domingo, 28 de abril de 2013

Como seu filho brinca? - elucubrações de uma criança solitária

Eu era bem pequena, lá pelos 3 ou 4 anos, e ganhei uma bolsinha de presente. Ela era feita de plástico rígido, numa cor vibrante, que eu não lembro se era azul-turquesa, vermelho-sangue ou amarelo-canário. Dentro dela iam os itens que, segundo minha experiência, seriam fundamentais e indispensáveis: cédulas de um  dinheiro já vencido pela inflação da louca década de 1980 (cruzado, cruzado novo, cruzeiro, cruzeiro real, por aí afora), caneta, papel, documento de identificação (feito por mim mesma, com "foto 3X4" desenhada dentro de um retângulo no canto) e um mini frasquinho de soro fisiológico (para o caso de, deus me livre!, cair um perigoso cisco no meu olho). Na minha representação de mundo, do alto da minha primeira infância, era importante: minha identidade e meu papel social, dinheiro e, claro, remédios.
Não sei se esses são valores bacanas para que uma criança de 3 ou 4 anos tenha. O que eu sei é que minha bolsinha representava meu mundo, e os objetos que iam lá dentro mostravam o que eu considerava importante.
Um dia, esqueci a bolsa em um restaurante (eu ia muito a restaurantes quando pequena).

***

Eu fui uma criança solitária. Muito solitária. Sem irmãos ou primos, morando num prédio sem play ou crianças, uma baixinha tímida e magrela, alvo de bullying na escola, pais separados, mãe trabalhando fora o dia inteiro, realmente não tinha muito com quem brincar. E eu me lembro das longas horas gastas em brincadeiras ou em frente à televisão (sem a qual eu não almoçava!). E me lembro de ter um quartinho só de brinquedos (pequeno, como um armário grande, devia medir 1X2m), abarrotado de bonecas, panelinhas, pôneis de plástico, moranguinhos, acessórios de Barbie, jogos individuais (resta 1, jogos de encaixar, carimbos etc.). 
Num Natal meu padrinho me deu uma bicicleta, e eu pedi para a minha mãe um jogo caro (o nome era "O tesouro do Faraó"), que me custou muito dever de casa feito e muita arrumação de quarto. 
A bicicleta era uma Caloi Ceci linda, eu customizei o selim e fiz mil planos de uso. Andei de bicicleta um dia, na Lagoa, e depois voltei com ela para casa, onde eu ia da sala ao quarto, num corredor de pouco mais de 3 metros de comprimento, só quando os adultos não estavam por perto para brigar comigo (porque "não pode andar de bicicleta dentro de casa!"). Em cima do banco da Caloi morava a casa da Moranguinho. O guidom guardava uma corda de pular e eu sempre montava na bicicleta, girando os pedais para trás, fingindo dar muitos passeios divertidos com ela. Já quanto ao jogo, bom, ele era para de dois a quatro participantes, e só havia uma pessoa disponível para jogar: eu. Assim, acho que só consegui brincar uma vez, com a minha mãe, e me lembro até hoje que eu chorei muito na hora de doar o jogo porque eu "não brincava mais com ele". Chorei de pena de mim mesma. E me senti muito sozinha.

***

Arthur tem acesso a muitos brinquedos: os que eu comprei para ele, os que ele ganhou, os que ele herdou, os que ele usa na creche. Toda criança deveria ter acesso ao espaço lúdico da brincadeira. Mas esse espaço, penso eu, não pode e nem deve ser limitado e (muito menos!) determinado pelos publicitários.
Confesso que aqui em casa temos muitas tranqueiras barulhentas de plástico: Fischer Price, Tiny Love e companhia. Brinquedos que, com tristeza, depois de alguns meses, notei que eram os equivalentes ao meu quartinho da infância: peças soltas, sem vida, com funções bem definidas e que tolhiam minha criatividade porque eram Moranguinhos (com roupa, voz e até cheiro pré-determinados), pôneis com nomes certos, bicicletas sem espaço para se pedalar e jogos múltiplos que frustam o jogador solitário. Além disso, os valores que eu estava incutindo no meu filhote não me parecem muito saudáveis: mamãe não está, mas veja que lindo relógio cantante que você tem!; você TEM muitos brinquedos; vamos substituir afeto e amor por algo material e que seja um simulacro do contato humano (vozes cantantes gravadas, figuras antropofórmicas). Eu estava reproduzindo o padrão sem perceber.
Na verdade, acho, não estava reproduzindo o padrão ainda. Mas assustei quando pensei nisso. E mais ainda quando pensei que, muito em breve, ficaria sozinha com Arthur, para ser responsável por uma infância feliz e divertida para ele. É extremamente assustador pensar na responsabilidade que tenho pela frente: aprender brincar com Arthur de modo a fazer do espaço lúdico uma possibilidade de experimentação e uma forma de representação de seu mundinho (e com isso, espero ter a chance de compreendê-lo mais e mais, de estar mais perto, mais integrada).
Enfim, mais uma vez penso que a maternagem consciente (além de trabalhosa porque nunca deixamos de pensar e repensar sobre as escolhas e decisões) é um caminho tortuoso, em que devemos ser responsáveis por aquilo que optamos, mas tendo o conforto de saber que sempre dá tempo de reformular as ideias e seguir novos rumos. Assim, em Chicago, nova vida, novas brincadeiras para o meu pequeno!
Com amor, sempre.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

