terça-feira, 28 de junho de 2011

Das cafeteiras de nossa vida

Eu tenho uma penca de emotivas e carinhosas tias-avós. Então, quando eu resolvi casar e homenagear meus avós, a comoção rolou solta.
Ontem estava em casa e recebi um telefonema da minha mãe:
- Ártemis, sua tia Gilda comprou uma cafeteira para você.
- Ah, mãe, que bacana. Vou ligar para agradecer amanhã, hoje estou exausta e...
- Minha filha, acho que você deve telefonar logo porque você não sabe o que aconteceu...
E começou a contar.
Minha tia-avó se emocionou bastante com o casamento e resolveu que queria me dar um presente. Entrou em uma loja e se apaixonou por uma cafeteira. Comprou, mandou embrulhar bem bonito e foi para casa. Lá, encontrou meu tio-avó no computador (sim, eles são fofos assim: moderninhos e usuários de novas tecnologias!), na hora do lanche. Tia Gilda, cuidadosa com o marido, se ofereceu de levar para ele o bolinho da tarde, virou-se e... SLAPT... escorregou. Quebrou o fêmur. Três fraturas. Dor. Muita dor. No hospital, foi levada para cirurgia, mas antes de conseguir resolver o problema do fêmur, precisou ficar internada, tomando não-sei-o-quê para baixar creatinina. Cirurgia feita, placas, pinos, ossos e taxas sob controle, ela telefona para minha mãe e avisa que a minha cafeteira está com o filho dela. Minha mãe pergunta:
- Mas, tia, como a cafeteira foi parar com meu primo se a senhora foi para o hospital logo depois de comprar a cafeteira?
Bom, minha tia-avó, deitada em sua sala, com o fêmur quebrado em três pedaços, provavelmente urrando de dor, lembrou-se (e fez questão) de pedir para alguém levasse a minha cafeteira para a casa do filho dela, pois seria mais fácil para eu buscar.
Fofuras à parte, isso me fez pensar nas cafeteiras que temos na vida.
Quantas vezes, em meio a uma confusão dos diabos, sentindo dores atrozes, nos importamos com a cafeteira em vez de nos concentrarmos no que realmente importa?
Eu ainda não sou mãe, mas suspeito que a maternidade deva ter tudo a ver com esse raciocínio, pois que vejo muitas mães empenhando energia e dedicação àquilo que não importa muito, enquanto o que verdadeiramente tem valor fica relegado a segundo plano.
Não acho, porém, que todas as cafeteiras de nossas vidas sejam necessariamente ruins, pois diversas vezes elas nos servem de proteção a situações para as quais não temos estruturas emocionais adequadas. Outras vezes, as cafeteiras fazem alguém importante tão feliz por se sentir especial, que compensa. Acho que o desafio, como sempre, é encontrar o meio-termo, o equilíbrio, a harmonia.

Claro que eu telefonei ontem mesmo para minha tia-avó, para agradecer o carinho, a atenção, a preocupação e, claro, a lição que ela nem sabe que me deu, mas que nunca mais me deixará olhar uma cafeteira com os mesmos olhos.

