sexta-feira, 24 de agosto de 2012

IFF, eu te amo mais que quiabo!

Mantendo os níveis de excentricidade do blog, afirmo que eu amo quiabo. Com frango, com carne moída, puro, em qualquer formato e até o babado, amo, amo, amo! Mas preciso dizer que, como na vida tudo é relativo, apareceu outro amor, que me faria abrir mão de todo o quiabo do mundo: o Instituto Fernandes Figueira.
Desde antes de engravidar já ouvia muitos elogios a respeito da qualidade dessa instituição pública, mas viver a experiência do ótimo atendimento superou as expectativas que eu nutria.
Como todo mundo aqui está careca de saber, tive (e ainda estou tendo) muitos problemas com a amamentação, e só não desisto porque, além de mão de vaca, tenho minhas convicções. Aliás, não desisto porque sou mão de vaca, tenho minhas convicções e o IFF para me ajudar a seguir adiante.
Logo na minha primeira visita, já depois do fim do horário de expediente, fui muito bem-recebida e, embora não tenha podido ser atendida, fui orientada com muita calma, educação e clareza. Com isso, minha pega no seio esquerdo se resolveu. Na segunda visita, dessa vez no horário certinho, fui novamente bem-atendida: ouviram meu relato e minhas queixas com paciência, sanaram minhas muitas dúvidas, deram dicas e esclarecimentos e diagnosticaram minha monília (lembram que amamentei sem dor? Que beleza!). Saí com as esperanças em uma amamentação bacana e prazerosa renovadas.
E de fato fiquei boa, me tratei da monília, da mastite e do medo de amamentar com dor. No entanto, essa semana, notei que meus sintomas de monília haviam voltado. Fiquei apreensiva e combinei com marido de visitar mais uma vez o IFF. Acontece que Arthur vacinou e reagiu, então meus peitos fcaram para depois, já que sair com um bebê com febre não é uma opção para mim. Hoje, porém, senti bastante dor e me dei conta de que estávamos na sexta-feira, que teria um fim de semana pela frente e precisava de uma orientação. Catei no site o telefone do Insitituto, liguei, pedi para falar no Banco de Leite Humano, expliquei minha situação e acabei com a seguinte resposta: todas as atendentes estavam ocupadas e meu nome e telefone seriam anotados para que, quando liberada uma profissional, ela entrasse em contato comigo. Meio incrédula, forneci os dados e, confesso, me esqueci completamente do telefonema e da promessa. Então, cerca de vinte minutos depois, toca meu telefone, chamam meu nome e, para minha total surpresa, era uma médica pediatra do Fernandes Figueira, que escutou com paciência e muita educação minha exposição e explicou tim-tim por tim-tim o que eu deveria fazer, sugerindo alternativas muito pertinentes para meu caso.
Gente, hospital público! Eles telefonaram para minha casa, me escutaram e resolveram meu problema com educação, boa-vontade e competência. Se não fosse por isso, teria sofrido por mais três dias desnecessariamente e, se eu não estivesse tão determinada a prosseguir na amamentação exclusiva, quem sabe, essa seria a diferença entre desistir ou não de amamentar. Exemplo de que é possível um atendimento público de qualidade, o Instituto Fernandes Figueira merece meu mais terno agradecimento por tornar viável e menos sofrido o sonho de oferecer o que há de melhor a meu filho: amor.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A insone que vos escreve

Sempre fui chegada numa insônia, mas achei que com um recém-nascido em casa isso não me pertencesse mais (assim como uma barriga plana, uns peitos sem dor e uma pele sem estrias). Aham, Cláudia, senta lá.
O fato é que eu tenho sofrido de insônia. E das das boas, minha gente: deita na cama, soninho gostoso, se enrosca nas cobertas e toca a rolar de um lado para o outro, como bife sendo empanado. Enquanto isso, marido dorme a sono solto e o recém-nascido chega a ressonar. E você lá, se esbaldando na farinha de rosca da ansiedade. A conta que não pagou, o bebê que dorme há quatro horas e já, já vai acordar, a obrigação de relaxar e parar de pensar para conseguir dormir.
Anteontem, fiquei acordada, matutando sobre a vida, de 2 às 6h30 da manhã. E Arthur dormiiiiiiiia. E marido sonhava. E até o cachorro se refestelava nos braços de Morfeu. Resultado? Míseras 4 horinhas de sono no dia.
Tá, beleza, pensam vocês, mas o que tem isso de especial para ser digno de nota aqui? Ahhhh, é que desconfio que minha insônia tem vida própria e o cruel objetivo de me lascar. Tudo porque escolhe a dedo quando aparecer.
Durante a gravidez tive muita insônia, o que, com a ajuda da progesterona, me fazia rastejar até o trabalho e esquecer o que estava fazendo (ou como fazer) mesmo que, por exemplo, um garfo cheio pairasse em suspensão diante dos meus olhos (estou almoçando? o que faz este garfo diante de mim? como faz para mastigar mesmo?). Mas a insônia matadora mesmo foi a que tive na madrugada que teve início meu trabalho de parto. Uma beleza, não? Com isso, passei por todo o processo sem dormir (e sem comer!). Quando Arthur finalmente estava em meus braços, estava exausta por ter passado a madrugada em claro muito mais que pelo esforço do parto em si.
E aí, a sacanada minha insônia, que desde então tinha me deixado em paz, voltou anteontem. E aí que ontem vacinamos o moleque: uma furada em cada perna e um líquido na boca. Quem acha que filhote teve reação e chorou muitão e teve febrão levanta a mão. Quem acha que meu instinto materno é meio sabotador e fanfarrão levanta a mão. Quem acha que eu só dormirei na próxima encarnação levanta a mão. (Já entederam porque não consigo retomar o educado hábito de responder aos comentários, né? Se fiquei te devendo uma resposta, uma visita, um alô, deixe seu recado após o bipe, aqui nos comentários, tá?)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