À indiana

Por volta dos três meses de idade Arthur, num belo dia, mamou, mamou, mamou e, logo a seguir, vomitou. Não era uma golfadinha, não. Era quantidade. De bater no chão e fazer barulho, de escorrer pelo meu braço, fazer poça no chão (olá, vida escatológica!). Fiquei preocupada e aguardei mais um pouco para ver o que aconteceria. Mais alguns dias e ele continuava dando umas vomitadas e o pior: passara a acordar muitas vezes durante a noite, chorava, se retorcia e remexia. Assim, diante do quadro preocupante, ligamos para o pediatra que, por telefone mesmo, sugeriu que eu testasse uma dieta completamente livre de leite de vaca e derivados para ver como Arthur se comportava. Eu, que estava na fase da obsessão por doce de leite, falei que no dia seguinte, então, começaria a dieta e o médico foi taxativo: não! Comece hoje! Em duas horas de dieta você já terá consideravelmente menos proteína do leite de vaca no seu organismo.
Como aqui, meu amigo, missão dada é missão cumprida, larguei o pote de doce de leite deliciosamente cremoso pela metade na geladeira, dei um pulinho no supermercado para comprar algo que eu pudesse comer, e desde então sou a maluca do "tem leite?". Tipo uma indiana radical, que considera pecado supremo comer partes da vaca. Até mesmo as excretadas (olá, fisiologia escatológica!). Tipo uma vegana.
Arthur de fato melhorou e na consulta que se seguiu ao tal telefonema o pediatra confirmou: alergia à proteína do leite de vaca (ALPV, para os íntimos).
Com diagnóstico e instruções para cortar da minha vida todo e qualquer vestígio de proteína do leite de vaca, me senti meio Gloria Gaynor: at first I was afraid, I was petrified. Mas aí pensei nos veganos, e nas pessoas que têm alergia à lactose, e nas pessoas que não gostam de leite e seus derivados e comecei a acreditar que seria difícil, porém não impossível, sobreviver à dieta.
É incrível a quantidade de coisas gostosas que precisei cortar da minha vida. E sobretudo, é surrealmente incrível a quantidade de DOCES que precisei abolir. Praticamente todos os doces de restaurante (exceto o quindim e doces de fruta, tipo goiabada e bananada), bolos (raros são os que usam margarina 100% vegetal e mais raros ainda os que substituem o leite por óleo ou suco), biscoitos e sorvetes. Mas o que realmente me impressionou demais foi começar a ler os rótulos das embalagens dos industrializados e descobrir, por exemplo, que algumas marcas de biscoito waffer não levam leite (mesmo o sabor chocolate) e que quase todos os sabores do bolinho Ana Maria não têm leite ou derivados.
Eu brinco, depois de virar profunda conhecedora dos rótulos de produtos que antes eu consumia sem ler os ingredientes, que eu estou, apesar de parecer ser muito vantajosa e saudável, na dieta do "estrago". Querem ver?
Eu, como vocês bem sabem, trabalho pacas, nove horas num escritório, então sou obrigada a comer na rua praticamente em todas as refeições. Meu chefe não quer pessoas comendo nas dependências da empresa, então não temos microondas e somos proibidos de consumir alimentos que deixem cheiro no ambiente (ou seja, tudo aquilo que possa ser esquentado, praticamente). Claro que eu poderia viver de sanduíche, mas eu sou daquele tipo de pessoa, sobretudo nesse período de amamentação (fome de peão feelings), que PRECISA de comer comida de verdade: arroz, feijão, bife, batata, salada, legume, purê... Ou seja, não rola levar sanduichinho para o trabalho e passar o dia com aquela sensação de vazio, né? Então, não tenho saída e sou obrigada a comer na rua. E, quanto aos lanchinhos e beliscadas do dia, claro que eu tenho a opção de levar (aí, sim) o sanduíche ou uma fruta e tal, mas haja disciplina para todo santo dia, antes de me despencar para o trabalho, fazer mochila de filho, ferver apetrechos de tirar leite, arrumar minhas duas bolsas (de ordenha e de trabalho), carregar moleque para creche (de ônibus, já que agora moramos relativamente longe de onde Arthur "estuda") e, ainda de lambuja, comprar, montar e carregar (visualizem: carrego Arthur no sling, mochila nas costas, duas bolsas de banda, e realmente não tenho estrutura física para suportar o peso de muito mais coisa) lanchinhos para a manhã e para a tarde (fome de peão, lembram? Como MESMO! De hora em hora. Uma loucura!).
Assim, com o almoço eu me viro bem (já conto a saga diária), mas com os lanchinhos da tarde, me esfalfo. Fico tentando encontrar soluções gostosas, saudáveis e viáveis (financeira e logisticamente falando), mas acabo sempre na alfarroba com coco, na pipoca de canjica, no chocolate de soja e no biscoito vegano. De vez em quando, picolé de fruta ou fruta in natura. É duro.
Então, eu, que antes adorava uma vida saudável, um iogurte com granola no meio da tarde, agora me vejo na dieta do estrago. Porque eu posso tranqueiras e mais tranqueiras, mas não posso coisas bacanas.
De manhã, por exemplo, tenho comido três ovos mexidos, biscoito de arroz, duas bananas, um copo de suco de laranja e um copo de mate. Claro que isso não vai me sustentar até a hora do almoço, então, ali perto do meu trabalho, a única opção que encontrei foi hambúrguer no pão integral (pão de hambúrguer tem leite, meu povo!). Ou seja, vitamina de mamão, morango, laranja, banana e aveia pode? Não pode! Mas hambúrguer na chapa, com bacon e ovo? Pode. Pão com manteiga e média pode? Não pode! Mas linguicinha calabresa com batata frita? Pode. No lanche da tarde não muda muito: bolo de laranja com chá pode? Só o chá. Mas e quibe frito e refresco de caju? Pode! Sanduíche natural, com peito de peru, ricota e salada pode? Não pode. Mas bolinho Ana Maria e biscoito waffer pode.
E assim, vou eliminando da minha vida tudo que traz no rótulo "leite em pó, leite em pó integral, soro de leite em pó, creme de leite, leite condensado, leite desnatado", mas continuo consumindo "lecitina de soja, fermentos químicos pirofosfato ácido de sódio e bicarbonato de sódio, conservador propionato de cálcio". Pura saúde, não?