domingo, 26 de junho de 2011

Pré-balzaquianices

Vinte e nove não são trinta, mas que eu sou uma pré-balzaca, ah, isso eu sou. E como em todas as idades (pelo menos para mim), as neuroses não nos decepcionam. Ao contrário, nos acompanham incansavelmente, apenas mudando algumas perguntas de lugar.
Pois bem, hoje, na agenda, tinha um programa bacanérrimo, que incluía reencontrar amigos que há muito eu não via, uma festa com muito rock'n'roll e uma disposição que só o finzinho das férias e a iminência de se tornar uma balzaca e ter de provar que os hormônios que aos dezoito floresciam, aqui ainda florescem como lá dá a um sábado à noite.
A despeito de eu ter ficado com preguiça de ir cortar meu cabelo e ele ainda estar esquizofrênico, fiz uma produção satisfatória, com pernocas de fora e tudo. Carreguei o marido que, de boa vontade, tomou um Redbull para aguentar o tranco, e lá fomos nós para a tal festa.
Quando o táxi parou, não entendi muito bem:
- Moço, a festa não é aqui, não.
- É, minha senhora, mas tem muita gente na rua e é melhor vocês seguirem a pé.
Fingi que não ouvi o "minha senhora" e saltei glamurosa, usando aquele velho truque da mãozinha na frente da saia para evitar calcinhas exibicionistas, direto para uma fila que, cacetada!, quase dava a volta no quarteirão.
Marido foi se certificar de que não estávamos na fila do Banco do Brasil, mas só porque quando eu gritei "vê se essa fila não é para montar acampamento para o show do Restart" ele já estava meio longe. Fiquei rezando, quietinha, para que ninguém me chamasse de tia ou para que eu não encontrasse minha afilhada atracada a um barbudo (vocês já repararam que a moda da garotada da ala masculina é cultivar uma barba meio Che?). Marido volta com o boletim completo: é fila para o ingresso, devem ter umas quatrocentas pessoas na nossa frente e você não deu um passo desde que chegamos aqui. É, amor, essa parte de ter ficado no mesmo lugar eu já sabia.
Apesar da perspectiva desoladora, decidimos ficar e entrar na festa. Acho que o primeiro sinal de que sua idade não é compatível com a proposta da festa é quando você decide ficar na fila pelo motivo errado: provar que está tudo bem e que você ainda aguenta mofar numa fila quilométrica só para se espremer com desconhecidos em um espaço relativamente pequeno. Mas quem disse que seu orgulho, que após meia hora de fila já é amigaço da neurose pré-balzaca, deixa que você admita isso? Você fica, achando que está camuflada no meio daquela meninada, mesmo sabendo que você usa um perfume Chanel enquanto elas se bezuntam de hidratante Victoria's Secret. Rá.
Então, estava eu ali, me autocongratulando bastante por praticar exercícios regularmente e, por isso, ainda poder ficar uma hora de pé na fila sem ter a coluna em frangalhos, quando ela chegou e parou a meu lado (na verdade, ela furou fila mesmo, mas quem liga, não é mesmo?). Nós fizemos faculdade juntas, embora nunca tenhamos sido amigas. Eu não lembro o nome dela, mas dou aquela avaliada global para checar se tudo o que tenho feito para me manter mais ou menos está de acordo com os padrões etários. Cabelos sem muitos fios brancos, poucas e discretas rugas, pelancas controladas, suaves bolsas sob os olhos, mas de um modo geral eu e ela estamos bem. Tenho ímpetos de ir parabenizá-la, mas decido massagear apenas um ego e fico quietinha, aproveitando a brisa agradável da noite.
O relógio indica que minhas aulas de ginástica realmente fazem efeito: uma hora e meia de fila e necas de dores lombares. Então, no meio da multidão, surge um camarada, aos gritos, anunciando que aqueles que desejarem abrir mão do desconto fajuto que a tal "lista amiga" oferece podem seguir diretamente para a bilheteria e entrar, sem fila, sem estresse. Ora, ter um emprego, e não um estágio, tem suas vantagens, afinal. E agarrada firmemente a esse pensamento, vou com o marido para a tal não fila.
Acontece que a não fila é outra fila. Menor, é verdade, mas com os mesmos adolescentes barbudos e meninas que conversam sobre Pe Lanza.
É nesse exato momento que minhas neuroses, até então discretas, resolvem dançar "Conga conga conga" dentro do meu cérebro: será que se eu desistir e for para casa vai ser coisa de velha? Será que eu vou ter crises claustrofóbicas de velha se eu entrar com esses meninos bêbados? Será que eu sempre fui tão pudica ou as saias realmente estão encurtando e minha idade aumentando? Será que no meu tempo de boates e festas as filas eram tão enormes assim e eu não percebia? Será...
- Ártemis, você quer mesmo enfrentar mais essa fila para entrar com toda essa gente na festa? - marido me chama de volta à realidade.
- Sim, claro. Não vejo o pessoal há tanto tempo e...
A verdade é que eu não queria entrar e ter de lidar com tanta gente. Resgato a adolescente que fui e ela me diz: programa de índio, não importa a idade.
- Vamos embora, marido.
Marido concorda, me abraça e resume a noite:
- A vantagem de ter quase trinta em vez de dezoito é que você já tem experiência suficiente para saber quando um programa não vale o esforço.
Voltamos para casa para viver o que 100% deles quer, mas bem menos de 1% vai conseguir ali dentro: amor.
É, eles invejariam meus quase trinta.