As alegrias do puerpério

Arthur completou dois meses e não sou mais uma puérpera, dizem. E sei que muitas vezes fui sarcástica ou irônica quanto aos acontecimentos deste período, mas isso não significa que eu não tenha tido boas vivências ao longo do processo de conhecimento do meu filho.
Acho importante frisar que, para mim, o mais importante e bacana desses dois meses de Arthur na minha vida foi conhecer essa pessoinha fofa, doce e risonha que saiu da minha barriga.
Durante a gravidez, não tive muito essa coisa que leio por aí de sacar a personalidade do bebê a partir da sua movimentação e dos seus hábitos intra-uterinos. Na verdade, por mais que sentisse meu filho se mexer dentro de mim, muitas e muitas vezes me pegava pensando, pasma: "nossa, tem um bebê dentro de mim! Que coisa mais louca!" E achando muito doido (e lindo) esse troço de gestar, supunha que seria mais prudente não criar muitas expectativas quanto ao ser que nasceria de mim, pois quanto mais a gente pensa e sonha e projeta, mais corre o risco de se frustrar com a realidade. Não porque ela não seja boa, não. Mas porque ela é diferente. E a diferença, na maioria das vezes, assusta no primeiro olhar.
Então que eu ia gestando do meu jeito: cuidando, amando, questionando, observando, mas procurando não rotular ou projetar algo em meu filho.
Dentro da barriga Arthur era um gentleman: nada de movimentos bruscos, chutes fortes ou empurrões vigorosos. Brincava que ele fazia ioga dentro de mim, pois ele parecia estar buscando espaços dentro de mim e dentro dele. Hoje, fora da barriga, sou muito grata a meu filho por ele continuar, de certo modo, a ser o bebê iogue da gestação e abrir, a cada dia, todos os dias, espaços para mim em sua vida.
Perceber que meu filho me permitia conhecê-lo, porém, não foi algo que se deu de imediato. Levou tempo, exigiu paciência de ambas as partes (ou melhor dizendo, de "tribas" as partes, já que marido também participa, né?) e foi preciso muita dedicação.
Claro que não vou ser ingênua de achar que em dois meses esgotei o meu filho, no que diz respeito ao conhecimento de sua personalidade. No entanto, posso afirmar com total segurança que, hoje, dois meses depois de tê-lo parido, entendo melhor algumas de suas demandas e sei que ele também compreende algumas de minhas necessidades.
E que delícia foi e é esse processo de reconhecimento! Fora as noites insones e os momentos de desespero, sobretudo os do período de baby blues, a coisa foi divertida e repleta de afetividade e boas surpresas!
Sou uma mulher privilegiadíssima porque tive um bebê saudável e eu estou saudável. Quantas e quantas mães não têm essa minha felicidade, de levar o bebê para casa logo após o parto e poder curti-lo, grudadinho consigo, o tempo todo (até mesmo nas horas em que se quer fazer xixi ou dormir, é verdade). Também sei que minha licença-maternidade é algo por que devo ser muito grata, pois me dá tempo para que eu possa me dedicar exclusivamente a meu filho. Tenho consciência de que cada dia que passo com ele pendurado em meu peito, em livre demanda, é importantíssimo e será relembrado com saudade quando eu voltar a trabalhar. Eu sou feliz com meu bebê nos braços e sei disso. Não posso deixar de festejar ainda a alegria com que meu filho foi recebido em todos os lugares, e como tem sido mágico ser mãe, ser responsável por nutrir e fazer crescer (em todos os sentidos) uma pessoinha. E que pessoinha! Não é por ser meu filho, não, mas Arthur é uma coisa! Lindo, risonho (riu com 20 dias pela primeira vez e não parou mais! Agora, ri para quase todo mundo, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê), ficando cheio de dobrinhas gostosas e difíceis de serem secadas depois do banho, doce. Um sonho de menino. Ainda um gentleman, ainda um iogue, ainda meu bebê, com tanto ainda por descobrirmos juntos.
Por isso, apesar do tom de ironia e sarcasmo, preciso deixar registrado, e de maneira bem clara, que foi uma delícia viver intensamente a maternidade do primeiro (louco e exaustivo) e do segundo (mais calmo) meses. Ter Arthur nos braços e poder me dedicar 100% a ele foi e é uma das melhores experiências da minha vida!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Passaporte para o hospício

[Este posté um oferecimento do combo antifúngico+antibiótico]

Então que esta semana temos um hóspede em casa. O amigo do marido também tem um filho. Mas do alto de seus 1 ano e 5 meses, o filho do amigo já fala, anda e faz zilhões de gracinhas. Como 99% das pessoas com filhos já "crescidos", quando viu Arthur e seus 2 meses incompletos, ficou naquela nostalgia louca, sabem? Ah, que gracinha, que saudade (oi??) dessa fase, que época maravilhosa (esse deve ter tido um filho que dormia de madrugada ou uma mulher que não o acordava para ajudar) etc. Acontece que sempre que o rapaz via Arthur ele estava, para variar, acoplado ao peito, e não dava para interagir. Até hoje.
Arthur teve uma noite difícil. Quero dizer, eu tive uma noite difícil e Arthur teve uma noite de muitas mamadas. Resultado: fiquei acordada das 3 às 6 da manhã. E, claro, fiquei num mau-humor fenomenal. Marido, coitado, e sugeriu: por que você não tenta amamentar deitada, para descansar?
Aceitei, deitei, acoplei rebento e amamentei!
Daí, marido veio me avisar que ia sair. Nesse exato momento Arthur espirrou e eu olhei para baixo, para onde deveria estar um bebê e nada vi! Marido riu e explicou: você dormiu e eu deixei o filhote com meu amigo, pois precisava tomar banho e ele estava doido para pegar Arthur no colo.
Meu povo, vou repetir porque vale a gagazice: eu dormi! E não foram 5 minutinhos, não. Dormi quase uma hora inteira! Sabem quando eu pensei que fosse conseguir isso? Nunquinha. Mas eu consegui: amamentei deitadona e dormi durante a mamada. Que beleza!
E o passaporte para o hospício é procurar bebê nas peitolas mesmo escutando um espirro vindo da sala.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Parem as máquinas e suspendam a água!

PAREM AS MÁQUINAS!

É preciso publicar em todos os jornais a notícia mais importante do semestre! Nada de Mensalão, cavaleiros que sugerem cavalos em lugar de cachorros, disputas acirradas pelas eleições que se aproximam. Não, nada disso. O fato mais importante do segundo semestre é: pela primeira vez em minha vida e na vida do Arthur, amamentei um dia inteiro sem sentir uma dorzinha sequer! Mesmo no mamilo mutilado e com Arthur terminando a mamada com um pedacinho do meu seio na boca (achei que fosse uma afta e meti o mãozão: era um pedaço da minha pele). Notem bem: SEM DOR!
Foi ontem. Sem dor, sem traumas, até queria que Arthur pedisse peito. E ele não se fez de rogado: mamou loucamente, dormia de 2 a 3 horas na sequência (e passou a madrugada acordadão, damn it!) e, então, queria mais peitinho. Ô beleza! Até acho que tem mais bochechinha naquele rostinho lindo (mas só saberemos da verdade verdadeira na outra semana, depois da pesagem no pediatra, e não vou criar expectativas novamente).

Além disso, dessa novidade incrível, tenho outra. Aliás, outras. E preciso que suspendam a distribuição de água aqui no Rio, porque ao meu redor tenho QUATRO grávidas. Isso mesmo: quatro grávidas pertinho de mim. A primeira já está na reta final e também será mãe de um menininho. A segunda está com 12 semanas e acabou de descobrir que também será mãe de um rapaz. A terceira está com 9 semanas e ainda não sabe o sexo, e a última acabou de tomar aquele susto do beta. Sabem qual? Aquele em que você abre o exame e lê no resultado uma vírgula no lugar do ponto e acha que 3 mil é 3 vírgula qualquer coisa, e que "deu negativo, droga, bora seguir com a vida... mas peraí, isso é um ponto e estou MUITO grávida". O mais legal é que todas as 4 grávidas querem um parto normal (e duas delas querem um parto normal natural).
Se por um lado eu fico feliz, por outro fico preocupada, pois por mais que esteja amamentando exclusivamente e tenha, então, meus níveis de prolactina na estratosfera, não pretendo engravidar novamente antes de o Arthur completar um aninho. Por isso que passei a beber só água mineral e a evitar banhos prolongados. Vocês já sabem do poder que a água tem quando o assunto é gravidez, né? Eu, então, por via das dúvidas, tô suspendendo toda água que considero suspeita.

domingo, 12 de agosto de 2012

Dia dos pais

Hoje comemoramos nosso primeiro dia dos pais. Comemoramos, no plural. Marido porque é o pai (dããã), eu porque tenho o companheiro mais amigo e parceiro desta vida, sem o qual minha vida seria infinitamente mais sem graça e sem paixão (são demais os perigos dessa vida, querido), e Arthur porque tirou a sorte grande com esse pai: carinhoso, amoroso, dedicado, íntegro, trabalhador, lindo, inteligente e mais, muito mais.
Parabéns, meu amor! Você merece meu muito obrigada por tudo e as sete horas ininterruptas que seu filho lhe deu de presente!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Até que o último homem tombe sobre o solo

Este texto contém palavrões.