E como se não bastasse minha junky new life, ainda passo por louca, porque vira e mexe sou obrigada a chamar o garçon em restaurantes e solicitar que ele fale, por favor, com o cozinheiro, para saber se o arroz do lugar é refogado na manteiga, na margarina, no óleo ou no azeite. Há os que me olham com enfado, os que me lançam olhares de empáfia e existem os que até me veem com desconfiança, como se eu estivesse tentando roubar os segredos do mestre-cuca. Uma lástima.
Mas a gente se adapta, não é mesmo? Os restaurantes que eu mais frequento já têm um pessoal que sabe das minhas restrições e até me avisam se houve mudanças no modo de preparo (já aconteceu duas vezes, em restaurantes diferentes). Eu já consegui encontrar umas soluções para o lanchinho da tarde que são menos trash que bolinho Ana Maria e biscoito waffer. Mas o hambúrguer da manhã ainda espreita meu colesterol e, definitivamente, me chuta da categoria vegana ou indiana, o que me faz comer feito um peão, um peão alérgico à proteína do leite de vaca, que não gosta de junky food (das comidas trevas que listei, não como quase nada, porque não gosto) e que não sobrevive apenas com frutinhas no meio da tarde. Ah, e antes que me sugiram: cream cracker leva leite e biscoito maizena também.
É dura a vida da bailarina!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pensamentos avulsos

* Por que fumante parece que fica com o cérebro embotado e acha que o cheiro do cigarro realmente não incomoda? Será que os fumantes não sabem que seu cigarro produz FUMAÇA, cujas propriedades físico-químicas fazem com que seja levada pelo ar e, portanto, fumar na janela faz com que TODO o ambiente em que está localizado a janela fique empesteado?

* Uma conhecida certa vez me descreveu o momento que antecedeu o nascimento de seu primeiro bebê. Ela, como a maioria esmagadora das mulheres, disse que queria ter parto normal, mas aí blá-blá-blá (sinceramente, não me lembro qual foi a desculpa esfarrapada do médico). Ela, apesar de ter ficado triste, deu, no íntimo, aleluia porque o exame de toque fora tãããão dolorido que realmente seria impossível para ela parir.
Ao longo do meu processo de parto, recebi três toques. Todos consentidos. Todos absolutamente indolores. Será que tentaram alguma manobra para "ajudar na dilatação" nessa amiga?

* Estar prestes a me mudar da cidade em que nasci e vivi (e amei, casei, emprenhei e pari) está me deixando nostálgica sem sequer ter ido.

* Ando com uma saudade de recém-nascido! E marido outro dia confessou: ele também.

* O que teria acontecido se eu tivesse acabado na cesária? Eu nem tinha dinheiro no banco para pagar por uma cirurgia com a equipe que escolhi!

*Arthur é tão lindo, tão lindo, mas tão lindo, que eu custo a acreditar que saiu mesmo de dentro de mim. Vejam bem, não sou feia, mas é que ele beira a perfeição, esse garoto.

* Ando tão sem paciência para gente chata, crítica e agressiva que tenho estado antipática. Hoje mesmo fui recebida na minha avó com brincadeirinhas que tinham por finalidade única me irritar. E também fui recepcionada com uma saraivada de críticas (ele usa colar? ele está só com essa camisa? ele não come isso? ele come aquilo?). Resultado: faziam comentários, perguntas e cutucadas e eu apenas dava um sorrisinho amarelo e não falava palavra! Chato, né?

* Cuidar de um bebê dá trabalho. E isso porque se antes você precisava cuidar da SUA vida, agora você precisa cuidar de duas vidas. Tudo dobrado: quarenta unhas para cortar, quatro orelhas para limpar, dois estômagos para manter cheios, xixi, cocô, banho. Quase tudo que você faz também precisa ser feito com/para um bebê.
Às vezes acho que é por isso que tantas mulheres se metem na nossa vida e vêm dar pitacos não solicitados: porque elas tiveram seus filhos, cuidaram de duas vidas, e agora, que só têm de volta uma única vida para cuidar, sentem falta e decidem meter o bedelho na sua (e de seu filho).

