanece quando o assunto é filhos, esses estranhos.

(Pode não parecer, mas este post é fruto de muitas reflexões em relação ao post anterior. Obrigada a todas que me responderam! De coração. Gente que nunca tinha comentado, gente que sempre comenta, gente que voltou a comentar. Obrigadíssima por partilharem opiniões e sentimentos. Isso é o que realmente importa nas redes maternas: trocas e acolhimento. Prometo voltar para falar sobre minhas ideias a respeito de segundar.)

domingo, 15 de setembro de 2013

Segundinho: ter ou não ter, eis a questão!

Sou filha única. Marido não. Odeio ser filha única. Marido não tem problemas em ter só um filhote.
E aí Arthur é praticamente homem feito, fala português, inglês e bebezês. Poliglota, o rapaz. Hoje, no parquinho, ganhou o primeiro beijo na boca da vida. Dirige um carro, na verdade, um tratorzinho de madeira. Cheio das vontades, come rabanete. Gente, alguém que come rabanete, raiz que arde na boca, já está grande e crescido, né?
Então que eu tenho pensado: segundaremos ou não?
Meu sonho de menina (e adolescente e burra velha) era ter uma mesa cheia de gente no Natal: filhos, filhas, noras, genros, netos, netas, cachorro, papagaio e marido. Também queria ter um filho em cada braço, outro na barriga e um mais velho em pezinho enquanto eu abria a porta para o Correio, sorrindo, e recebia um telegrama de amor do marido.

[pausa para vocês gargalharem]

Bom, daí eu engravidei do Arthur.
A gravidez foi exemplar, em termos médicos, mas me sentia muito cansada, com falta de ar e sem energia. Na verdade, eu me sentia EXAUSTA como nunca me senti. Nem antes, nem depois. E eu tive estrias. Então acabei dando uma desanimada da minha surtação inicial de querer cinco filhos.
Na sequência, Arthur foi um bebezico. E eu pirei no puerpério, com hormônios doidos dando festa na minha corrente sanguínea, com peito rachado, monília, fome, dieta APLV, sovaco cabeludo e sei lá quantos dias sem tomar banho.
Daí, ele aprendeu a se sentar, acabou licença-maternidade, voltei a trabalhar feito mula de carga manca, e ele aprendeu a engatinhar, e depois a andar, e agora corre, fala duas línguas e um dialeto, beija na boca no parquinho e dirige! E eu surtei, pirei, me descabelei em cada uma das fases com ele.
Meu pequenininho já não é mais tão pequenininho assim.
E, então, os hormônios doidos entraram numa discussão aparentemente infindável com minha conta bancária, meu lado racional, com meus sonhos de menina, meu relógio biológico,com meu relógio social, e eu tô surtadinha, perguntando a mim mesma: é justo passar por esta vida tendo essa alegria imensamente exaustiva e enlouquecedora que é ter filhos apenas uma única vez?

Sinceramente, ainda não tenho resposta para esses questionamentos, e nem ovulação para tentativas, mas sigo aqui, matutando, curtindo filhote, dando minhas surtadinhas diárias, tanto de amor e fofura (sério, Arthur ainda vai infartar as pessoas na rua de tanta fofura que espalha nesse mundo!), quanto de desespero e estresse!

E vocês? Segundaram? Não segundaram? Por que sim ou não? Ajudem a amiga aqui a pensar na vida!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

tictictic

tictictic

tictictic

São duas da manhã.

tictictic

tictictic

- Amor, está ouvindo esse barulho?
- ÃHnnnn?
- Barulho, amor.Assim: tictictic. Está ouvindo?
- Não.
- Ó... agora. Ouviu?
- Ouvi. O que tem?
- O que é isso? É o Vosko regando a grama?
- Ártemis, são duas da manhã! Como ele estaria regando planta a essa hora? E por quê?
- Sei lá, ele é tão obsessivo com o gramado, e os sprinklers são automáticos, você pode programar para quando quiser...
- Ártemis, vai dormir.
- Mas e o barulho?
- É um bichinho. Boa noite!
- Bichinho? Fazendo tictictic assim? Ritmadinho? Nunca ouvi. Por que ele faz esse barulho assim, igual a um sprinkler?
- É o destino dele.
- Destino?
- É... aposto que esse bichinho tem uma mulher, e que a mulher do bichinho acorda todos os dias às duas da tarde perguntando "amor, que barulho é esse? ArthurnãoArthurnãoArthurnão?".