Eu tenho um pequeno e bravo guerreiro em casa. Todas as manhãs e todas as tardes ele luta com ferocidade, geralmente sucumbindo somente diante do peitinho franco-atirador, que sua mãe saca quando mais nada parece conseguir fazê-lo parar, ou do som do útero materno, que seu pai aciona quando sua fúria parece sem fim.
As batalhas são muitas: Soneca Para Mãe Dormir Mais Cinco Minutinhos, Soninho Para os Pais Almoçarem, Cochilo Para Frear Mal-humor Vespertino (também conhecida como a Batalha do Boi da Cara-Preta) e, a mais ferrenha, Dorme Para Mamãe Tomar Banho.
Todo dia é a mesma coisa: acordamos, ele de bom-humor, eu caindo pelas tabelas depois de loooongas e doloridas mamadas no meio da madrugada, daí marido fica com ele para que eu possa dormir mais um pouquinho (geralmente entre 20 minutinhos e 1 santa horinha), e então começamos a luta, filhos da pátria! Arthur pede peitinho, eu dou. Ele dorme e solta o peitinho. E chora. Eu reacoplo o menino nas peitolas. Ele chupeita e dorme, relaxa a boquinha e solta o mamilo. Alívio para as doloridas mamas da mãe, mas terror para os ouvidos de todos na casa (e, eventualmente, vizinhança). Pai se apieda dos urros de dor da mãe, que tenta recolocá-lo no seio, e aciona o som secador de cabelo. Arthur chora. Berra. Urra. Se descabela, mesmo sendo meio careca. Mamãe saca o peito para fora da blusa, mas papai inicia o método radical de ninada: pulinhos, mão na testa, som do útero e Boi da Cara-preta cantado ad infinitum. É hora do almoço, mas mamãe nem fez o xixi da manhã ainda. Bebê dorme. Papai pergunta: no berço, na cama, no carrinho, no bebê-conforto ou no balancinho? Mamãe responde: em qualquer lugar, já que ele vai acordar assim que sair do colo ou parar de chacoalhar. O video do Youtube termina, sem que papai ou mamãe percebam. Mas bebê nota. Abre os olhinhos. Pisca. E urra. Berra. E se acopla novamente ao peito rachado e mastitizado. Papai vai comer, porque o exército não pode ter tal baixa. Esquenta a comida e engole qualquer coisa meio requentada. Aproveita e faz um arroz com ovo para a mãe. Toma o bebê dos braços da mãe, que dá uma garfada, duas e... quase! Bebê acorda e a internet caiu, não há som milagroso, somente o colinho (e peitinho) da mamãe. Todos choram, menos papai, que precisa trabalhar e se tranca no home office. Mamãe derruba arroz com ovo no bebê. Uma súbita vontade de arrotar agita o bebê, que puuuuuuxa o mamilo esquerdo, perde a pega e abocanha aquela mutilação. Cai a casquinha. Sangue. Leite. Lágrimas. Home office foi para a puta que o pariu e papai lança mão do Boi da Cara-preta, mas Tutu Marambaia mora no nosso telhado. E ali mantém seu home office. Como Tutu mora no telhado, Arthur não dorme. Mamãe consegue fazer xixi. Mas ainda tem arroz com ovo.  Bebê de novo no peito. Dorme. Papai no home office. Mamãe, no sofá, tenta alcançar o antibiótico, que mais parece uma cápsula espacial, sem fazer o bebê perder a pega ou acordá-lo. São cinco da tarde. Um mau-humor generalizado toma conta da casa. Reload de todas as técnicas e estratégias já aqui listadas. Bebê dorme, mas acorda 20 minutos depois graças ao Reflexo de Moro. TománocuMoro! Bora dar uma volta? De carro ou de sling? De sling. Arthur, meu filho, calma, com as pernas esticadas assim, fica difícil te colocar no sling. Segura a perninha, amor. A cabeça tá meio torta. O quê? A cabeça. Meio torta (e entorta a cabeça). O quê? Porra, vou colocar ele na cadeirinha. Você viu  chave do carro? O quê? Aaaaaarrrghhhhhh! Shhh, meu filhinho, a gente vai dar uma voltinha para você dormir um pouquinho. Cinto afivelado. Garagem se abre. Que dia é hoje? Terça. Sábado. Sei lá: é o Dia da Marmota. Caralho! Sexta-feira, seis da tarde. Dá dedinho para o Arthur. Já dei. Ele não quer. O quê? O quê? Dedinho, meu filho, não posso te amamentar no carro. O quê? [Este engarrafamento é um oferecimento de Eduardo Paes] Pega a próxima à esquerda, tá mais livre. Ok, ele dormiu? Não, mas tá quase. Que horas são? Sete e meia, falta pouco para o banho, graças a deus! Ele dormiu? Não, mas tá rindo para o móbile. Pelo menos não está chorando. É. Bora voltar. Oito horas. Tira roupa, tira fralda, limpa bumbum, enrola na fralda, liga música, apaga luzes da casa (sempre rola uma topada ou uma canelada em algum canto) e mergulha o menino na água morna. Bocejo. Pais também bocejam. Sai do banho, roupa e fralda limpas, enrola no dudu, dá mais peito mutilado e não mutilado, coloca para arrotar e, enfim, ele dorme.
Lutou até que o último homem tombasse sobre o solo. Neste caso, o último homem é uma mulher.

Cândida, ou o pessimismo

Voltaire deve ter dado um duplo twist carpado no túmulo com essa minha apropriação infame do título de seu livro. Mas é um trocadilho (eu já disse que amo trocadilhos?) tão pertinente (embora, ainda assim, nada bom) para a ocasião, que não pude me furtar de fazê-lo.
Explico: no meio das publicações sobre o parto, comecei a sentir uns calafrios e uma moleza no corpo. A princípio achei que fosse a emoção de partilhar aquele momento lindo (e dolorido) com vocês, que meu corpo estivesse tendo um flashback das dores e mal-estares, mas era febre mesmo. Febrão, aliás: 38,5. Achei estranho e resolvi observar, porque meus seios estavam beeem doloridos já desde o dia anterior e a peitola direita, que estava sendo um paraíso da amamentação, voltou a doer bastante quando Arthur mamava.
Não quis esperar muito e dei um pulinho no Instituto Fernandes Figueira (IFF). Resultado: mastite para mim e monilíase para mim e Arthur (também conhecida como sapinho, causada pela velha conhecida das mulheres, a Sra. Candida albicans). Entramos no antifúngico e tudo parecia melhorar até que ontem acordei novamente nas trevas: dores, dores, muitas dores. Liguei para minha médica de confiança e, após exame, entrei foi no antibiótico também. Fui proibida de usar conchas (embora os sintomas da monilíase já estivessem presentes beeeem antes de eu começar a usá-las), pomadas e sutiãs com aro. Com isso, meu seio esquerdo novamente se tornou um martírio tenebroso. Essa madrugada foi fogo! Amamentei apenas 20 minutinhos antes de sucumbir e pedir que marido botasse o filhote pelamordedeus para arrotar e ninar. Muita dor mesmo!
Confesso, pensei: "que amamentação mais cheia das urucubacas, senhor! Primeiro bicos rachados e sangrando, depois monilíase, culminando com uma mastite." Tudo para desistir, né?
Mas nãããããooooo! Bora tratar essa bodega porque acho que já cheguei no fundo do poço da amamentação dolorida e cheia de urucubacas e, embora saiba que sempre dá para cavar mais um pouquinho no poço das mazelas dessa vida, acredito que não haja mais nada que possa acontecer com meus seios (já que a pega está coreta, né?). Quero muito acreditar, apesar de estar sendo bem difícil, que a tendência é só melhorar, porque sem fungos, infecções e pega incorreta, amamentar pode ser que se torne um prazer, enfim, para mim. Ou não.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O parto (ou O dia em que sambei na cara da sociedade) - considerações finais