* Tenho tido obsessões culinárias. Logo no primeiro mês do Arthur tive compulsão por doce de leite. Depois, fiquei vidrada nos cup cakes. Tive o momento hambúrguer. A atual compulsão são biscoitos tipo cookie.

* Arthur, meu filho, seu estômago não tem fundo, não? Arthur, meu filho, será que você foi projetado na Suíça? Está friozinho, você não precisa suar só porque eu vesti uma blusinha em você!

* Será que minha chefe lê meu blog?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O renascimento do parto

A prima de uma amiga está grávida. Reta final. Daí veio avisar toda prosa: não passa do dia 25. Como ela sabe? Como o médico que a acompanha sabe? O bebê vai se transformar em um gremlin se continuar no útero dela, mesmo dando sinais de que está bem e saudável? 
Há longos anos, no Brasil, os valores do nascimento vêm sendo invertidos, e o que deveria ser um momento lindo, maravilhoso e fundamental passa a ser um perigo, um descaso, uma dor e algo regido pelo dinheiro.
Se você, como eu, sonha que mais e mais mulheres possam ter um parto ativo, saudável, respeitoso, fisiológico e repleto de amor, então lute comigo! 
Você pode, como eu, encher o saco de todos que conhece com dados, estatísticas, causos e indicações de pesquisas científicas, pode escolher uma equipe porreta e parir seu filho sem intervenções no dia da marcha pela humanização dos nascimentos, pode ficar conhecida como "a maluca do parto natural" aonde quer que vá (hoje no trabalho, quando eu estava no almoço, surgiu o tema "parto" e TODAS as pessoas da empresa vieram falar comigo depois: ih, Fulana estava falando de parto hoje!). Mas se você não pode ou não quer se envolver nesse nível, porém acha a causa justa e bacana, existem outras maneiras de ajudar, claro. Até o dia 18 de junho, por exemplo, basta clicar neste link e fazer sua doação e/ou ajudar a divulgar a causa! Conscientizar as pessoas de que existem outras formas de nascer abre horizontes e traz para a mulher mais liberdade. Mudar a maneira de nascer é, de certo modo, mudar uma sociedade. E, parafraseando Michel Odent, que humanidade será essa, que nasce na violência obstétrica, na cesária mal indicada, nas artificialidades desnecessárias? É preciso mudar a forma de nascer para se mudar a forma de viver.


PS: Eu já doei. Quero ver todo mundo nos cinemas tentando adivinhar meu nome real quando passarem os créditos, hein!

sábado, 20 de abril de 2013

Rumo a junho

Junho tá logo aí, tão vendo?
Eu vi. Então, já bem reservei o lugar da festinha que, vejam que mimo!, será no dia do meu aniversário!
Se alguém tiver boas ideias e receitas sem leite de vaca e seus derivados, por favor ajudem!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Dez meses

Quatro dentes. Sorridentes. Aliás, sempre sorridente esse menino. Um fofo! As mãozinhas gordas têm covinhas em cada um dos dez dedinhos. Dedinhos que me beliscam (assim como os dentinhos que me mordem, e depois riem). Dedinhos que se fecham em pinça, catando migalhinhas no chão. Chão que é o lugar favorito da casa. Às vezes mais predileto que meu colo. Já deu dois passinhos sem apoio e notadamente diz "mamá" quando me quer e não estou por perto. Como sempre que estou por perto estou com ele no colo ou brincando ou amamentando, só escutei "mamá" duas vezes. Engatinha feito um bólido. Um cometa! Um raio! Um raio cortando o céu de noite. Ainda acorda de noite. Acorda e se senta na cama, bêbado de sono, olhinhos arregalados, uma vontade de morder! Adora a creche. Abre o sorriso mais lindo do universo quando me vê na volta para casa, e já vem para o meu colo de banda, inclinando-se para mamar. Ainda mama. E ainda tenho leite (todo mundo rezando para continuar assim. Grata).
Dez meses e apenas mais um mês para ser todo meu novamente (aviso prévio, meu povo! Pedi demissão!).
Dez meses. 73cm. 8,5kg. Todo meu amor.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Depois de tudo, o choque de realidade (ou: Mães são todas LOUCAS)