É, cada um tem o destino (e o marido) que merece.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Apresentando Mike (mas também pode chamá-lo de Alfredo)

Engravidei e já sabia os nomes que iriam para a lista dos favoritos. Havia outros, mas Arthur era o favorito. Forte, tradicional, curto e, o mais importante, praticamente universal no mundinho ocidental que frequentamos. Já sabíamos que marido teria uma oportunidade profissional no exterior quando veio o positivo, então um nome que valesse no Brasil, na Europa ou nos EUA seria muito bem-vindo. E assim (e por outros motivos), escolhemos Arthur, com TH que era para facilitar a vida anglófona que acreditávamos que teríamos.

ahhahahahahahahahahahahahahhahhahahah
[risos histéricos]

Assim que botamos o pé na terra do Tio Sam descobrimos uma verdade que dançava na boquinha da garrafa diante de nós, mas que ignorávamos por... pura distração. Arthur era um nome tão lindo, tão perfeitamente perfeito para nossos planos e ideias, que nem ligamos que, enquanto os americanos não conseguem pronunciar bem as vogais nasais (não, pão, chão, Copacabana etc.), nós, tupiniquins, temos dificuldades com o TH.
Bom, o TH do Arthur segurou o tchan logo que o primeiro local perguntou o nome do menino.
O diálogo foi mais ou menos assim:

- Oh, que gracinha! Qual o nome?
- Arthur [caprichando no R retroflexo ARRRRR, e também no TH línguo-dental].
- Como?
- Arrrrrrthfffuuur.
- Ah, tá. Oi, Alfred. Tudo bem?

Alfred, minha gente! ALFREDO!

A gente escolhe o nome com tanto carinho, tanto cuidado, e é trollada por si mesma e pelo sangue latino e a alma cativa da última flor do Lácio. Ê, beleza!
Confesso que a cada ida ao parquinho ou saída para fazer supermercado, com meu pequeno populista acenando e dando sorrisos para todos, eu queria me enterrar na caixa de areia ou me esconder atrás das gôndolas. Também cogitei seriamente apresentá-lo simplesmente como Alfred e tudo bem. Alfredo é um nome bonito, afinal.
Mas então, marido, em toda sua genialidade, veio com a solução perfeita.
Certo dia, no parquinho, veio uma americana estereotipada, cheia de olhos azuis para cima do meu filhinho simpático e risonho, perguntando:
- Qual é o nome deeeeele?
- Mike - respondeu marido. E a vida continuou* bem mais simples, com um nome curto, simples e pronunciável.


* Apesar da tentação, minha gente, nossa solução foi treinar e treinar e treinar até conseguirmos pronunciar satisfatoriamente o nome do Arthur. E ele nunca mais foi Mike ou Alfred.
;-)

domingo, 8 de setembro de 2013

Como estamos?

Surpreendentemente com calor. Muito calor.
Estamos também, finalmente, no apartamento definitivo. Digo, definitivo por um ano, pelo menos. Ainda sem muitos móveis, mas já com colchão de verdade!
Também já estamos nos acostumando ao inglês e a algumas particularidades norte-americanas.
Ainda peno no supermercado, com um bebê cheio de energia e andarilho e muitas coisas (marcas, produtos e necessidades) que ainda não conheço. Ainda sofro para entender pessoas que falam rápido, ou usam gírias, ou têm dicção ruim. Ainda me perco nas ruas.
Estamos sem grana, diria que completamente falidos. E aqui, vejam que coisa, estamos abaixo da linha da pobreza.
Eu estou com frilas até as orelhas, sem tempo para nada, já que preciso limpar uma casa imunda (os antigos moradores não eram chegados num trato, ao que tudo indica), cuidar de um bebê cheio de energia e vontades (tá fácil, não!), frilar e terminar de me adaptar.
Estamos, porém, caminhando aos poucos. Bem aos poucos.

E vocês, como estão? Tem gente quase parindo, tem gente com filhas quase adolescente, tem gente que me deixou com o coração apertado e mandando todos os pensamentos de amor, tem gente que está na luta, gente que engravidou de novo, gente que sumiu, gente que chegou e agora mora no meu coração, gente que voltou a trabalhar, gente que faz falta na vida offline...
Mas tem mais gente que me visita e que eu visito também. O que mais vocês me contam?