Parir é um ato íntimo e solitário, mas quando um nascimento derruba pré-conceitos e lança a fagulha para que outras mulheres conquistem partos dignos, respeitosos e seguros, trata-se de um ato social. E se estou aqui, relatando o momento mais lindo e íntimo da minha vida, é porque acredito no feminino e tenho a imensa pretensão de plantar a sementinha da dúvida ou da vontade de parir em pelo menos uma mulher que leia meu blog.
Depois de contar a melhor história da minha vida, preciso deixar BEM claro que este é um post político e que eu acredito no parto normal. Acho que é a melhor maneira de nascer e estou mais do que convencida de que o parto normal é para a grande maioria das mulheres, embora estejamos sendo convencidas do contrário. No que eu não acredito é que o tipo de parto determine que uma mulher é melhor ou pior mãe que outra. Obviamente eu sou uma mulher muito realizada por ter planejado e conquistado o parto que considero o melhor para mim e meu bebê, e acho que minha conquista de um parto natural respeitoso, digno e seguro é uma vitória feminina, pois prova que o corpo humano é perfeito para gerar e parir, a despeito das inúmeras (e cada vez mais estaparfúdias) desculpas que médicos e pacientes encontram para cesárias desnecessárias. (Mais sobre as desculpas neste maravilhoso artigo!)
Não me crucifiquem antes de ler este parágrafo até o fim, ok? Considero dever da mulher se informar sobre o que vai acontecer durante gravidez, parto e puerpério, e acho que faz parte da boa e saudável preparação feminina para a maternidade buscar esse tipo de informação. Então, conseguir um parto normal seguro e bacana é responsabilidade, sim, da mulher. No entanto, reconheço que nem todo mundo tem interesse ou facilidade em acessar informações sobre o que acontece durante a gravidez e o parto. Também sei que não é fácil bancar determinadas decisões e escolhas porque há pressão familiar, social e, claro, maternal, porque nasce uma mãe, nasce uma culpada, e por mais que a escolha acalente seu coração, muitas vezes gera uma culpa danada por peitar pessoas em que se confia (familiares, médicos, amigos etc.). Acho, por isso, um absurdo inenarrável que profissionais de saúde se valham de seu lugar privilegiado de "especialistas" para convencer, induzir ou até mesmo enganar uma gestante saudável a respeito da necessidade de uma cirurgia de médio porte em lugar de uma via de nascimento natural e mais segura. Acho inadmissível que médicos e enfermeiros enganem ou induzam seus pacientes a acreditar na necessidade de uma cesária. Se é responsabilidade da mulher se informar sobre gravidez e parto, é obrigação dos profissionais de saúde que a atendem e assistem informar a essa gestante sobre suas condições, opções, riscos e alternativas. A escolha é SEMPRE da mulher. O corpo é dela, o filho é dela e a decisão não pode ser pautada jamais em conveniências do profissional que a atende.
Deveria ser realidade, no Brasil e no mundo, que as mulheres tivessem acesso a informação, para que suas escolhas fossem seguras e pautadas em evidências. Ainda não é assim que funciona, e minha briga política é por que cada vez mais mulheres possam se apossar de seus corpos e decisões, contando com os profissionais de saúde relacionados ao nascimento para auxiliá-la em suas escolhas e decisões, o que torna o parto mais seguro, tanto do ponto de vista emocional quanto do ponto de vista prático. Bons profissionais nunca sonegam ou manipulam informações, eles a partilham e estimulam o conhecimento e o crescimento pessoal. Isso em qualquer área, inclusive na médica.
Esta é minha opinião e espero que ninguém se sinta julgada ou menosprezada por ter sido submetida a uma cesária, desnecessária ou não. Os motivos, as vivências e as escolhas são pessoais e intransferíveis. Minha briga é para que mais mulheres escolham um parto normal e de fato conquistem um parto normal, e que não vivam com a frustração de terem sido induzidas a fazer algo que não queriam (ou que temiam) por mera conveniência alheia (seja em relação a uma agenda pré-organizada e que não pode ser mudada, seja por não querer repensar conceitos e crenças já estabelecidos e comodamente reproduzidos).
Dito isto, fico muito feliz em contar que sou uma mulher realizada porque tive o parto perfeito para mim. Sonhado, planejado e executado com muito amor e entrega, como acontece com todas as coisas boas da vida.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O parto (ou O dia em que sambei na cara da sociedade) - parte 3