Depois da notícia da mudança (muito obrigada pelas mensagens carinhosas de apoio, incentivo e felicitações!), depois do aniversário de relacionamento, depois da carta para a obstetra, eis que eu me encontro aqui, uma da matina de domingo para segunda, bebê capotado ao meu lado (amém!), cheia de mate na cabeça, angustiando-me por quê? Por quê? Ora, porque sou mãe, e sendo mãe, sou incoerente.
Senta que lá vem o trololó!
Todo mundo aqui está careca de saber que eu sofri quando Arthur foi para a creche. Todo mundo sabe que eu ainda sofro porque estou longe do meu bebê-delícia durante a semana (mas ontem eu o vi dando seu primeiro passinho! Chorem comigo!). Todo mundo sabe que estou me mudando para Chicago. E, juntando lé com cré, não fica difícil deduzir que, sem precisar ter de trabalhar nove horas num escritório, vou ficar com bebê-delícia full time nos States. Ótimo, não?
Sim, claro. Esse sorriso histérico no meu rosto, essa ruga entre as sobrancelhas, as unhas roídas e o fio de cabelo branco que acabou de brotar no cimo de minha cabeça não são nada, porque, afinal de contas, seria bem incoerente que eu ficasse doida para estar mais tempo com filhote e, tendo a oportunidade, eu acabasse desesperadamente preocupada e tensa de não ter mais tempo para mim (oi? eu tinha tempo antes? tenho tempo agora? claro que não!), de ficar exausta a ponto de mal saber meu nome no fim do dia (oi? eu ando supersoltinha e desacansada, dormindo todos os dias até duas da tarde? claro que não!), de ficar tão estressada a ponto de rosnar para "eu te amo" e gritar "o que fooooooi???" em resposta à simples menção do meu nome (oi? que foooooi???). Não seria?
Claro que não!
E eu estou exatamente assim: tensa, ansiosa, angustiada, prevendo os piores cenários da anulação pessoal e profissional (drama queen), antevendo catástrofes domésticas do tipo: marido chega em casa e eu, sentada no sofá, olhar catatônico, Arthur rabiscando a tela da TV (as paredes já não têm mais espaço), fumaça negra sobe das panelas no fogão e eu suspiro "acabou o papel higiênico". Dona de casa fail. Mamãe fail. Vida glamour com bebê-delícia fail.
Depois da euforia das alegrias e emoções, a realidade enfiou-me a mão na cara. CATAPLAF!
Eu nunca fui dona de casa: vai acabar o papel higiênico, vou queimar o arroz, bebê-delícia (que ultimamente tem se mostrado deliciosamente tocador de terror!) vai comer pasta de dente e jogar toalhas dentro do vaso, vou acumular roupa para lavar, não vou conseguir manter a faxina em dia, a comida vai ficar insossa e ora será muita, ora será pouca, meu cabelo continuará grudado, minhas olheiras se arrastarão pelo chão, minhas roupas continuarão desconjuntadas, minhas unhas ainda ficarão por fazer e escovar dentes permanecerá atividade recreativa para fins de semana.
Então, por que raios ando tão ansiosa por ter minha vida de pernas para o ar, um caos, só que sem faxineira, sem vovôs e vovós para dar aquela ajuda marota, num frio de lascar e tendo que falar outra língua?
Ora, simples: porque, além de serem todas LOUCAS, mães são seres que respiram cabelos, comem sorrisos, bebem palminhas, dormem passinhos, sentem bá-bá-bás e se saciam com os corpinhos mornos de seus filhos.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Carta para minha GO (Feliz dia do obstetra!)

Sabe quando você lê uma coisa e pensa "que ideia genial, queria ter tido essa sacada!"? Então, Anne Rammi, essa moça com nome que rima, e que boxa, rema, pinta e milita (e mora no meu coração, embora nem saiba quem sou!), essa moça fez assim comigo hoje.
Eu aqui, quietinha, vivendo meu mundinho de aniversários de relacionamento, idas para Chicago, bebê-delícia me deliciando, e ela veio e PAF! Levou embora meu rebolado num post lindo, que só não me fez realmente querer ter sido a autora porque não se trata de um nascimento bonito, e isso exclusivamente porque ELA foi desrespeitada no momento mais sublime de sua vida. (Desperta uma fúria solidária em mim saber que outra mulher, com outra história, não teve a alegria que eu pude ter.)
Solapada e desnorteada (sim, eu tinha preparado um post bobinho mesmo, todo água com açúcar, tipo beste-seller de aeroporto, sabem? Foi para o lixo. Deu vergoinha.), achei que eu queria ter tido essa ideia genial de escrever uma carta para minha GO no dia do obstetra, e assim militar um bocadinho, coisa que, de uns tempos para cá, foi eclipsada pelo meu umbigo e suas mudanças (Chicago) e permanências (marido).
Então, inspirada pela moça que eu tanto admiro, também fiz minha cartinha. Homenagem a minha querida obstetra.

Querida Dra. F.,

Não vou expor seu nome porque seria injusto ficar no mocó e sair bradando aos quatro ventos sua identidade. Na verdade, porém, eu deveria. Eu deveria para que todas as mulheres cariocas que realmente querem um parto digno, um parto seguro, um parto saudável, um parto fisiológico, sem intervenções e terrorismo, sem traumas, com respeito e muito, muito amor encontrassem a grande parceira que você foi para minha família.
Nossa relação foi de construção e parceria. Sempre. Eu cheguei colocando as cartas na mesa (timidamente): três exames de BHCG, um medo danado (e infundado) de abortar, 40kg, um histórico de "nãos" (não vai engravidar naturalmente, não vai ter passagem, não vai ter saúde para nutrir seu bebê, não vai conseguir parto normal sendo tão pequena etc.) e toda minha ansiedade. E você devolveu o que não deveria ser gestado ali, entre mim e você, bem em cima do meu bebê. Meu bebê, você já sabia, não merecia sobre ele o peso que às vezes lhe atribuía. Às vezes eu era os 40kg mais pesados que existiam. E você soube mostrar o caminho. E me receitou todos os anti-histamínicos permitidos para me ajudar a lidar com a fobia que tenho de vômito. Não vomitei nem uma vezinha. Parece bobagem, um detalhe, mas aí é que está toda a diferença: nos detalhes, nas "bobagens" - aliás, você nunca fez pouco das minhas perguntas, angústias ou reclamações; ao contrário, sempre me incentivava a falar e perguntar sobre qualquer coisa que me afligisse ou inquietasse. E era isso que eu queria: respeito, paciência, compreensão de que sou um ser vivo, pensante, pulsante e temente.