sábado, 25 de junho de 2011

A falta que ela me faz

Minha melhor amiga mora longe. Muito longe. Tão longe que a distância não se mede mais em quilômetros, mas em milhas, essa medida desconhecida e misteriosa, e em anos - o tempo que ela fica longe do meu abraço.
Então, neste mês de maio, minha melhor amiga veio me ver casar (ela, é claro, foi madrinha). E no mês de junho ela veio me visitar novamente, para me ver comemorar um aniversário, o primeiro que passamos juntas desde que nos conhecemos. É que sempre moramos longe uma da outra. Apesar disso, todas as vezes em que nos reencontramos, parece que foi ontem que nos despedimos. Deve ser por isso que eu me permito ter novamente catorze anos, e rir até doer a barriga, e pular de alegria quando a vejo, e ser ridícula porque a amo.
Sei que deveria me sentir muito feliz por ter uma pessoa tão especial quanto ela na minha vida, e assim me sinto na maioria do tempo, mas quando vem chegando a hora da despedida, não consigo deixar de pensar que eu gostaria muitíssimo de tê-la comigo sempre, todos os dias, porque os momentos especiais às vezes são programados, como um casamento, mas muitas vezes acontecem numa distração, no descuido que a rotina tem ao ser engolfada, ela mesma, num tédio sem-fim. Sei que minha melhor amiga estará aqui quando eu precisar. Sei que ela estará presente mesmo quando distante. Mas é que me dói deixá-la levar a menina que eu fui. Daí, eu me lembro que estarei guardando a menina que ela foi, e, por isso, todas as vezes em que nos encontrarmos, estaremos felizes em nossa meninice, e então estou mais uma vez contente por tê-la.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ansiedade, essa palavra de quatro letras

O ser humano é um bicho engraçado, tenta rotular e determinar tudo aquilo que o cerca, de modo que ele possa dizer "eu sei" ou "eu conheço". Não é de hoje que elegemos uma doença ou patologia como o "mal do século", desde a Peste até a depressão, passando inclusive pela opção sexual, tudo parece estar sujeito ao aval daquele carimbador maluco do Raul (o Seixas), pois se não for selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, não se voa, não se move e se liberta. Há algum tempo venho ouvindo a máxima de que o mal do século é a ansiedade, porém acho interessante notar que há não muito tempo esse posto era ocupado pelo estresse. Mas aí a inflação estabilizou, os loucos anos 80 deram lugar a menos yuppies e os anos 90 e sua geração Y explodiram o estresse, dando à depressão um memorável primeiro lugar na lista dos mais-mais e, em breve, os anos 10 deslindarão uma nova doença que irá desbancar a ansiedade. Até lá, fiquemos com ansiedade como o mal do século. De posse desse, quero pensar sobre outro clichê, para ir treinando, já que dizem que ser mãe é, entre outras coisas, cultivar e repetir clichês.
A primeira palavra que passa a fazer parte do vocabulário das mães deve ser ansiedade. Mesmo a mais zen, a mais ponderada tem suas angústias assim que se descobre grávida ou, não raro, mesmo quando começa a planejar a ampliação da família.
Para mim, a ansiedade é plural e composta por quatro letras.

M
De menstruação.
Muitas mulheres têm uma relação complicada com seus períodos. Cólicas, intensidade do sagramento, variações de humor, inconveniência, muitas são as reclamações que coleciono nesses quase trinta anos de feminilidade. E realmente, ser mulher e menstruar impressiona. Aos seis anos impressionava porque era sangue, e nossas mães diziam não estar machucadas. Hoje, aos 29, impressiona porque está intimamente relacionado ao poder de gerar, parir e perpetuar a vida. É visceral. Mas, para mim e meus ovários policísticos, menstruar é um motivo de ansiedade, já que nunca sei quando acontecerá, nem em que intensidade e, sobretudo, se fará parte de um ciclo ovulatório e, portanto, fértil.

E
De estrutura, de estabilidade.
Não conseguiria contar a quantidade de vezes que pensei sobre o assunto. Existe um dito popular que afirma que "filho vem com pão debaixo do braço", mas como classe média malresolvida, sempre penso se devo esperar mais tempo, para ter mais dinheiro, mais estrutura, uma casa maior, mais tempo, mais qualidade de vida, mais segurança para ter esse filho. E aqui, onde digo "segurança", desdobram-se diante dos meus olhos muitos outros significados para essa tal segurança (outra palavrinha de muitas letras). Minha segurança mora nas escolhas e é irmã siamesa da insegurança, ou seja, onde uma vai, a outra é carregada a reboque, e basta ter a andança interrompida por arrogâncias e surpresas para olhar para o lado e se lembrar de que ali está a gêmea. Minha segurança, então, é instável porque sinaliza o outro lado da moeda e é constantemente posta à prova pelas circunstâncias e decisões que tomo (ok, acontece assim com todos, não sou diferente, mas isso não minimiza a ansiedade que isso traz).