Em dias sem trânsito, a distância entre minha casa e a maternidade é de aproximadamente 10 minutinhos. Era um domingo, meio-dia, não havia trânsito: tive 5 contrações entre minha casa e a maternidade. CINCO. Fui abraçando o banco de trás do carro, com bolsa de água quente na lombar e travesseiro aparando minha barriga. Nas contrações, queria que tirassem a bolsa de água quente, porque aquilo me incomodava demais e eu estava morrendo de calor!
Chegamos na porta da maternidade e a ruazinha que dá acesso ao estabelecimento tinha um carro parado. Marido buzinou e gritou que eu estava parindo. O motorista, que falava ao celular, apenas colocou a mão para fora com o polegar voltado para baixo, como quem diz "quebrou, se vira aí". Marido buzinou de novo e o cara não se mexeu. Daí, a EO virou-se para ele e falou: "vamos empurrar?" Marido mal respondeu e já foi saindo do carro, seguido por ela. Quando eles colocaram a mão no carro enguiçado o motorista saiu, na disposição de brigar, falando "o que está acontecendo? Tirem a mão daí." Marido respondeu: "você está na porta de uma maternidade e minha mulher está parindo!" Na mesma hora o motorista se desculpou e ajudou a empurrar. A cena, então, era: uma mulher descabelada, de saia, top, barrigão de fora, em pleno trabalho de parto, urrando e berrando palavrões no banco de trás do carro, marido e EO empurrando o carro de um estranho mal-educado. Acho muito curioso que eu me lembre com muitos detalhes dessa cena porque, como eu disse, as coisas ficaram um pouco embaralhadas na minha memória e algumas coisas eu não sei se aconteceram antes ou depois de determinados fatos.
Carro empurrado, chegamos na maternidade. Aqui vale uma pausa dramática.
Uma família, dou minha cara a tapa que a mulher tinha agendado a cesária, vinha saindo, com bolas, flores e malas naquele carrinho estilo hotel. Todos ficaram muito chocados com a minha pessoa, descabelada e mal-ajambrada, de chinelo, berrando palavrões e agarrada na minha EO (que é cheia de tatuagens!). Brotou na minha frente uma cadeira de rodas, que eu recusei prontamete porque não conseguia conceber me sentar. A dor triplicava quando eu não podia escolher a melhor posição para aquela contração. Subi (ou desci, sei lá) para o centro cirúrgico somente com a EO, pois marido ficou resolvendo burocracias de internação e depois ia por outro caminho se vestir para entrar no centro cirúrgico (ainda não entendo porque uma sala de parto natural fica dentro de um CC, mas tudo bem). A EO entrou na sala em que se troca de roupa, pegou uma camisola bunda de fora, uma touquinha e pantufas, e pediu que chamassem minha GO. Sei lá como me vesti (exceto pela touquinha, que nem sei onde foi parar) e fui caminhando, meio trôpega, pelos corredores até que minha GO surgiu na minha frente. "Oi! Tudo bem? Eu estava na passeata. Olha, até me pintaram..." Eu fiquei olhando para ela, como se estivesse vendo uma pessoa verde com bolinhas roxas falando em grego arcaico comigo. Bom, eu suponho que esta fosse minha expressão, já que eu não entendi uma palavra do que ela disse e fiquei pensando: "oi? tudo bem? passeata? pintada? o que ela quer dizer com isso?" Seguimos centro cirúrgico adentro e entramos, enfim, na sala de parto humanizado, que era nada mais que um quarto de hospital, com um banheiro dentro do qual havia uma banheira enchendo (eu podia escutar, mas não via nada, porque a porta do banheiro estava fechada), uma cama que virava cadeira e uma luz fraquinha, criando uma penumbra. Depois de me instalar na cama/cadeira, entendi o que a médica dissera ao me encontrar: "ah, a passeata contra a violência obstétrica..." Eu estava meio aérea.
Dentro da sala estávamos eu, minha GO e duas enfermeiras da maternidade. Depois de um tempinho, entraram também marido e a minha querida EO. Em algum momento, já dentro da sala de parto, minha GO perguntou se eu queria tomar o antibiótico para o strepto positiv que tive no fim da gravidez. Havíamos conversado previamente sobre as minhas opções e escolhi tomar. Assim, as enfermeiras da maternidade entraram em ação para colocarem o acesso intravenoso. Achei muito curioso sentir a picada do acesso, pois jurava que depois de dores tão intensas, eu mal sentiria a picada de uma agulha. Ledo engano! Senti, e senti direitinho. Esse, sem sombra de dúvidas, foi o pior momento do parto, em termos de dor. Não por conta da picada, mas porque precisei ficar reclinada na cadeira/cama, e colocaram uma barra de ferro diante de mim (era uma cadeira para parto de cócoras, depois processei a informação. Contudo, sinceramente, não faço ideia de como alguém consegue parir ali em cima. Mas devem conseguir, porque cada mulher é uma e cada parto é único também). Aquela barra de ferro, naquele momento do TP, com contrações tão doloridas e seguidinhas, era uma barreira intransponível entre dores insuportáveis e algum conforto durante as contrações. Não conseguia sair dali e, aboletada naquela cadeira, sem conseguir me libertar (contrações + barrigão + acesso = imobilidade ou maior lentidão), tive três contrações terríveis. TERRÍVEIS. Sentia cada músculo do meu corpo se contrair de dor e experienciei uma coisa que nunca tnha vivido antes: eu tremia de tanta dor. Marido percebeu e, segundo me confessou mais tarde, foi o único momento do parto em que ficou nervoso, pois viu que eu estava sofrendo muitíssimo. Em meio a esse sofrimento intenso, gritei, pedi, implorei (sei lá qual foi meu tom!) que tirassem aquela barra de ferro e que me tirassem dali. Minha GO pediu que eu aguentasse mais um pouquinho porque já estava acabando o antibiótico e eu procurei relaxar ao máximo, sabendo que o sofrimento estava com minutos contados para acabar. Assim que me liberaram para que eu me movesse, só tive forças para virar de frente para a cadeira/cama, me agachar no chão, enfiar a cara nos travesseiros que estavam por ali (alguém deve ter colocado para me dar mais conforto) e urrar a cada contração.
Neste momento a GO e a EO cochicharam alguma coisa entre si e marido logo quis saber o que estava acontecendo. Assim, saíram ele e EO para o corredor do centro cirúrgico. Eu, que estava cheia de hormônio nas ideias mas nã sou boba, fiquei paranoica: o que está acontecendo? onde eles estão? A GO me acalmou, dizendo que marido foi buscar água (e de fato ele foi) e eu aproveitei para pedir água também. Bebi um golinho mínimo e comentei: "é que não quero vomitar." E a GO respondeu: "você vai conseguir, né? Vai passar a gravidez todinha sem vomitar uma única vez." E eu ri em resposta. Marido entrou de novo na sala junto com EO e alguém começou a ajeitar o acesso intravenoso para que eu pudesse me locomover melhor, sem aquele tubo para lá e para cá. Acontece que eu entrei na paranoia ocitocínica e, desesperada, falei: "ai, meu deus, vocês vão me levar para a cesária, né? Foi isso que vocês cochicharam, que eu vou para a cesária. Eu não quero..." Todo mundo riu, porque eles realmente estavam apenas ajeitando o acesso. Porém, os cochichos foram porque eu tive um rebordo de colo e a GO estava esperando que meu corpo desse um jeito sozinho, mas avisou à EO e ao marido que se eu precisasse, ela iria intervir. Felizmente não foi necessário!