Aliás, bota ser temente, pensante e pulsante nisso!

Cheguei até você com ideias prontas e com você aprendi a não tentar encaixá-la nas minhas pré-concepções. Antes de você, querida Dra. F., eu vivia às turras com os obstetras, porque eles radicalizavam e fincavam pé em bobagens e absurdos, e minha resposta óbvia era fincar pé do outro lado, radicalizar também, e assim começar um infrutífero cabo de guerra (que era muito mais bonito antes do novo acordo, quando ainda tinha os hífens como que desenhando o puxa-puxa). Quando você disse para mim, com todas as letras "pode parar de lutar porque você já conseguiu o que queria", isso foi como soltar a corda do cabo de guerra, me deixando estatelada do chão de minhas convicções, tendo que catar ao redor aquilo que era realmente importante e o que me pertencia de verdade. Ou seja, precisei entender que eu não encontrara uma boa adversária, mas sim a melhor parceira! Caí de bunda no chão, sim. Mas você foi lá, me deu a mão e perguntou por que eu tinha puxado a corda tão forte. Bastava conversarmos.

E conversamos.

Eu sei que você sabe disso, Dra. F., mas ainda assim eu quero muito explicitar: eu tinha muito medo do parto. Não só pela mítica imagem que a sociedade contemporânea criou em torno dos nascimentos, não só por desconhecer o que me esperava, não só por saber que doía, não só por conhecer, inclusive, muitos dos riscos que existiam (eu já discutia sobre partos, nascimentos e gravidez havia muitos e muitos anos, tipo um terço da minha vida tinha sido assim, catando e memorizando esse tipo de informação). Eu tinha muito, muito, muito mais medo do parto porque eu sabia que era minha única chance de parir.
Aliás, isso é assombrosa e paralisantemente aterrorizante: saber que o primeiro filho é sua única chance. Claro que existem VBACs, VBA2Cs, 3Cs, mas, a verdade é que o primeiro parto é a única vez que você pode viver o parto. Se você cair numa cesária logo de cara (seja ela necessária ou não), seu próximo parto será, na verdade, o espelho do seu primeiro não parto.

(Sabe, Dra. F., eu vou publicar este texto no meu blog, e espero imensamente que ninguém se ofenda com essa minha ideia, porque incomoda pensar que o que temos de mais precioso - e aqui eu tiro meu chapéu em uma respeitosíssima reverência, pois VBA(1,2,3)Cs são para aquelas fortes, guerreiras, determinadas e poderosas! - possa não ser bom por si só, mas porque tem um lado bem ruim para criar o contraponto. Mas eu realmente acho isso. Uma vez uma amiga, paciente sua também, vinda de um VBAC maravilhoso, me disse que o parto normal depois de uma cesária tinha um gostinho até melhor, porque a pessoa conseguia o que vinha querendo desde há muito. Concordo que o VBAC deve ter um gostinho especial, e que, assim como uma experiência ruim torna as conquistas boas ainda mais especiais, enfim parir depois de ter tido seu direito usurpado deve ser realmente redentor. No entanto, eu só conheço a pureza do arrebatamento do parto natural. E acho, de verdade, que meu parto existiu por ele mesmo, em termos absolutos, sem comparações dolorosas, sem traumas prévios, sem parâmetros. E isso, só as primíparas podem ter!)

Retomando o fio da meada: eu tinha muito medo de fracassar no meu parto. Quando aqui digo fracassar, quero deixar bem claro duas coisas: 1) vivam as cesarianas salvadoras de vidas, bem indicadas e feitas para garantir saúde para mãe e bebês!; 2) eu, apenas eu, posso dizer como eu me sentiria se eu passasse pela cesária depois de tanta luta por um parto natural. Isso porque eu (e você) sabia (sabíamos) que eu tinha absolutamente tudo para ter um parto natural. Ou seja, no fundo do meu coração eu sabia que meu corpo estava ali para mim, que ele seria a primeira morada e o primeiro desafio do meu filho, que ele responderia e  corresponderia às necessidades. Eu acreditava no meu parto. E isso dava um medo danado! Medo porque eu sabia (e você também!) que meu parto aconteceria 1% na minha vagina, 3% no colo do meu útero, 6% no meu útero e 90% na minha cabeça. Era da cabeça que eu tinha medo. Aliás, medo duplo, e das duas cabeças: da minha falhar e travar meu processo, empacar minha dilatação, medrar minha fisiologia e interromper o curso natural; e da cabeça do meu filho passando pela minha vagina (e, confesso, mesmo tendo parido, até hoje tenho um nervosinho medroso de pensar que a CABEÇA de um BEBÊ passa pela nossa VAGINA!). Se eu contraísse, dilatasse e travasse, minasse, roubasse de mim a possibilidade de parir, me sentiria uma frustrada.