D
De dor.
Morro de medo de dor. Com o parto não poderia ser diferente. Mas meu medo da dor não se limita ao momento do nascimento, com suas contrações misteriosas, suas intervenções indesejadas. Morro de medo da dor que um parto diferente daquilo que desejo possa me causar. E falo aqui bastante especificamente da cesárea. Não sou radical e tenho bem claro que ser uma boa mãe não está necessariamente relacionado ao tipo de parto a que fomos submetidas (se não, mães adotivas jamais seriam boas mães e isso definitivamente não acontece). Porém, quero muito, muito, muito ter um parto normal, sem anestesia (mas e a dor?), sem episiotomia (mas e a dor?) e sem desassitência. Por outro lado, como bancar esse desejo? De dar a cara a tapa? Sustentar minhas escolhas e decisões? E se eu perder o controle e acabar frustrada no meu intuito de parir naturalmente? E se eu tiver de lidar com essa dor (a dor do que não foi porque não tive força e fibra) por toda a vida? Dor e estrutura se entrelaçam numa perigosa dança: médico, informação, poder de escolha, confiança no profissional, acesso aos melhores recursos; é necessário dosar tudo isso em uma química perfeita, que me permita ter o parto que eu quero, mas não sei se sou capaz.

O
De ônus.
Sendo muito sincera, nem só de alegrias vivem as mães. E aquilo que não é só alegria me deixa ansiosa, pois preciso de garantias inexistentes de que conseguirei lidar com uma nova realidade feita de sono entrecortado, baby blues, cansaço, birras, manhas, rebeldia (adolescente ou não), brigas, dores, dores, dores. Serei eu capaz de ser uma boa mãe mesmo sendo posta tão à prova?

Então, minha ansiedade tem quatro letras: M-E-D-O
Conseguirei eu ser mãe? Conseguirei eu ser uma boa mãe?
Tenho muito medo porque não posso determinar o que o futuro me reserva. E assim, tentando antecipar dores e alegrias, fico presa, impedida pelo carimbador maluco que carrego dentro de mim de ultrapassar esse clichê: da ansiedade da treinante.

E vocês? Quantas e quais são as letras da sua ansiedade?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Safari: eu sobrevivi

Sobrevivi.
Mas depois eu conto mais sobre o safari, porque agora as malas estão prontas e saudade no meu peito não me deixa escrever muito: em pouco mais de 24h estarei em casa, em uma nova dimensão de selvageria, que inclui a vida de recém-casada e o canídeo que habita (e bagunça) nosso lar, selvagem lar.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

All we need is love (and food)

Ok. Chegou a hora de fazermos o safari. Amanhã iremos para o parque e, caso não sejamos devorados por um leão faminto, volto para contar como foi assim que possível (o que, espero, não seja daqui a três dias, quando termina a aventura). Dos medos que envolviam este safari, já posso riscar um (o voo até a cidade mais próxima do parque) e acrescentar mais outro: o frio. Está tão frio, mas tão frio aqui que acho que os bichinhos vão me reconhecer pelo cheiro. Vai ser um tal de "ih, lá vem aquela maluca do casacão bege" e "olha, aquele urubu está voando só com uma asa" (porque a outra estará tapando o nariz), afinal, sabe-se lá se será possível tomar banho com os 3 graus que estamos enfrentando.
Mas nem só de tormentos congelantes vivemos nós, os recém-casados - sim, marido não para de contar isso para todos por aqui. Então, vou aquecer seus coraçõezinhos.
Chegamos no hotel depois de um voo caótico. Ventos loucos, decolagem e pouso com tremeliques e chiliques (fiquei tão nervosa que senti um calor miserável e, ao descer no aeroporto, achei que os três graus estavam bacanas, fresquinhos e agradáveis). Claro que eu não comi durante essa viagem maldita. Deixei para me alimentar no hotel, já devidamente instalada e com os quatro dois pés no chão. Rá! Óbvio que o restaurante do hotel estava fechado, que o hotel fica longe para dedéu de qualquer lugar habitável e que o McDonald's por que passamos não faz entregas. Pânico. Se houvesse calor, um fio de suor escorreria por minha fronte, mas o máximo que consegui foi um esganiçado "ahhhnn...". Bom, de vez em quando é mesmo bom ter cara de maluca, pois a mocinha da recepção se apiedou de minha pessoa e se ofereceu para me levar (e me trazer de volta, em um PT Cruiser com aquecimento!!) no tal McDonald's (a única coisa que ainda vendia algo parecido com comida por perto).
Não aceitei, claro. Mas meu estômago, esse maroto, roncou tão alto que abafou minha educação e tudo o que me restou foi agradecer com todo o meu ardor.
Embarquei no carro da moçoila, nervosíssima, pois não sei muito bem como agir em situações assim: fico grata, mas tão grata, que quero pagar com aquilo que tenho de melhor, que é minha habilidade com as palavras. Seria ótimo diverti-la nesta noite fria com ótimas histórias e gracinhas. Seria, se eu dominasse o inglês, né? Então, o que eu fiz, na verdade, foi um constragedor discurso de como fomos enganados pelo motorista de táxi que nos levou ao hotel, repleto dos mais clássicos e atrozes erros de sintaxe e concordância. (Alô, IBEU! Precisam de alguém para servir de exemplo do que NÃO dizer?)
Enfim, tentei, errei, me esforcei (ela também) e, conversa vai, conversa vem, eu pergunto o nome dela e sabem o que ela me responde?
- Meu nome é Lerato, e na minha língua, significa AMOR.
Não é lindo? Em plena lua de mel o amor se apieda de minha fome e me leva, num carro confortável, estiloso e quentinho, para arranjar comida.
Cheguei à conclusão de que, realmente, os quatro rapazes de Liverpool estavam certos: tudo de que precisamos é amor (e alguma comida).