Lembro de perguntar à GO quando a coisa ia ficar legal, porque eu sempre havia lido relatos em que a mulher adorava sentir contração e que ficava feliz porque o bebê estava nascendo e eu só queria que aquele ser saísse de dentro de mim logo, e acabasse imediatamente com meus sofrimento (gente, sem romantismos: dói pacas e eu não estava nada feliz que Arthur nascia. Eu só pensava: "tá acabando, tá acabando, tá acabando..."). Fiquei tendo umas contrações agachada (e segundo marido, em um momento eu levantei a cabe;a e exclamei: "Arthur, meu filho, sai logo que sua mãe tá muito zoada") e depois de um tempo (não faço ideia de quanto) minha GO disse que eu poderia fazer força quando sentisse vontade. Eu pensei: "Ela está louca! Eu vou sentir vontade de fazer força com essas dores? De jeito nenhum!" Mas respondi apenas: "Tá bom." O fato é que alguns instantes depois dela falar isso, comecei a sentir uma vontade de fazer força. Não dá para explicar muito bem o que isso significa, era apenas uma vontade de fazer uma força. E eu fiz. Uma, duas, três... e gemi: "Estou com medo!" É que o expulsivo foi, para mim, o momento mais intenso do parto todo. Primeiro porque sempre foi meu grande medo. Eu estava OK com as contrações, mas morria de medo do expulsivo. Além disso, o expulsivo foi um momento muito, muito, muito animalesco para mim. Eu iniciava o movimento de maneira consciente, mas a tal força tomava conta de mim, jogava meu ego para escanteio, e terminava o processo só com o id. Eu começava a força e ela se concluía, sem que eu conseguisse interferir, controlar ou interrromper nada. Uma força brutal, que começava onde outrora estava a boca do meu estômago e agora estava o fundo do útero e seguia contraindo todos os músculos abdominais até o baixo ventre. Foi quando perdi completamente o controle do processo, e fiquei com muito medo. Então, gemi baixinho. E minha super GO escutou, e disse: "Ártemis, lembra quando eu disse que parir é como pular de pára-quedas? Então, você está na porta do avião e vai precisar pular, não tem mais volta!" Isso, de alguma maneira louca me deixou mais calma (eu morro de medo de avião e de pular de pára-quedas. Sabe-se lá por que a metáfora funcionou para me acalmar, né?). Fiz mais um ou duas forças e falei: "Estou sentindo arder!" E pensei: "Círcuclo de fogo. Mas não diziam que o expulsivo não era dolorido? Mentiram para mim. Tudo dói, o tempo todo!" Entre uma força e outra alguém sugeriu que eu me acomodasse melhor, porque estava agachada em frente à cadeira/cama havia muito tempo e sei lá como meus músculos da perna estavam aguentando! Eu respondi, numa frase meio sem-sentido: "Não quero perder o que já conquistei." Marido disse que riu, porque eu estava doidona de hormônios e não fazia o menor sentido essa resposta, mas depois eu expliquei que só estava cansada demais para fazer todo o raciocínio, que era: eu estou sentindo que cada força que faço chego mais perto do fim, e não quero mudar de posição para não correr o risco de perder os centímetros que já conquistei, não quero arriscar me mexer e fazer o bebê recuar no canal de parto. Vai, gente, era uma resposta muito complexa para alguém em pleno expulsivo, cheia de ocitocina na cabeça!
Depois que avisei que sentia arder, devo ter feito umas três ou quatro forças e Arthur fez POP. Foi assim que senti: POP. Um movimento nada suave, de algo desentalando (confessem: este é o relato de parto menos frufruzento que vocês já leram, né? Nada de "oh, que coisa linda, maravilhosa, divina!"). Eu estava com a cara enfiada nos travesseiros, urrando, e não via nada. E estava tão focada nos puxos e nas minhas dores e sensações, que não escutava nada, não percebia muito bem o ambiente. Sei que senti um cheiro de queimado muito forte e falei para minha GO: "Disseram que depois que a cabeça saía parava de doer, mas é mentira. Quando vai ficar bom?" Fiz mais uma força e escutei: "Uma circular de cordão, heim!" Outra força e: "Ártemis, pega o seu filho!" E vi um serzinho de braços abertos, branquelo, chorando horrores, bem embaixo de mim. Vi e pensei: "É meu filho? Eu pari? Esse chinês é meu filho? Eu devo estar com muita cara de idiota, porque não estou entendendo nada e deveria estar sorrindo, chorando, sei lá... Será que esse bebê não está com frio? Preciso aquecê-lo porque não quero ele na incubadora." Daí eu segurei o Arthur. Depois de todos esses pensamentos em um segundo. Segurei, toda atrapalhada, aquele corpinho magricelo, escorregadio, quentinho e macio. Ainda com o cordão ligado a mim. Lembrei que tinha um marido, procurei por ele e, enfim, sorri. Fiquei ainda agachada uns instantes, até que alguém teve a boa ideia de me sentar na tal cadeira/cama. Pedi uns panos para aquecer o Arthur (eu estava muito paranoica de ele perder calor e ir para a incubadora. Vocês se lembram do episódio de visita à maternidade, né? Queria evitar a todo custo a tal "luzinha") e fiquei sentada, contando dedinhos, pensando "nossa, esse bebê tem tantas rugas! E não se parece com ninguém! Nem comigo, nem com meu marido!" e sendo abraçada e beijada pelo marido. Tentei dar de mamar no seio esquerdo, mas não consegui (sempre ele me dando problemas!). Arthur continuava dando demonstrações vocacionais (será cantor de ópera, pois tem um dó de peito daqueles!) até que eu consegui espetar o seio direito em sua boquinha, e ele então mamou por cerca de vinte minutos na asala de parto! A pediatra comentou: "Nossa, como ele mama!" Pois é: tinha uma pediatra na sala de parto e eu só percebi isso quando, logo depois que Arthur nasceu, ela falou: "Esse aí já nasceu chorando. Vai ganhar APGAR 10!" Pois é, Arthur, reza a lenda, colocou a cabeça para fora do meu corpo, com o corpinho ainda dentro de mim, e BERROU. Eu não vi nem ouvi nada, porque estava constatando que o expulsivo não era nada um passeio no campo, como muitas mulheres diziam, embora em um momento bem específico do processo eu tenha sentido certo prazer, porque o bebê passou pelo meu clitóris e foi até gostosinho (mas não se enganem: gostosinho superrápido, porque depois veio uma cacetada de dor). Quando Arthur começou a mamar, alguém apareceu com um novo refletor. Pois é, o refletor da sala de parto QUEIMOU e eu não vi nada (nem ninguém na sala de parto, bem na hora em que Arthur coroou!), pois estava com a cara enfiada nos travesseiros (mas senti o cheiro de queimado, lembram?).
Esperamos o cordão parar de pulsar e marido o cortou. Então esperamos pela placenta, que saiu sem me causar qualquer dor (aliás, muito pelo contrário pois foi com sua saída que todo e qualquer incômodo passou). Aí chegou a hora da verdade. Mas a verdade não era ruim: uma laceração grau 1 (apenas pele), que exigiu uns 4 pontinhos. Tentei negociar, mas a GO disse que era necessário suturar. Ela, então, aplicou anestesia e começou. Eu falei: "Vou me dar ao luxo de reclamar, viu? Tá doendo!"
E doeu mesmo. E mesmo com anestesia o troço incomodou. A curiosidade desse momento foi que eu fiquei com a língua completamente dormente, sei lá por que cargas d'água!
Enquanto eu tomava meus pontinhos, marido desceu com o rebento, para o check-in no berçário. Arthur mediu 50cm e pesou 3,310kg. Nada mal para um bebê saído da minha pequena barriga!
Depois de dados os pontos e de a adrenalina ter baixado, comecei a sentir as pernas tremerem: só naquele momento foi que os meus músculos enfim sucumbiram. Fui ajudada pelas enfermeiras da maternidade a me limpar (eu parecia uma personagem de filme de terror: coberta de sangue dos pés à cabeça) e passei sozinha para a maca que me levaria ao quarto. Assim que cheguei no quarto telefonei para ao berçário e pedi que trouxessem meu filho: não queria ficar mais um segundo sem ele. E então, depois de uns dois minutinhos, chegou marido, empurrando aquele bercinho que tinha meu lindo bebê chinês dentro. Chinês? É. Arthur nasceu com os olhinhos tão puxados que parecia um chinezinho, mas dias mais tarde ele mostrou que não era oriental coisa nenhuma.
Em nenhum momento do meu trabalho de parto e parto eu achei que a coisa não fosse funcionar. O único instante de medo foi no começo do expulsivo. Não tive medo de parir no carro ou em casa, de o TP não engrenar, de eu chegar na maternidade e a coisa estagnar, nada. Não tive medo. Mergulhei, me entreguei. E se tiver outo filho, outro parto, pretendo fazer o mesmo, embora saiba que cada parto é único.
Entrei em TP efetivo por volta das 8 da manhã e às 13h meu filhote já havia nascido.
Não sofri intervenções desnecessárias, meu filho também não. Não ficou na "luzinha", nem foi aspirado, não teve colírio e nem banho. Eu quis a vitamina K injetável e o antibiótico que fizeram em mim.
Eu sambei na cara da sociedade médica intervencionista, pois tive um parto natural, com quadril estreito, bebê de bom tamanho, strepto positivo, circular de cordão.
Espero que da próxima vez, no meu próximo filho, eu tenha a mesma sorte que tive no primeiro: partaço empoderador e maravilhoso (apesar da dor, porque o lelê dói mesmo, porém dá para aguentar, sim!). Mas espero ainda mais que mais mulheres tenham o direito de escolher e de ter sua escolha respeitada na gravidez, parto e pós-parto.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O parto (ou O dia em que sambei na cara da sociedade) - parte 2