Quero destacar uma coisa bem importante (e por isso abro este parágrafo meio sem propósito): se EU roubasse de mim mesma a possibilidade de parir. Porque eu sabia, depois das consultas sempre incentivadoras e esclarecedoras, que você não roubaria de mim a possibilidade de parir. Eu sabia que se eu fosse para a faca, não seria por conveniência de agendas e horários (ou honorários), mas por segurança. E por isso o grande medo de fracassar: porque a responsabilidade era dividida (você monitorava e via se o processo fisiológico caminhava conforme deveria; e eu encaminhava e deixava acontecer o processo), mas ao mesmo dependia apenas de mim não me roubar o direito de parir. Em outras palavras: se eu não resistisse e medrasse e travasse, não por inexplicáveis desígnios que às vezes surgem nas nossas vidas - e vias -, mas se resistisse e medrasse e travasse por não me entregar ao processo, por desconfiar de mim, por ansiar e querer mudar o compasso do tempo, aí eu fracassaria: não pela cesária somente, veja bem, porque cesária não é sinônimo de fracasso. Mas eu fracassaria em lidar com a situação. E me frustraria se eu aceitasse desculpas para não enfrentar de peito aberto o que surgisse diante de mim.

Mas eu consegui. E você me respeitou. Aliás, eu consegui também porque você me respeitou.

Cada escolha, cada decisão, cada ideia, tudo que envolveu o nascimento do ser mais amado do (meu) mundo foi conversado, respeitado e pautado no amor. No meu amor, no fruto do amor entre mim e marido, no amor que você tem pela sua profissão e pelas suas pacientes. Porque eu realmente acredito que você me ame. De verdade. As consultas não eram vazias e sépticas: elas traziam histórias minhas e suas, partilhamos momentos, eu escolhi você para estar no momento mais íntimo e importante da minha vida, e todas as vezes eu que conversamos eu sinto que você, em algum nível, me ama e se identifica comigo. Se não fosse assim, não teria funcionado, porque ambas, eu e você, só funcionamos de verdade com a verdade: não fingimos. Nem fugimos. Enfrentamos, mas sempre em parceria, porque não nos enfrentamos, mas sim aos problemas, medos e dificuldades. E isso é uma forma de amar.

Hoje, no dia do obstetra, quero dar os parabéns não só pela mera convenção das efemérides, mas porque você honra a profissão que escolheu, porque orgulha aos seus pares por respeitar e tratar ética e medicamente suas pacientes. As Marias, as Joanas, as Silvias, Lauras, Renatas, Lúcias, Mauras, Cíntias e até as mais diferentes, como as Luzitânias e Petruskas. Todas com suas histórias, seus medos, suas limitações, seus amores e vivências.

Espero que seu modelo de atendimento se espalhe. Espero que outros profissionais se inspirem em sua competência e na excelência de seu ofício. Espero que outras mulheres tenham, como eu, a chance de parir, a chance de não desperdiçarem a chance de parir, a chance de terem, nesses tempos de violência obstétrica, a experiência do amor obstétrico. Um amor de obstetra.
Um beijo meu e outro do Arthur!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Uma vida, uma nova vida

Marido, hoje fazemos aniversário de relacionamento. Nove anos. Uma vida juntos, rumo à primeira década.
E hoje, quando completamos mais um ano de pura alegria enlouquecida e tanta parceria amorosa, você está prestes a me dar uma nova vida. De novo. Um pouco diferente, dessa vez, mas quase tão transformadora e libertadora quanto a nova vida que parimos em junho de 2012.
Espero que ainda consigamos ter muitas novas vidas dentro da nossa vida. Espero que sigamos neste caminho. Juntos. Sempre.
Com amor, sua.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A vida dá voltas (e nós também vamos passear)

Engraçado como as coisas acontecem nessa vida, né?
Eu sempre disse que queria ser mãe antes dos 30, mas, conforme a famosa idade vinha se aproximando, mais eu pensava que lá se ia mais uma meta, mais um sonho pelo ralo. Assim, decidi focar em outra coisa enquanto tentava engravidar. Daí, em 2011 eu escrevi que talvez tivesse novidades, mas que não seria um bebê. Que ironia! Porque no mesmo ano eu vim aqui contar que estava grávida, gravidíssima, mas nada da outra novidade, né? Ninguém notou porque o que é uma novidade em potencial diante de uma gravidez "cinética", em pleno curso rumo ao Big Bang do parto? Nada! Então ninguém se lembrou, nem perguntou e eu quis deixar a novidade em potencial queitinha, sendo alimentada das matérias mais preciosas que existem no mundo: amor, sonho e planejamento.
Então, em 2013, dois anos e um bebê depois, venho aqui contar a novidade que plantamos (eu e marido) com tanto carinho na época em que éramos apenas dois: vamos nos mudar!
Não compramos a sonhada casa própria, mas demos uma guinada profissional em nossas vidas e as malas para Chicago estão quase prontas!
Estamos ansiosos, cansados (se mudar já é o caos, para outro país e com um bebê a tiracolo é ainda mais insano!) e animados. Cada dia que passa o frio na barriga aumenta - e é bom nos acostumarmos com frio, já que Chicago não é Rio de Janeiro, e adeus aos verões escaldantes seguidos de invernos amenos: agora é pauleira de neve, vento e temperaturas negativas! Que tudo dê certo! - e, é claro, as saudades também.
Deixaremos 30 anos de vida para trás: trinta anos de amizades, trinta anos de lugares especiais, histórias, cantinhos e casas. Trinta anos de pessoas, ruas, paisagens e pores do sol. Mas, em compensação, teremos pela frente um país novinho, cheio de novas pessoas para conhecermos e nos tornarmos amigas, repleto de paisagens e lugares que, aos poucos, serão nossos também. E o melhor e mais importante de tudo: Arthur crescerá bilíngue, um desejo meu que se realiza!
Assim, aviso que no começo teremos muitas novidades e pouco tempo, mas prometo que venho aqui contar como andam as coisas e nossas vidas. Afinal, este meu cantinho selvagem é universal e me acompanha onde quer que eu vá.
Torçam por nós!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Inominável