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A lua de mel e o mito da selvageria constante

Não sei se sou uma exceção. Mas acho que não. O fato é que aconteceu uma coisa muito curiosa nessa minha lua de mel. (Calma, não precisa tirar as crianças da frente do computador ou desconectar o celular, porque o que vou contar é, como diria minha bisavó, aceito nas melhores rodas e famílias.)
As pessoas têm uma incrível e até invejável ideia de que a lua de mel deve ser um momento de desconexão total com o mundo: não devemos nos comunicar de maneira nenhuma, porque estaremos muitíssimo ocupados o tempo todo, seja visitando lugares, seja...hmmm, ok, você entendeu meu ponto. Mas o fato é que, graças!, não ficamos transloucados e incomunicáveis, temos alguns momentos de descanso no hotel, temos a oportunidade até de termos privacidade e momentos a sós! Minha lua de mel, além de ser uma lua de mel, é também uma parte das minhas férias, e faz parte da minha noção de descanso e entretenimeto navegar hoooooras a fio pela internet, lendo o que eu quiser, assistindo o que eu bem entender, conversando com os amigos e... pois é, é aí que mora o problema: as pessoas simplesmente pararam de falar comigo porque, em sua invejável concepção de lua de mel, eu mais do que estou ocupada, eu PRECISO estar ocupada o tempo todo, e conversar é um desperdício de tempo, energia e sei lá mais o quê.
Resultado disso é que compramos um pacote de internet para usarmos de noite - quando as lojas e passeios estão fechados por aqui, mas ainda temos bastante tempo para gastar antes de irmos dormir -, e não existe uma viva alma que, espontaneamente, venha falar comigo. Quer dizer, existe só uma: minha mãe, fofa, que todos os dias quer saber da viagem, se estamos aproveitando bastante, descansando bem. Deve ser porque ela já teve uma lua de mel e sabe que selvageria em tempo integral não é a regra, assim como essa minha solidão de amigos em plena lua de mel não deve ser exceção.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ah, a vida selvagem!

Às vésperas de embarcar no meu primeiro safari (é sério!), resolvi criar um blog sobre família. Ou melhor: sobre a família que estou construindo. Em plena lua de mel, prestes a experienciar a vida indomável (ui!) na África, percebi que viver a dois, a três, a quatro (e a quantos sua dinâmica familiar permitir), pode ser bastante selvagem. Sobretudo se pensarmos que conhecer intimamente alguém significa frequentemente encontrar sua natureza despida da polidez social. Significa encontrar no outro um ser roots, que vive de acordo com instintos básicos de sobrevivência e territorialismo (já tentou disputar um lugar no colchão com o marido esparramado? Então você sabe do que estou falando, espertinha...), que muitas vezes vira bicho ou desperta a fera que existe em nós (com duplo sentido, mas sem Sucrilhos, por favor).
Porém, no meu horizonte de perspectivas não brilha apenas a breguice desse texto o safari vindouro; acredito que minha vida selvagem e íntima tenha tudo para se tornar ainda mais indomável muito em breve, pois eu e marido estamos nos programando para ampliar a família.
Assim, este será meu diário de bordo. Excursões frequentes (não as prometo diárias porque às vezes o clima não permite) into the wild, todas bem-guiadas, embora nem sempre sãs.
Só se lembrem de manter os braços e pernas dentro do veículo, e boa viagem!