quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Drama queen, mas quem não seria?

Ai, gente, vocês desculpam o último post? Tem um Wando dentro de mim, que aflora quando eu sofro. Daí escrevo aqueles textos malucos, cheios de rococós e metáforas pieguinhas. Drama queen. Credo! Meu superego, que edita minhas postagens normais, tem tremeliques nervosos quando releio aquele melodrama barato, mas deixo ali porque, gostando eu (e vocês) ou não, faz parte do processo, faz parte de mim (e eu nunca prometi textos refinados e espetaculres, né? Pode ler aqui do lado, ó ---> só prometi loucurinhas hormonais - e venho cumprindo, tá?).

Dito isto, vou contar direitinho o que houve.

A médica Iemanjá, além de me receitar água, passou uma ultrassonografia para fazer. Saí do consultório, marquei o exame (minha gente, um parêntese: as pessoas andam muito emprenhadeiras, porque era um tal de "senhora, só temos vaga para final de outubro", que francamente! Haja grávida para ultrassonografar!) e fiquei quietinha, esperando para ver a linda formação "colar de pérolas" dos meus ovários. Os dias foram passando e meu corpo parecia se modificar: coliquinhas, mamas sensíveis, pontadinhas no abdômen e até mesmo um gostinho diferente na boca. Eu juro que tentei não me apegar, tentei dar uma de blasé.

Aham. Vai ser blasé querendo engravidar, vai.

Óbvio que eu pensei: TPM ou gravidez? Gravidez ou TPM? E decidi poupar meu rico dinheirinho e aproveitar a ultra para ver se surgia alguma resposta às minhas dúvidas existenciais. Deitei naquela sala gelada, no escurinho (perguntei a mim mesma onde estaria o cobertor para dar aquela cochilada maravilhosa) e veio o médico. Gente, eu sou chegada num médico humanizado. Aliás, eu sou chegada em profissionais humanizados. Mas acho que há uma grande confusão com o conceito, e as pessoas confundem humanização com intimidade. E esse médico que fez minha ultra era um dos confusos. Melhor: ele era uma mistura daquelas pessoas que querem puxar papo no ponto de ônibus com nossos avós tentando mexer no Facebook: lento, catador de milho no teclado e melhor amigo instantâneo. Sabem como é? E, amigo, quando se tem uma mulher, que não sabe se está grávida ou prestes a menstruar, deitada pelada, numa sala gelada e escura e sem a menor possibilidade de você fazer sexo com essa mulher, é melhor não ser lento, catador de milho no teclado ou melhor amigo instantâneo.

Mas o médico não sabia disso. E ele, coitado, foi paciente (e eu também! As máquinas daquela sala são testemunhas!), me explicou onde estava meu útero, meu endométrio e onde deveria estar o saco gestacional. (Amigo, pensei, você pode me dizer que está enxergando o santo sudário aí dentro que eu vou acreditar; para mim são borrões monocromáticos, e nada mais.) Até esse momento do exame eu estava tranquila e verdadeiramente interessada naquele método de ultrassonografia para dummies, afinal a qualquer momento eu poderia ver o que viria ser meu filhote. Mas ele fez uma pausa na movimentação do transdutor, concentrou-se na imagem e falou:

- Está vendo esse pontinho branco?
Ao que eu respondi, ansiosa:
- Sim. (Claro que eu só via um borrão cinzento.)
E ele:
- Se você estivesse grávida, seria aí que encontraríamos o saco gestacional.

Gente, sofri. Eu não alimentava muitas esperanças, mas ainda sobrava alguma expectativa de que eu estivesse grávida. A gente sempre tem esperança, não é mesmo? E aí, aquele médico paciente, metódico e atencioso que iria ver meu saco gestacional e mostrar e explicar cada pedacinho do meu filhote wannabe se transformou em um médico prolixo, lento e perguntador demais que passou a torrar o meu saco nada gestacional e a mostrar e explicar detalhadamente toda a minha anatomia falha:

- Está vendo esse pontinho aqui? Isso é um cisto no seu ovário. E aquele ponto maior ali? É um folículo. Ih, mas olha só, você produziu o óvulo e ele não saiu do folículo...

Oi, moço, queria dizer que eu não posso parir, dar de mamar, apertar e amar um cisto ou um folículo. A gente pode agilizar o processo que eu preciso ir ali no banheiro dar uma choradinha antes de voltar para o trabalho? (Isso eu só pensei, claro.)

E ele continuou ali, explicando, catando milho para escrever C-O-L-O--D-O--Ú-T-E-R-O e outros nomes anatômicos em cima de uma massaroca de cinzas. Enquanto isso, eu só queria terminar tudo, limpar aquele gel nojentinho e ir lamber minhas feridas quietinha - sim, quietinha, porque quase ninguém sabe que estou tentando engravidar.

Bom, para finalizar o meu dia ma-ra-vi-lho-so, à noite, voltando para casa exaurida pelo trabalho e pela desilusão do exame, recebo uma linda cusparada no casaco. É isso mesmo, querido(a) leitor(a), você não leu errado: uma CUSPARADA. Ostra. Escarro. Cuspida. Salivada. No casaco!!! (menos mal, eu acho.) O porcalhão estava no ponto, não me viu passar, virou-se para o lado e: SLAPT. No meu casaco.

Agora, querido(a) leitor(a), me responda: se seu dia tivesse sido tão glamoroso quanto esse meu, você também não escreveria um post drama queen daqueles? Eu escrevi.