O processo do parto vocês acompanharam de pertinho aqui: teve gincana, estresse, cansaço, introspecção catártica e recolhimento ao ninho. No dia 16, portanto, sentia, mais uma vez, umas contrações que poderiam sinalizar ou não o início do trabalho de parto. Para tentar dar uma mãozinha para a mãe-natureza, fui caminhar. Escolhi um lugar muito significativo (onde dei o primeiro beijo no homem que hoje é meu marido) e fui com minha família passear: marido, cachorro e filhote na barriga. Eram contrações doloridas, mas espaçadas. Liguei para a enfermeira que me acompanharia e avisei: "Pode engrenar ou não, mas estou avisando que é para deixá-la de sobreaviso."
Cheguei em casa e nada mais aconteceu... até que às duas da manhã, já no dia 17, comecei a sentir contrações suaves, porém ritmadas. Estava na internet, insone (como vinha acontecendo com frequência no fim da gravidez), quando senti umas dores parecidas com cólicas menstruais. Procurei me distrair, mas fiquei de olho na frequência, se estavam vindo com algum ritmo. Não me precupei neste momento em marcar os minutos certinho, apenas via se a cada 10 ou 15 minutos eu tinha tido contrações. Por volta das 4 da manhã, as contrações ficaram mais poderosas e eu não conseguia me concentrar em outra coisa quando elas apareciam: se eu estivesse lendo algo, não conseguia entender muito bem o trecho, se estivesse escutando uma música, não prestava atenção na letra. Meu marido dormia, e confesso que a tentação de acordá-lo foi grande, mas pensei que ele precisaria dirigir e, por isso, não poderia estar muito cansado e eu ainda teria muitas horas de trabaho de parto pela frente. Eu sabia que estava começando o trabalho de parto e passei a contar os intervalos das contrações. Então, às 6 da manhã, eu não conseguia mais cronometrar nada, e acordei meu marido para me ajudar a contar a contrações. Ele, sonado, não levou muito a sério meu pedido porque achou que as contrações fossem estar espaçadas ainda. Quando, às 6h30, ele notou que a cada 3 minutos eu contraía, levantou e passou a anotar tudinho. Perguntou, então, se eu queria entrar em contato com a minha equipe, mas eu ainda achava que era cedo demais (ninguém merece ser acordado num domingo, às 6h30 da matina, para um trabalho de parto ainda no comecinho, né?). A cada contração eu agachava na beirada da cama e soltava uns gritinhos. Também ia muito ao banheiro, porque a impressão que eu tinha era de que eu faria xixi durante as contrações e a última coisa que eu queria era limpar chão em pleno trabalho de parto. Fui levando, com ajuda do maridão, até às 8 da manhã, quando contatei a equipe e comecei a mergulhar mais fundo no processo. As contrações ainda vinham de 3 em 3 minutos, mas estavam mais fortes. Lembro que entre uma contração e outra eu não sentia nada, exceto por uma dor bastante forte e incômoda (mais incômoda que a própria contração) no músculo adutor da perna esquerda assim que a contração passava. Na hora, pelo telefone, comentei o fato com a enfermeira que me acompanharia e não me lembro o que ela disse, mas era normal. Hoje, pensando sobre o assunto, faz todo sentido que eu estivesse estirando/dilatando o meu músculo mais resistente e atrofiado.
Também liguei para minha GO para avisar do progresso (eu já havia telefonado no dia anterior e minha enfermeira tinha contatado ela) e, mais tade, depois de Arthur nascer, fiquei sabendo que minha GO ligou para a minha EO e avisou: "ela está em trabalho de parto, sim, porque está gritando. Você já viu a Ártemis gritar por alguma coisa?"
O combinado era minha enfermeira vir me acompanhar em casa, pelo máximo de tempo que eu aguentasse, até que eu quisesse ir para o hospital. Minha GO seguiria diretamente para a maternidade.
Por volta das 9h30 a enfermeira, então, chegou aqui em casa e foi devidamente recepcionada por meus gritos (que agora já não eram baixinhos como antes, mas mais fortes, intensos e poderosos) e por meu boxer. Não lembro a sequência certinha, mas sei que logo que chegou a enfermeira obstétrica pediu para auscultar o bebê e para verificar a dilatação. Aceitei tudo, mas disse que não queria, de jeito nenhum, saber a quantas andava minha dilatação. Primeiro porque eu estava com dores havia bastante tempo, e elas não estavam fraquinhas, não. Assim, se eu descobrisse que estava com 1cm apenas, depois de tanta dor e de tanto tempo, eu ficaria louca. Disse isso para ela, de maneira um pouco mais dramática ("Se eu estiver com 1cm, me jogo da varanda"). Outra razão para não querer saber da dilatação devia-se ao fato de eu ser muito controladora, e fiquei realmente com medo de saber da dilatação e ficar fazendo contas e previsões sobre quando Arthur nasceria. Eu queria e precisava mergulhar cada vez mais fundo no processo, me entregar às contrações, ao parto e deixar tudo acontecer, sem tentar controlar ou prever qualquer coisa. A EO, então, auscultou o bebê (tudo certo! Tudo lindo!) e verificou a dilatação (já estava com 5cm!). Vendo que as contrações estavam intensas, a EO sugeriu que eu entrasse no banho,o que recusei porque nãoqueria ficar de cabelo molhado, o que me incomoda muito (e, confesso, também pensava que eu teria que pentear cabelo, fiquei com preguiça e com medo de ficar descabelada e parecer muito maluca quando chegasse a hora de ir para a maternidade). Marido aproveitou a chegada dela para levar o cachorro para passear e eu fiquei curtindo minhas dores. Lembro de conversar bastante com a enfermeira (que é uma fofa, uma doçura, super divertida e carinhosa) e também de estar bem contente. Marido aproveitou a saída e, a meu pedido, comprou chocolate e água de côco. Eu sabia que precisava me manter hidratada e, como tenho pânico de vômito, não quis comer nada em grande quantidade, para não correr o risco de vomitar (sim, ocitocina é um hormônio que dá náusea e é bem comum vomitar durante o trabalho de parto). Fiquei mordiscando o chocolate e bebericando a água de côco, mas, para falar a verdade, comi e bebi muito pouco: meu medo falou mais alto.
Em algum momeno entre 10 e 11 da manhã a EO sugeriu que eu trocasse as bolsas de água quente (que eu vinha usando desde cerca das 8h) por um banho quente e eu aceitei. Mas não sem antes vestir uma blusa e justificar para a enfermeira: "não quero ficar com os peitos ao léu, balançando." Eu, heim! Lá fui eu, então, seminua, para o banho. De repente surgiu, sei lá de onde, minha bola de pilates (que eu nem sei onde estava guardada), uma toalha e um chuveiro ligado. Entrei no meu boxe minúsculo com bola e toalha (para sentar em cima e para, caso a bolsa estourasse, a gente pudesse ver a cor do líquido amniótico e contorlar se havia mecônio) e fiquei lá, gemendo alto, gritando, relaxando com a água quente. Para quem se lembra, já falei aqui que meu banheiro dá para o vão central do prédio, então todo mundo ouve todo mundo no banheiro, e se não fecharmos a porta do banheiro, nossa privacidade pode ficar um pouco afetada. No começo do TP, me preocupava em fechar a porta do banheiro cada vezque ia fazer xixi, para que meus gritinhos (e depois gritos e gemidos) não assustassem a vizinhança. Nesse momento, dentro do banho, lembro de ter pensado: os vizinhos vão me escutar, mas que se dane. Tá doendo e ninguém tem nada com a minha vida.
Saí do banho porque senti falta de ar. Não sei como é com vocês, mas eu, às vezes, me sinto meio sufocada em um banho quente. E aquele era um banho beeeeem quente. Me sequei e me vesti (já a roupa que eu havia separado para ir para a maternidade) com a ajuda da enfermeira, que também sugeriu que eu colocasse um absorvente pós-parto (que é IMENSO, quase uma fralda!) para relaxar durante as contrações (lembram que eu ficava com a sensação de que faria xixi?) e para evitar que eu molhasse tudo caso a bolsa estourasse (e, novamente, para garantir que veríamos a cor do líquido). Foi realmente ótimo, porque relaxei bem. Lembro que nesse momento eu notei que as contrações deram uma espaçada e comentei com a enfermeira, que disse ser algo normal, já que eu havia relaxado. Em uma das primeiras contrações pós-banho, ainda sem absorvente, senti uma água escorrer e falei: "acho que minha bolsa estourou." Ela verificou e viu que o líquido estava claro. Isso, confesso, é um grande mistério no meu TP, porque eu jurava que minha bolsa havia estourado ali, naquele momento, e o absorvente serviria para evitar que o líquido, que fatalmente sairia, molhasse tudo. Mas, mais tarde, minha GO, dentro da sala de parto, disse: "Sua bolsa acabou de estourar!" Então, confesso, não faço ideia de quando a bolsa estourou.
Depois do banho a EO perguntou se poderia fazer novo toque e eu permiti, desde que, novamente, ela não me revelasse a dilatação. Assim foi feito e a EO telefonou para a GO. Ao desligar, veio falar comigo: "você decide se quer ir para a maternidade agora ou se prefere esperar mais um pouco." Eu quis ir. E ri: "passei nove meses falando que não queria parir ao meio-dia, e vou parir o meio-dia." A EO disse que eu não iria parir ao meio-dia e começamos a organizar minha ida. Eu queria chegar rápido ao hospital porque as contrações estavam muito fortes e eu não imaginava entrar num carro, ficar restringida em minha liberdade de locomoção e fadada a manter a mesma posição dentro do carro, com dores ainda mais intensas e, quem sabe, até mesmo menos espaçadas. Falei isso com a EO e ela entrou em contato com a GO, que partiu para a maternidade, onde nos encontraríamos. Nosso plano inicial era ir para uma maternidade aqui no Rio que tem sala de parto humanizado, com banheira e ambiente menos "frio" (embora fique dentro de um centro cirúrgico). Só que existem duas dessas maternidades aqui, uma mais perto da minha casa, mas que só tem uma sala de parto humanizado, e outra mais distante, que conta com mais salas desse tipo. Isso significa que nossa ideia inicial era tentar chegar na maternidade com mais salas de parto humanizado, mas eu estava com muitas dores e 9cm de dilatação (embora eu ainda não soubesse disso) e resolvemos ir para a maternidade mais próxima.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O parto (ou O dia em que sambei na cara da sociedade) - parte 1