Apenas: essa saudade inquietante, uma ansiedade belicosa, uma irritação amorosa e cafonices e contradições. Acordei meio fora de mim, com o coração palpitando e Arthur ficando em pé sozinho (já desde o dia 17 de março, mais ou menos, na verdade). Não anda, mas dizem que se estou longe repete mamamamamama, e quando estou perto chama papapapa.
As grávidas perto de mim já são mães, e eu morro de saudades do parto. Cada dia lembro com mais doçura, com certos arrependimentos (ah, no próximo quero mais fotos da barriga, do trabalho de parto, dos primeiros dias), com muito aperto no peito. Um peito que jorra: Arthur mama bem, mas ainda produzo muito. Ainda bem. Depois de tanta luta, tanto esforço, acho que vou acabar tendo de doar leite, porque ontem joguei fora quase um litro. E aqui fico eu, emotiva, chorando o leite derramado, o leite produzido, o leite que um dia ele vai deixar de mamar para ir viver a vida por conta própria. E então Arthur se levanta, sozinho, abre os bracinhos, olha para mim e sorri. Mas se eu saio de perto, se joga de gatinhas e corre, dispara feito um bólido, engatinhando com um joelho e um dos pés, numa charmosa e fofa demonstração de que somos diferentes em nossas soluções e em nossas vivências.
Diante de mim, uma decisão gigantesca. Aperta, oprime, mas também liberta. Ando emotiva como o diabo, feito Drummond, sem conhaque, com algum Chopin, embora esteja mais para Rossini ou Tchaikovsky. E em meio às bombas e à Marselhesa, vem vindo, vem vindo, vem vindo: essa onda de sentimentos vários. Daí Arthur acorda com calor, pede para mamar e eu me pergunto: por que trabalhar longe do meu filho?
O dia nasce, a vida retoma sua rotina, e, diante de mim, a melhor escolha da vida, a decisão mais importante e a vida que não para.
Como se chama o nome disso?

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Filosofando

(Na verdade, roubando ideias do marido.)

Eu tenho um medo. Na verdade, tenho vários, mas um deles é bem grandão, e recebe o nome de fobia. Emetofobia. Trata-se do pânico irracional que tenho de vomitar (o que inclui, é claro, ver alguém vomitando).
Marido, por sua vez, detesta (e tem ânsias de vômito) com cocôs: do filhote ou do cachorro. Então, aqui em casa, temos um pacto: cocôs são meus, vômitos são dele. Eu sei que me dou mal na conta final, pois Arthur fará muito mais cocôs nessa vida do que vomitará, mas estou muito satisfeita com a divisão de tarefas, marido também, então seguimos assim, felizes.

Sexta-feira. Arthur está dormindo. Eu, a seu lado, vejo que ele vai acordar, pois se remexe para lá e para cá, vira-se de bruços, torna a ficar de barriga para cima. Ao se sentar e chorar, faço o que toda mãe faria: tomo-o em meus braços. E o que ele faz, minha gente?
Vomita. Com ânsia e tudo! Três vezes: na cama, em mim e no chão. E digo mais: essa foi a segunda vomitada do dia! A primeira foi na cozinha, depois de provar (e detestar, é claro) caqui.
Claro que fiquei desesperada, tanto pelo vômito (será que ele está bem? o que será que o fez vomitar?) quanto pelo fato de estar toda vomitada (eca!). Mas venci a fobia e consegui dar conforto a meu filho e nem dei chilique, como costumo fazer.

Sábado. É hora do banho. Arthur não anda muito bem, pois pegou uma virose e anda meio estranho por causa dos remédios, ou da virose, não sei. O fato é que o banho, decidimos, vai ser de banheira, bem quentinho e relaxante, nada de sabonete, pois ele já tomou banho hoje e o objetivo desse é só relaxar para ter um bom soninho. Marido entra com ele na banheira e fica ali, curtindo umas brincadeiras bacanérrimas, relaxando o menino, até que... Arthur faz um supercocozão! Marido, corajosamente, levanta-se, sai da banheira, dá banho de chuveiro no menino (agora, é claro, com todo o sabonete do mundo!) e comemoramos a superação de todos os limites em um único fim de semana: eu toda vomitada e marido todo cocozado.

Então, depois de nos autocongratularmos e parabenizarmos um ao outro, chegamos à conclusão de que ter um filho é um grande tiro que sai pela culatra, pois a decisão mais egoísta que você toma se transforma em puro altruísmo.