Caríssimos leitores, finalmente meu relato de parto (escrito em meio a mamadas, com a mão esquerda e tendo eu os olhos embotados pelas lágrimas - da dor da amamentação, que fique bem claro porque sou uma cronista da vida real e a vida real não é tão cor-de-rosa assim, né?).
Para dar mais dramaticidade, dividi em 4 partes (na verdade, dividi para não cansar a beleza de ninguém. Acontece que sou prolixa pra cacete e mesmo divididinho, o relato é para os fortes). Por favor comentem. Este foi o momento mais importante da minha vida selvagem e estou muito feliz de partilhá-lo com vocês.

***

Quando minha médica entrou no quarto para me dar alta apenas 24 horas depois de eu parir Arthur, ela falou: "Você sambou na cara da sociedade!"
E foi assim mesmo!
Não sambei na cara da sociedade porque tive um parto normal, mas sim porque ouvi, durante muitos e muitos anos que meu corpo não era capaz. E mesmo assim tive um parto normal.
Na infância, meu corpo era incapaz de crescer, engordar e se estruturar da maneira adequada, e passei boa parte dos primeiros anos em dieta alimentar hipercalórica, tomando suplementos vitamínicos e remédios que me ajudassem a metabolizar alimentos. Isso apenas porque eu era uma criança pequena, estilo mignon.
Pois esta criança mignon se tornou uma adolescente mignon e logo após a primeira menstruação uma jovem portadora de uma patologia denominada "ovários policísticos". Mais uma vez, meu corpo não era capaz de produzir. Ou melhor, meu corpo era falho em se reproduzir, e certamente eu precisaria de remédios indutores de ovulação quando decidisse que era hora de engravidar. Além disso, a adolescente mignon se tornou uma adulta pequena, que com 1,60m de altura e meros 42kg, certamente não teria passagem no quadril estreito para um parto normal saudável.
Assim, desde o começo da minha vida eu me via fadada ao fracasso do meu corpo: incapaz de se nutrir, de se manter, de se reproduzir e de parir.
Meu primeiro passo de samba foi quando eu me dei conta de que, mesmo mignon, fui uma criança extremamente saudável: sem nunca ter tido qualquer intercorrência grave até uma apendicite me levar a um hospital em 2010. Fora isso, uma catapora muito da mixuruca e umas gripinhas.
Meu segundo passo de samba foi ter optado, mesmo com meros 17 anos, por não tomar anticoncepcional para "tratar" meus ovários policísticos. Primeiro porque a pílula não trata (ajuda, em muitos casos, claro, mas não é promessa de cura e redenção), segundo porque eu dependeria de conhecer meu corpo para dar o terceiro e muito importante passo de samba: engravidar naturalmente, mesmo tendo a prescrição de indutores de ovulação. Se consegui engravidar sem indutores foi porque pude conhecer meu corpo e suas sutilezas a partir da observação diária. Com calma e paciência, sabia exatamente o que acontecia com meu corpo e quando havia alguma coisa errada (prova disso foi ir ao hospital com uma crise de apendicite tão incipiente que ajudou no processo de recuperação pós-cirúrgico).
O quarto e último passo foi entender que se eu queria um parto natural como eu havia sonhado e planejado, não poderia nunca me deixar nas mãos de um profissional que não confiasse em mim e no meu corpo: saí da ginecologista que me atendia muito satisfatoriamente havia muitos anos e procurei uma profissional cujas ideias se afinassem com as minhas.
E o resultado desse aprendizado foi o grande espetáculo que protagonizei, modéstia a parte, no dia 17 de junho de 2012.

sábado, 4 de agosto de 2012

Sonecas, leitinho e rock'n'roll

Eu fui uma adolescente cheia de atitude rock'n'roll, sobretudo no que dizia respeito ao visual. Tive cabelo rosa, azul, roxo, usei tachas, spikes e metais, vestia meus jeans ao avesso, customizava minhas roupas e tinha piercing quando poucas pessoas sabiam o que era isso. E meu grande sonho era ter um piercing nos mamilos, o que nunca fiz por falta de coragem. Daí foi-se a adolescência, os cabelos voltaram à cor natural, as roupas precisaram se adequar ao ambiente profissional, mas eu ainda acalentava o sonho do piercing nos mamilos. Daí eu engravidei. Daí o Arthur nasceu. E agora, meu piercing de mamilo de vez em quando sorri para mim.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Guia de internação

Cena 1

Alta madrugada e o bebê chora. A mãe acalenta, dá leite e o bebê, enfim, dorme. A mãe, exausta depois de uma hora e meia entre mamada e aconchego, acorda o pai e pede:
- Querido, você pode, por favor, colocar o Arthur para arrotar e niná-lo um pouquinho?
O pai dá uma resmungada de quem acabou de acordar, levanta, esfrega os olhos e, carinhosamente, coloca para arrotar e nina... O TRAVESSEIRO!

Cena 2

Começo de noite e o bebê, finalmente, dormiu. Mãe dá boa noite ao pai, sai correndo para trocar de roupa e tentar escovar os dentes. No banheiro, pega a escova de dentes e aplica uma porção generosa de... HIPOGLÓS!

Se um médico ler isso aqui, vai me dar a guia de internação para o hospício.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ainda sobre amamentação, maternidade e amor

Meu filho mama como se fosse uma coisa preciosa. É lindo demais: ele se aconchega no meu colo, procura o seio, abocanha revirando os olhinhos e suspirando fundo, como quem diz "era disso que eu precisava", coloca as mãozinhas sobre meu seio, assegurando-se de que nada lhe escapará, nem o alimento, nem o amor, e mama com vontade. Cada hora, uma vontade: dormir, sonhar, se acalmar, receber o carinho da mãe, passar soluço, aliviar a necessidade de sucção e até se alimentar. No fim, ele sorri, ainda com meu seio na boca, e sejoga para trás, demonstrando a confiança cega que deposita em mim. Justo em mim! Mulher falha, cheia de defeitos, inseguranças e não-sabismos. Por mais que eu leia, me informe e me empenhe em melhorar, sinto que estou ainda muito distante da perfeição que é meu filho. Porém, numa das muitas contradições da maternidade, e sem qualquer modéstia, me acho uma ótima mãe para Arthur. Não pelos sacrifícios que fiz, faço e farei por ele, mas pelo imenso prazer que encontro em ser sua mãe. É bom, muito bom, acordar de madrugada e saber que tenho o poder de aliviar sua angústia, sua fome ou se desconforto. É muito poderoso saber que minha voz o acalma, meu colo o embala e meu seio o sacia. E hoje entendo porque, mesmo com tanto sofrimento (e ainda me dói muito o seio esquerdo), insisti na amamentação, mesmo sem ter um motivo muito claro: percebi que o contato íntimo e visceral promovido pela amamentação é o que tenho de mais parecido com a intimidade da gravidez e com a força do parto que tivemos. É, portanto, através da amamentação que mergulho mais e mais fundo na relação com meu filho. É assim que me nutro da força que preciso (e quero) ter para fazer crescer meu filho, meu amor, minha alegria.

PS: Arthur está com apenas 4kg. Torçam comigo para que não precisemos complementar sua alimentação.